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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Do fundo do baú 33 e 1/3


Última parte dessa seção, galera. Estão aí as duas últimas críticas antigas que possuo. E essas são pra fechar com chave de ouro. Quando saí da sala de exibição de "UP - Altas Aventuras", estava extremamente comovido com o filme e, modéstia a parte, consegui fazer uma das minhas melhores e mais inspiradas críticas. Já "Salve Geral" tem todo um significado especial para mim, pois consegui participar da coletiva de imprensa do filme em São Paulo e assistir à pré-estréia exclusiva para convidados na capital paulista. Obrigado, Regina Colon! hehehe... Pois bem, aí estão as críticas dos dois filmes:

Crítica "Up - Altas Aventuras"

“É isso que gosto nos filmes da Disney-Pixar: eles não são só pra crianças” comentava uma amiga minha na saída do cinema. E realmente, “UP – Altas Aventuras” contém alguns temas bem fortes em sua trama, mas que aparecem naturais à história e não são para os menores. Aliás, talvez essas tais tramas passem imperceptíveis à criançada, como morte e esterilidade. Mas isso é só uma pequenina parte de um filme ótimo e divertido que nos emociona e faz rir o tempo todo.

A história começa apresentando o pequeno Carl Fredriksen (Edward Asner no original e Chico Anysio na versão brazuca), um menino sonhador que adora as alturas e conhece a falante Ellie, que tem o mesmo sonho de levar a sua casa para um vale de cachoeiras na América do Sul. Depois de uma vida inteira juntos, Ellie se vai e Carl, já com 78 anos, resolve realizar o sonho de sua amada de levar a casa em uma aventura pelo sul. Assim ele põe o imóvel nos ares com milhões de balões cheios de gás hélio, mas acaba levando junto o jovem escoteiro Russel (Jordan Nagai). Juntos eles vivem várias e boas aventuras na floresta equatorial.

Animações não são, claro, como filmes em live-action, e os animadores da Pixar sabem muito bem disso. Tanto sabem que aproveitam para inserir características de personalidade na própria estrutura física da personagem. É o que acontece com Carl, que aparece, literalmente, quadrado quando velho. Característica essa que é sempre reforçada em várias cenas dele em casa.

O diretor da produção é Pete Docter, o mesmo por trás de “Monstros S.A.” e é fácil perceber por que os dois filmes dele são os mais emocionantes da parceria Disney-Pixar. Docter consegue mexer com assuntos fortes de maneira sensível (como comentei no começo), e envolve os espectadores de maneira espetacular. Talvez esse último fator não seja exclusivo de Docter, mas algo exigido de todos os diretores pela Pixar, o que os leva a um sucesso após o outro.

Ponto a favor também da arte e da trilha sonora do filme (creditadas respectivamente à Ralph Eggleston e Michael Giacchino), que casam perfeitamente mesclando momentos mais tristes, onde as cores são mais frias e a música-tema ganha um tom mais emocionante, e momentos alegres, com cores vibrantes e a mesma música em acordes agitados.

Chico Anysio (assisti dublado!) não escorrega na dublagem, mas também não surpreende. E como a maioria dos filmes com o selo da Pixar tem seu coadjuvante “bobão-carinhoso”, o cachorro Dug assume o posto roubando a cena. Mas igualmente cativantes são o garoto Russel e a ave Kevin (que apesar de não falar nada compreende muito bem o que os outros dizem).

Antes de tudo, “UP – Altas Aventuras” está aí para nos mostrar as belezas que existem nas coisas mais simples da vida e que, uma vida ao lado de quem gostamos e amamos, pode ser a aventura mais maravilhosa de nossa existência.

Crítica "Salve Geral"

É difícil retratar um o caos com sutileza. O diretor Sérgio Rezende (de “Zuzu Angel”) faz isso muito bem em “Salve Geral”, longa escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar. Digo retratar com sutileza pois, apesar de o diretor correr com a narrativa no começo, o filme é sobre uma mulher e seu filho, com o ataque do Primeiro Comando da Capital (o famigerado PCC) como pano de fundo, e não vice-versa.

Na história, Lúcia (Andréa Beltrão) se encontra com problemas financeiros, tendo que baixar o padrão de vida. Seu filho, Rafa (Lee Thalor) não aceita, e em uma noite que sai com um amigo, acaba cometendo um crime e é preso. Encarcerado, o rapaz se envolve com o tal Comando da Capital enquanto sua mãe, desesperada, faz de tudo para tirar o filho da prisão.

Explicando a minha deixa inicial, a narrativa chega a se atropelar um pouco no começo do filme, tudo para mostrar a situação em que se encontram os protagonistas (mãe e filho) e inseri-los naquele mundo carcerário, onde comanda o PCC. Mas nada que atrapalhe muito o filme, que se foca em Lúcia e todas as atitudes que toma em função do filho. E aí sim eu falo do “mostrar o caos com sutileza”. O diretor consegue passar a sensação do caos apenas pela visão de Lúcia e Rafa. Ela enquanto classe média (alta, representada pela irmã, vivida por Cris Couto; e baixa, representada pela própria personagem), e ele enquanto preso participante do movimento. Rezende não precisa mostrar o tumulto forçadamente, a movimentação surge natural de cenas em que Lúcia passa pela rua e as lojas vão se fechando atrás dela, pelo trânsito que ela enfrenta, pela (impressionante) imagem dela andando sozinha pela Avenida Paulista e, principalmente, pelos locutores do rádio que ela tanto ouve a procura de informações sobre o filho.

Outro ponto que é muito característico de Rezende no filme é o excesso de closes que ele dá em rostos, olhos, mãos e armas. Muitas vezes se encaixa perfeitamente, tornando o filme poético e delicado, mas a repetição da técnica se mostra desgastante e imprópria em outras cenas. Porém, o tato do diretor em evitar mostrar mortes diretas é ponto a favor dele (ou jogada de marketing pra diminuir a censura!).

A sempre presente trilha sonora de Miguel Briamonte traz fantásticas músicas instrumentais que norteiam o filme e tentam se mostrar, algumas vezes, natural à vida daquelas pessoas, seja quando Lúcia toca piano ou quando ouve algo em um rádio por perto.

Ponto a favor também da fotografia de Uli Burtin, que nos momentos de mortes se mostra bem escura e, em uma única cena de vida (quando nasce um bebê) traz um branco ofuscante a là “Ensaio sobre a cegueira” colocando os contrapontos formidavelmente.

Beltrão traz Lúcia a vida de maneira excepcional, mostrando uma mulher forte e determinada, contrapondo a personagem Ruiva, vivida também de maneira brilhante por Denise Weinberg, uma advogada corrupta que ajuda o PCC. Aliás, o filme expõe muito bem a oposição entre as duas, claramente antagonistas.

Sérgio Rezende tem uma obra prima nas mãos, que irá se expandir para todo o Brasil devido ao anúncio de escolhido como representante brasileiro para o Oscar. Agora é prestigiar e torcer!

domingo, 8 de agosto de 2010

Crítica de 'A Origem'

Christopher Nolan é genial. O diretor conseguiu criar mais uma obra-prima para inserir no seu currículo. “A Origem” é um filme longo, e nem por isso cansativo. Cheio de ação e mistérios, mas tudo na dose certa.

Nesse novo longa do diretor de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, Leonardo DiCaprio interpreta Cobb, um homem que é contratado para roubar idéias do subconsciente das pessoas. Proibido de voltar aos Estados Unidos, Cobb tem a chance de retornar a seu país e a seus filhos que por lá ficaram com os avós. Para isso, ele terá que fazer exatamente o contrário: inserir uma idéia no subconsciente de um milionário (vivido por Cillian Murphy).

Nolan já provou que gosta de roteiros complexos e “A Origem” não foge a regra. Porém, o diretor e roteirista é um exemplo de quem sabe fazer cinema. Todos os elementos da história têm seu por que de estarem ali. Ellen Page interpreta uma recém integrada à equipe de Cobb, e ela é a fuga do roteirista para explicar para o espectador todo o processo de “entrar” no subconsciente alheio. Durante toda a projeção, Nolan joga pequenas “dicas” para que o espectador compreenda e possa até formular suas próprias hipóteses sobre o final do filme. Além disso, todos os elementos que compõem o clímax já foram apresentados anteriormente, deixando o público familiarizado com a situação e fazendo com que essa surja sem estranhamento. Muito bem amarrada e com a medida certa de ação, drama e pequenas pitadas de humor, a história é uma maravilha à parte nesse filme.


A forte e notável trilha de Hans Zimmer dá o tom certo à projeção, e se assemelha bastante às composições que esse mesmo maestro fez em parceria com James Newton Howard para “O Cavaleiro das Trevas”. Em fato, pude notar algumas cenas bem parecidas com filmes anteriores de Nolan, como uma na qual DiCaprio está conversando com Arthur (Joseph Gordon-Levitt) em um avião. A cena referida me lembrou muito o diálogo de Christian Bale e Michael Caine em “Batman Begins”, em uma mesma situação, mas isso é só mais uma curiosidade.

DiCaprio mostra que está no auge de sua carreira, muito mais maduro, com um personagem que apresenta um visível desenvolvimento durante a projeção. Ellen Page é outro destaque do filme, roubando várias cenas (mas não o foco) como o mais novo braço-direito do protagonista. Já Joseph Gordon-Levitt, que é o parceiro de DiCaprio, não teve um papel com grande desenvolvimento, mas soube mostrar o ótimo ator que é mesmo assim. Além desses atores, o resto do elenco também não desaponta nem um pouco. Ressalvo ainda Marion Cotillard, que faz um papel dúbio de maneira sutil e completa.

Apesar de Christopher Nolan saber muito bem como manter o clima de tensão com sua câmera inquieta, o que merece destaque (e com certeza um Oscar) é a edição. Nolan e o editor Lee Smith fazem um recorte do material gravado de maneira fantástica, dando outro show à parte. Claro que o espetáculo se beneficia muito pelo tema do filme, mas poderia ter dado bem errado se a dupla responsável não soubesse o que estava fazendo.

E assim, o diretor termina mais um dos melhores materiais da sétima arte dos últimos tempos, se preparando para voltar à Gotham City em breve.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Do fundo do Baú 2 - a missão!

Aí estão mais duas críticas antigas que fiz, galera. Dessa vez atacamos de comédias: "Os Normais 2 - A noite mais louca de todas" é o representante tupiniquim da vez, acompanhado do hollywoodiano "Se beber, não case".


Crítica "Se beber, não case"
É um filme engraçado. Definitivamente. Mas as risadas vêm das situações mais bizarras e incríveis (im) possíveis. Bem, vamos começar pela história. Doug (Justin Bartha) vai se casar e decide ir com seus amigos Stu (Ed Helms) e Phil (Bradley Cooper) e o irmão de sua noiva, o louco Alan (Zach Galifianakis) para Las Vegas fazer uma despedida de solteiro. Acontece que os três amigos do noivo acordam no dia seguinte sem a menor idéia do que ocorreu na noite passada e, pior, não sabem nem onde Doug está.

O filme é uma divertida brincadeira de “caça ao tesouro” onde o espectador acompanha junto com os personagens a reconstituição da noite anterior através de pistas. A boa sacada do diretor Todd Phillips (de “Dias Incríveis) é dar algumas pistas falsas e sem grande importância para a história, que ajudam a manter a incerteza sobre onde está o noivo.

Não é um filme com grandes inovações técnicas. Por outro lado, o diretor faz referências a outros estilos de filme o tempo todo como, por exemplo, uma “troca” no meio do deserto, um jogo de cartas em uma cena onde tudo ao redor de um personagem apenas começa a correr menos ele, e até uma cena com alguns números flutuando sobre a cabeça de Alan que me lembrou, se não me engano, “Uma mente brilhante”.

É divertido ver o começo do filme que traz toda uma ambientação de uma comédia romântica envolvendo casamento, até que entrega a trama já aos dois minutos de rolo, quando se descobre que os amigos perderam o noivo e toda a ambientação muda. Aliás, é nessa parte enquanto aparecem os créditos iniciais que mostram vários takes de uma Vegas de dia, não muito atrativa, que contrapõe diretamente com a noite em que os amigos chegam à cidade, que aparenta ser o lugar mais divertido do mundo (bem diferente daquela mostrada anteriormente).

O filme traz muitas menções a cultura pop (de Godzilla à Jonas Brothers) e fatos do nosso mundo (do cometa Haley ao 11 de setembro), o que talvez seja uma tentativa do roteirista de trazer aquela situação que é absurda para a nossa realidade. O diretor também faz isso ao colocar várias músicas bem conhecidas do público, desde “Who let the dogs out”, passando por “Fever” (de Elvis Presley), e indo até a atual “Live Your Life” da cantora Rihanna.

Os personagens são bem definidos, apesar de não serem muito desenvolvidos durante a película. Doug é o amigão. Stu é o certinho. Phil é o fanfarrão. Alan é simplesmente o louco. E enquanto a produção não dá muito espaço ao noivo, consegue desenvolver Stu da maneira mais previsível possível e se confunde um pouco em Phil, que é professor, pai de família, mas consegue se mostrar irresponsável várias vezes. Já com Alan, o filme acerta desde as falas ao ator escolhido. O irmão doido da noiva é dono das melhores frases do filme, que muitas vezes são engraçadas por não fazerem sentido algum, e rouba a cena a todo instante, mesmo que o roteiro ainda tente usá-lo de alívio cômico por ser gordo.

Tirando graça de situações bizarras, sexo e pancadaria, “Se beber, não case!” pode não ser um filme com muito conteúdo e chegando a ser estúpido às vezes (principalmente quando tem que recorrer a tombos para tentar arrancar alguma risada do público), mas é um bom entretenimento pra quem quer ir ao cinema apenas pra rir.


Crítica "Os Normais 2 - A noite mais maluca de todas"
Filmes derivados de seriado têm uma mania irritante e muitas vezes inevitável de parecerem um episódio bem maior da série que os deram origem. Para isso, os roteiristas desse tipo de produção sempre tentam criar uma história diferente daquela mesma linha que se segue no seriado. O primeiro filme dos normais cumpriu essa tarefa muito bem. Enquanto a série mostra a vida dos noivos Rui (Luís Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres), o filme mostra como ambos se conheceram em uma trama louca de casamentos. Já o segundo filme, “Os Normais – A Noite Mais Maluca de Todas”, quase fracassa nesse quesito. Sim, “quase”! Isso porque o final do filme salva o roteiro, “justificando” o porquê da existência dessa produção. Claro que não vou contar o final, mas digamos que deram um desfecho à história de Rui e Vani.

O enredo segue o casal em busca de alguém que os ajude a esquentar a relação, fazendo um ménage à trois. A cena de abertura com Rui e Vani cantando a versão espanhol de “Vive La Vida Loca” já nos fornece boas risadas com a desafinação de ambos e as dancinhas atrapalhadas e caricatas.

Logo depois do título estamos frente a um episódio como outro de “Os Normais”, fator que ainda é reforçado pela presença das mesmas músicas que tocam no seriado. Mas talvez o diretor José Alvaranga Jr. (do primeiro filme e do recente e ótimo “Divã”) tenha o feito de propósito para relembrar, afinal, já faz anos que não vemos o casal na TV. Ele também arrisca alguns planos-sequências em que a câmera entra no carro por um vidro (traseiro ou dianteiro), percorre o carro e sai por outro vidro. Aliás, ele vem seguindo uma tendência muito usada pela maioria dos cineastas ultimamente para “mostrar serviço”, quando faz esses planos, que já estão se tornando clichê. Alvarenga parece inquieto com sua câmera durante todo o filme, fazendo vários travellings (mover a câmera de cima pra baixo ou de um lado por outro com ajuda de aparelhos), alguns até desnecessários.

Assim como no seriado, as piadas vêm das maluquices do casal, sempre envolvendo sexo, e aqui há espaço para referências ao filme original, além de usarem a ambiguidade de palavras (interpretando-as sempre com malícia), principalmente em uma sequência hilária onde tentam conversar com uma francesa. Vale muito a pena destacar a eficácia da divertida cena da banheira, onde a câmera foca diferentes partes de espuma enquanto as personagens que estão ali escondidas falam.

A grande surpresa do filme é mesmo o final, onde temos uma experiência totalmente diferente do que se espera de um filme desses, com um certo drama em tom documental um tanto quanto díspar do resto do filme, apenas servindo a seu propósito de gancho para o desfecho.

No mais, “Os Normais 2” é um filme engraçado que funciona muito bem para os fãs mais nostálgicos das série e que, repito, fecha o arco de histórias de Rui e Vani.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Crítica de 'Salt'

O que esperar de um filme que usa a pergunta “quem é Salt?” para se promover? Pois é exatamente essa pergunta que fica na cabeça do espectador durante toda a projeção de “Salt”, do diretor Phillip Noyce (de “O Colecionador de Ossos”).
Evelyn Salt (Angelina Jolie) é uma agente da CIA que jurou fidelidade ao dever, à honra e ao país. Sua lealdade será testada quando um desertor a acusa de ser uma espiã russa. Salt vai ao trabalho, usando todas suas habilidades e anos de experiência como agente disfarçada para evitar a captura. E aí começa uma caçada à agente para descobrir a verdade quanto às suas intenções.
Bom, já dava pra suspeitar qual seria a ambientação do filme. Assim como todos os filmes de espionagem, há muita correria, tiros, reviravoltas e intrigas. Pois as reviravoltas são o ponto forte desse filme. O bom roteiro de Kurt Wimmer (autor também de “Código de Conduta” e “Equilibrium”) não traz inovação alguma para o gênero, mas realiza muito bem o que se propõe desde o início: martelar a pergunta “quem diabos é essa Salt afinal?” na cabeça do espectador. O texto traz várias revelações durante a projeção, apresentadas cada uma a sua maneira, para não tornar o recurso entediante. Enquanto a primeira reviravolta é mostrada em meio a ação vista por uma câmera trêmula e com cortes rápidos, a segunda já apresenta a ação em câmera lenta, e assim por diante...
Jolie faz uma agente bem dúbia entre seus olhares sexys e expressões indecifráveis. Sua personagem é uma espécie de John McClane com leves toques de Neo. Liev Schreiber também não deixa por menos, se destacando bastante na tela também.
Noyce, porém, peca um pouco nos movimentos frenéticos de sua câmera, que não deixa o espectador mais atento entender exatamente o que está acontecendo. Outro ponto que pode causar certa confusão é o primeiro flashback de Salt, que acontece sem aviso prévio algum.
Com uma boa fotografia feita por Robert Elswit (nada que se destaque ou diferencie dos filmes do gênero), assim como a boa trilha composta por James Newton Howard, “Salt” consegue ser um bom filme, que agrada não só os fãs de filme de espionagem, mas o público em geral.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Do fundo do Baú!

Bom, tenho algumas críticas que fiz há um tempo e gostaria de deixá-las disponíveis na internet, portanto resolvi postá-las aqui no blog. Aí vão duas: uma de "Avatar" e outra de "Lula, o filho do Brasil".  


Crítica de "Avatar"
12 anos de expectativa é muita coisa! Muitas pessoas, assim como eu, podem sair do cinema com aquela sensação de que está faltando alguma coisa depois que assistirem o mais novo filme do diretor James Cameron (de “Titanic”), “Avatar”.
O personagem principal é Jake Sully (Sam Worthington), um fuzileiro naval ferido em combate, paralisado, que vai para Pandora e pode andar novamente em seu Avatar. O rapaz então se encontra no meio de um conflito entre os militares humanos e os Na’vi, que se sentem ameaçados pela expansão da nossa raça em seu planeta. Como um Avatar vivendo em Pandora, ele se apaixona por uma garota Na’vi (Zoe Saldana). Envolvido na cultura e aceito no clã Na’vi, Jake terá que escolher o lado em que ficará nesse conflito.
Confesso que já havia me decepcionado com a história vendo os trailers. Realmente, “Avatar” não tem uma história nada original. Por outro lado, é bem previsível. Posso estar sendo um tanto quanto radical, mas às vezes tinha a impressão de estar vendo uma “Pocahontas” alienígena futurística.
Mas definitivamente este é o único ponto fraco de “Avatar”, que é um show para os olhos. A última vez que me lembro de ter visto cenas tão coloridas foi em “Aconteceu em Woodstock”, de Ang Lee, quando o personagem principal usa LSD. Pois é, Cameron dispara luzes coloridas e fluorescentes para todo lado. Mas isso é bem justificável na mensagem que ele quer passar com o filme.
“Avatar” é uma crítica profunda à destruição da natureza feita pelo homem. Tanto, que não vemos nosso planeta um segundo sequer da projeção e, a única referência que temos, é quando Jake diz que os homens já destruíram uma mãe na Terra (fazendo a alusão à “mãe natureza”) e querem destruir outra. Em tempos de conferência ambiental em Copenhague, o diretor usa de todos os recursos cinematográficos para criticar a sociedade, dizendo que o homem destrói a natureza por ganância e colocando nossa raça como vilã da história.
O jogo de cores e luzes do filme ajuda nessa intenção. Os laboratórios humanos são escuros e com cores frias, enquanto Pandora inteira... bem, a alusão ao LSD que fiz acima define bem. Ponto para Mauro Fiore (diretor de fotografia) e toda a equipe de direção de arte.
As personagens são todas úteis à narrativa. Entramos no filme assim como Jake, sem saber nem conhecer muito sobre aquele universo. Há a bióloga que dá todas as informações necessárias pra se conhecer Pandora, assim como o irritante assistente sabe-tudo que entra no projeto assim como Jake; e o coronel com uma cicatriz no rosto que se define como vilão desde o começo.
O 3D é o grande acerto do filme (e não é pra menos, depois de tanto tempo desenvolvendo a tecnologia para que ficasse o mais perfeito possível). A maravilha vem aos olhos desde as pequenas gotas e insetos que parecem realmente sair da tela, até uma emocionante sequencia de vôo em cima de animais alados.
No geral, “Avatar” é um filme muito bom, só faltou um pouquinho mais de esforço e preocupação com o roteiro.


Crítica de "Lula, o filho do Brasil"

Vou tentar ao máximo desvincular essa crítica da polêmica que envolve esse filme, lançado em ano de eleições presidenciais. Embora alguns fatores do filme sejam evidentemente voltados para intuitos políticos, não é o que pretendo analisar neste texto.
“Lula, o filho do Brasil” é uma cinebiografia do atual presidente da República, Luís Inácio “Lula” da Silva, baseada na obra homônima da jornalista Denise Paraná. A história começa no nascimento do presidente em 1945 e vai até a liderança do sindicato dos metalúrgicos, durante a ditadura militar.
Não me espantaria se o filme chamasse “Um filho de Lindu”, aliás, talvez fosse até mais adequado do que o título original, uma vez que a narrativa se concentra a maior parte do filme em Dona Lindu (interpretada por Glória Pires, de “Se eu fosse você”). Há um grande foco em Lula, claro! Mas o que comprova a importância da mulher na história é o próprio final da produção.
SE NÃO SE IMPORTA EM SABER O FINAL DO FILME, SELECIONE O ESPAÇO  A SEGUIR
O filme termina com a morte de Dona Lindu, enquanto Lula está preso. Ou seja, o roteiro não se preocupa em terminar o arco narrativo da prisão do sindicalista, simplesmente joga frases na tela no pior estilo “o que ocorre depois disso”, próprio desses tipos de produção.
Não li o livro, portanto não posso dizer se foi falha da adaptação ou do texto original.
Entretanto, o filme é muito bonito esteticamente. Fábio Barreto (de “O Quatrilho”) se torna um poeta quando junto de Gustavo Hadba (diretor de fotografia), montando uma série de quadros belíssimos durante toda a história. Barreto traz essa intensificação do cinema-arte, que tem todo um toque ainda mais especial com a trilha instrumental de Antônio Pinto e Jacques Morelembaum, simplesmente maravilhosa, dando o tom certo ao filme. Isso tudo visando que o longa foi feito propositalmente para emocionar e solidarizar o espectador com aquele personagem. O diretor consegue inclusive colocar poucas falas em grande parte da produção, deixando a imagem falar, o que ela o faz e muito bem.
Alguns personagens estão bem construídos (como o pai de Lula, que se despede do cachorro, mas não da família, quando vai para São Paulo), outros nem tanto (Juliana Baroni como Dona Marisa é quase uma figurante em meio à narrativa sindicalista do filme). Mas os astros são Glória Pires como Dona Lindu e o iniciante Rui Ricardo Diaz como Lula em sua fase adulta. O ator constrói um Luís Inácio bem realista e, apesar de o Brasil inteiro saber imitar nosso presidente, faz uma voz igual à de Lula, sem cair no escracho. Os gestos, a entonação e mesmo os erros de concordância durante os discursos ajudam a construir o personagem de forma tão detalhada que realmente impressiona, ainda mais quando Barreto intercala cenas reais de momentos históricos de nosso país com filmagens da produção. Glória Pires faz uma Dona Lindu sempre calma, confiante, batalhadora, firme e determinada. Só faltou santificá-la!
As músicas cantadas, entre os sucessos “Você”, de Tim Maia, “Estúpido Cupido”, de Cely Campelo e “Saudosa Maloca”, dos Demônios da Garoa, ajudam a ambientar a época junto ao ótimo figurino (de Cristina Camargo) e elementos de cena detalhados (do diretor de arte Clóvis Bueno), que inclui um cartaz do Nelson Gonçalves das antigas.
No resumo, apesar de uma narrativa um pouco corrida às vezes (problema da maioria das adaptações de livros), Fábio Barreto constrói uma bela poesia visual em cima da história de Lula. Ou seria da Dona Lindu?



sábado, 31 de julho de 2010

Notícias da semana - 31/07

A Comic-Con (convenção que já foi sobre quadrinhos e hoje é dominada pelas telas, entre cinema e TV) foi a grande sensação da semana, liberando várias informações sobre filmes em produção. Pensei em parar pra comentar algumas notícias que achei interessante (sendo ou não divulgadas na Comic-Con! rsrsrs). Além disso, resolvi selecionar duas notícias para serem a melhor e a mais bizarra da semana. Confiram:


"Segundo pôster animado de Jogos Mortais 3-D"

Você pode ver o cartaz clicando aqui. Bom, primeiramente, por mais que no fundo eu soubesse da existência desse filme, não queria acreditar que era verdade. A série "Jogos Mortais" já deu o que tinha que dar! Eu nem considero a existência dos capítulos 4, 5 e 6. O primeiro filme foi muito bom, o segundo e o terceiro, nem tão bons assim, mas serviu pra satisfazer os fãs. A partir do 4º capítulo, os roteiristas piraram e inventaram uma história extremamente controversa e confusa apenas para continuar o caça-níquel. A série tem tantas reviravoltas que já tornou o recurso banal. Enfim, não dou um tostão para esse filme!


"Teaser trailer e foto de Penélope Cruz em Piratas do Caribe 4"

Óbvio que este é mais um caça-níquel da Disney, mas o conceito parece interessante. É bem provável que não tenha o mesmo potencial da trilogia original, mas ainda assim a personagem de Johnny Depp cativou bastante o público e provou ser merecedor de um filme solo. Penélope Cruz é uma ótima atriz e nunca decepcionou, então o filme tem uma boa expectativa. O teaser liberado foi bem na base do improviso, só para lembrar ao público que o filme ainda está de pé e com a produção em andamento. Queria poder mostrar-lhes o teaser, mas saiu do ar a pedido da Disney, logo deve ser liberado novamente. Em resumo, apenas mostrava o capitão Jack Spearrow, personagem de Depp, conversando com a câmera, avisando que terá aventuras ao lado de uma bela moça de seu passado! Vamos esperar para ver!


"Capitão América na Comic-Con"

Entre declarações do elenco e a exposição do escudo do herói, não foram muitas as novidades sobre o filme, mesmo porque ainda é cedo para falar do chamado Primeiro Vingador. O filme do herói será lançado em julho de 2011. O que me chamou a atenção é que estão todos realmente muito empenhados e dispostos a seguir com o projeto inicial da Marvel Studios de lançar filmes solos de seus vingadores até o filme absoluto do supergrupo. A produção parece estar bem fiel aos quadrinhos e os crossovers entre os filmes são bem empolgantes de se ver na telona! Eu, que sempre gostei mais da DC por motivos óbvios, estou tirando o chapéu para a editora (e agora produtora) do Wolwerine.


"Trailer da ficção científica indie Monsters"

Esta foi uma surpresa boa que tive entre as notícias da semana. O trailer dessa produção independente do diretor Garth Edwards chamou a atenção. O filme parece ser bom, e o júri do Festival de Cannes concorda, uma vez que a produção recebeu ótimas críticas no evento. O filme é tão baixo orçamento, que os efeitos foram criados pelo próprio diretor, que trabalhava com computação gráfica anteriormente. E, pelo trailer, pelo menos, parece não desanimar. Agora é esperar pelo lançamento no Brasil (se for lançado no Brasil!). Na história, alienígenas invadem a Terra, aparecendo em uma região do México, que é isolada em quarentena. Com isso, um jornalista precisa ajudar a filha de seu chefe a chegar na fronteira com os Estados Unidos.






"Vídeo de Thor exibido na Comic-Con vaza na Internet"

A produção de Thor parece também estar fiel ao material original e o vídeo que caiu na rede (mas já foi retirado) parece empolgar aos fãs do herói. Mas só. Eu, particularmente, não me senti muito animado, mas acho que pela história do Thor em si, pois os cenários, a arte, enfim, a produção do filme parece estar impecável. Vamos esperar pra conferir, pois posso me surpreender para melhor quando assistir ao filme. Mas se eu já estava esperando bastante do filme, esse trailer me desanimou um pouco.


"Site dos Vingadores no ar com logo do filme"

Esse longa está chamando a atenção há tempos e cada vez mais. A Marvel já provou que aprendeu a fazer filmes de super-heróis, nada mais natural do que reunir seus maiores ícones em uma produção apenas. E se eu sempre esperei por um filme de supergrupo que fosse bom e épico, esse "Vingadores" está vindo exatamente com esse intuito. Os lançamentos dos filmes solos de seus integrantes estão aumentando a expectativa e pressão em cima da produção que reuni os heróis, o que pode gerar certa decepção quando esta vier a público... ou não!


"Mark Ruffalo como Hulk em Vingadores"

Depois que Edward Norton desistiu da personagem, instalou-se uma espécie de "maldição verde", onde ninguém conseguia ficar com o papel do Gigante Esmeralda por mais de um filme (visto que Eric Bana já havia interpretado o grandão em "Hulk" de Ang Lee). A expectativa pra ver qual seria o ator a viver a personagem no filme do supergrupo era enorme, e não sei se Mark Ruffalo corresponde a essa expectativa toda. Ele é um ótimo ator, isso não se pode negar. Enfim, não tenho uma opinião exata sobre o que esperar do ator para esse papel... Mas, de certa forma, essa notícia me pegou de surpresa.


"Divulgado trailer do Zé Colméia"

Poxa, gente, adoro o Zé Colméia! Mesmo! Foi um personagem marcante na minha infância e achei bem divertido o fato de haver um filme com a personagem. Assim como "Garfield" e "Scooby-Doo", o urso comilão e seu eterno parceiro Catatau virão à vida a partir de computação gráfica, interagindo com atores reais. Apesar da empolgação, creio que, assim como "Garfield", o filme terá uma premissa boba e qualquer, apenas para trazer o urso às telas, o que é um erro fenomenal de estúdios hollywoodianos apressados, que saem comprando direitos autorais por aí afora e não esperam por uma boa história para utilizá-los. Uma pena desperdiçar o ótimo Dan Aykroyd e sua personagem, o Zé Colméia. Quanto a Justin Timberlake fazendo o Catatau... oi?!






"Primeira foto de Pânico 4"

Outra boa notícia. A trilogia original "Pânico" são os maiores e melhores suspenses da atualidade, feitos pelo mestre Wes Craven (quando digo "da atualidade", é em respeito à era Hitchcock!). Foram os filmes dessa série que regraram o gênero a partir de então. A notícia de que um quarto filme (e possivelmente uma nova trilogia) está sendo realizado é de empolgar não só fãs da série, mas do gênero. Melhor ainda é voltar nas mãos de seu criador original. Porém, por regrar o gênero, o formato dos filmes "Pânico" já está um tanto um quanto batido, por isso temos que torcer para que Craven use a volta do assassino mascarado para renovar e, quem sabe, reinventar o suspense mais uma vez. Contudo, se voltar à fórmula antiga, será como "Star Wars": não tão bom quanto o original, mas ainda sim, muito bom!



O MELHOR: "Lanterna Verde"

Este é um dos filmes dos quais mais espero. A produção, a arte, os atores (Ryan Reynolds, Mark Strong...), tudo parece estar indo às mil maravilhas sob direção do excelente Martin Campbell. Além disso, mais que um filme de super-herói, "Lanterna Verde" marca a volta da DC aos bons filmes de seus super-heróis (ou pelo menos assim esperamos). O maior erro da editora de Batman e Superman foi tentar achar uma fórmula para todos os seus longas, mas a Marvel mostrou que, desde que se respeite o material original, é possível fazer ótimos filmes para diferentes públicos. Este longa parece ser a primeira prova da DC de que aprendeu a lição. Vamos esperar para que a história não decepcione.



BIZARRO: "Rihanna vai estrear no cinema em Batalha Naval"

A aspirante a atriz escolheu um ótimo título pra começar, não é?! Posso estar errado (e espero estar), mas filmes derivados de alguns jogos tipo Batalha Naval, The Sims, Jogo da Vida, Banco Imobiliário e seja lá quais mais bizarrices estão produzindo, provavelmente não terão história alguma. É mais uma prova do que comentei lá no Zé Colméia: estúdios apressados que saem comprando direitos autorais a torto e a direito e fazem um roteiro qualquer só pra colocá-los na tela. Suspeito que Rihanna não tenha muito currículo na área para escolher um roteiro bom para começar a carreira de atriz, portanto este argumento estaria excluído. Posso me surpreender com tais filmes, mas enquanto não os vê-los, não vou colocar fé.




quinta-feira, 29 de julho de 2010

Crítica do filme 'Predadores'


Mais um filme produzido pra entreter os amantes de pancadaria e tiros. Sim, porque “Predadores” não se preocupa muito com a história. Não que seja ruim a existência desse tipo de filme, pois ele só comprova que o cinema tem espaço pra todos os tipos de público.
Enfim, nesta nova história com a criatura criada pelos irmãos Jim e John Thomas, um mercenário (interpretado por Adrian Brody) acaba por liderar um grupo de combatentes que, assim como ele, foram simplesmente jogados em um planeta para se tornarem a caça de uma perigosa raça alienígena.
O roteiro é bem fraco e com alguns furos. Naturalmente que o texto feito a quatro mãos por Alex Litvak e Michael Finch não tinha intuito nenhum em desenvolver uma história complexa, apenas precisavam de um argumento qualquer para mostrar um jogo de caça e caçador entre humanos e alienígenas. Pense bem: eles pegaram um personagem já consagrado no meio e simplesmente tiveram que criar cenas de ação para que tais criaturas pudessem caçar humanos. O texto, inclusive, utiliza de uma citação do filme original (se não me engano, pois não assisti a versão com Schwarzenegger ainda), para construir o enredo, em um ato falho e preguiçoso de economizar em falas e partir logo pra ação, afinal, todo mundo já sabe quem são os predadores mesmo! A única “surpresa” que o roteiro tenta guardar para o final, na revelação da verdadeira identidade de uma das personagens, acaba por ser decepcionante, também falha e sem qualquer impacto, por ser demasiadamente previsível.
A trilha sonora de John Debney, a fotografia de Gyula Pados e a movimentação de câmera do diretor Nimród Antal são típicos de filmes do gênero, portanto sem nenhuma surpresa. A câmera correndo junto aos personagens e mostrando vultos das criaturas na primeira metade do filme ajudam a compor o mistério (que, novamente, não é mistério nenhum, já que a figura do Predador já é conhecida).
Adrien Brody faz uma vesão de Rambo com a prepotência de Chuck Norris que não convence muito. Alice Braga e Topher Grace estão bem em seus papéis, nada de muito destaque também. Até que aparece na tela Laurence Fishburne, com seu ar de Morpheus, e aí pensamos “uou, agora o filme vai engrenar”, mas ele passa a uma espécie de Tom Hanks em “Náufrago” que decepciona também.
Citação e homenagem ao primeiro filme a parte, vale avisar para que fique atento à citação de “Scarface”, que não passa de uma pequena homenagem adicional. Enfim, “Predadores” tem apenas o intuito que comentei no começo: divertir aos fãs de ação e pancadaria.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um festival na Cidade Maravilhosa!

Esse papo de "Rio" do Carlos Saldanha me deixou nostálgico. Fiquei com saudades da minha ida ao Rio de Janeiro para o Festival Internacional de Cinema. Então resolvi postar a matéria que fiz do festival aqui novamente (já que ela estava apenas no site do Cinema Paradiso, que já não existe mais).

Uma maravilha de Festival

transNão sei se o Rio de Janeiro continua lindo, pois é a primeira vez que venho para a tal “cidade maravilhosa”. O motivo: Rio de Janeiro Int’l Film Festival, ou simplesmente Festival do Rio, considerado o maior festival de cinema da América Latina. A idéia era permanecer a primeira parte do evento, que começou dia 24 de setembro e promete ir até dia 8 de outubro. A agenda era a seguinte: sexta-feira, dia 25, os filmes “Tokyo!” e “Aconteceu em Woodstock”; sábado, a produção canadense “Eu matei a minha mãe”; o domingo foi reservado para os debates no pavilhão do Festival; segunda-feira era sessão tripla com “Julie & Julia”, “O Segredo de Seus Olhos” e o mais novo de Almodóvar, “Abraços Partidos”; a terça encerraria minha participação no Festival com “Bellini e o Demônio”, seguido de um debate sobre o filme. Pois bem, vamos conferir o que o Rio nos ofereceu.

Sexta-feira, 25/09 – Começa o Festival

Acordei cedo para conhecer um pouco da cidade. Como disse, é a minha primeira visita ao Rio de Janeiro. Andei de metrô e ônibus, mas o que mais se via mesmo eram táxis. Vários! Por todo lugar. Pego condução até a primeira sala de cinema: Estação Vivo Gávea. O filme é “Tokyo!” que, dividido em três episódios, tem direção do coreano Bong Joon Ho, do francês Michel Gondry e do também francês Leos Carax. Três visões de uma mesma cidade unidas.

Ótimo filme. Gondry constrói uma bela metáfora em cima da situação dos japoneses, que vivem em apartamentos muito apertados. “Quanto maior a empresa, menor o apartamento”, diz a personagem que mora em um apartamento minúsculo e depois brinca com o fato de trabalhar em uma empresa pequena. Já Carax não só ataca diretamente a imprensa japonesa sensacionalista, como critica também vários países, na medida em que cada um cria uma versão para a aparição de um misterioso “terrorista” em Tokyo. “Americanos afirmam que ele faz parte da Al Qaeda” é a melhor frase do episódio. Por sua vez, Joon Ho evidencia a individualidade do morador de Tokyo, contando a história de um Hikikomori, denominação daquele que se isola dentro de casa, uma vez que tudo pode ser entregue em domicílio. Além disso, o diretor coloca um robô entregando pizza! Quer crítica mais direta?

A minha primeira sessão contava com poucas pessoas espalhadas pela sala. Provavelmente uma das primeiras do dia e, por conseguinte, do Festival. Além disso o horário não favorecia e “Tokyo!” não foi um dos destaques, apesar de contar com direção do famoso Michel Gondry (de “Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças”). Entretanto, o filme de Ang Lee (de “O Segredo de Brokeback Mountain”), “Aconteceu em Woodstock”, foi um dos mais procurados. Os ingressos para a sessão das 23h30, que acompanhei, se esgotaram às 19h00. A multidão nas portas à espera de alguém que desistisse e vendesse a entrada só aumentava. Tal fato não se deve somente ao prestígio do diretor chinês, mas este foi o filme escolhido para abrir o Festival, sendo um dos dois maiores destaques do mesmo (o segundo é a produção que encerra o evento, “Bastardos Inglórios”). O grupo de garotos à minha frente na fila perdeu uma integrante por conta disso. “Não tem ninguém vendendo ingresso lá fora?”, perguntou a menina à funcionária do local (Estação Espaço de Cinema, em Botafogo). “Olha, hoje já aconteceu de uma pessoa vender o ingresso, quem sabe às vezes acontece novamente?”. Resultado: a menina foi embora tendo que enfrentar um amontoado de pessoas em uma “fila” que ocupava toda área possível dentro do cinema.

Conversando com os garotos restantes do grupo, pergunto se eles acham que o Festival está sendo bem divulgado. “Acho que não” responde um deles. “O pessoal do Rio adora filmes, a maioria só descobre que há o Festival depois que entra no cinema”, ele continua, mas é interrompido pelo colega: “Ah, mas eu vi muita divulgação na internet”, ao que o terceiro complementa, dizendo que “saiu bastante coisa no jornal de hoje”. Discussões à parte, depois de um atraso de 30 minutos, as portas da sala se abrem. É hora de conferir o tão falado filme de Ang Lee.

Ótima escolha para abertura do Festival. O filme foca a diversidade em uma época conturbada ehippie, que ainda traz lembranças da Segunda Grande Guerra. Com vários nomes conhecidos no elenco, todos conseguem ter seu destaque, mas o maior fica com o desconhecido protagonista, Elliot, vivido por Demetri Martin.

Sábado, 26/09 – Folga e estrelas!

Como ninguém é de ferro, não dava pra permanecer um final de semana inteiro só em salas de cinema quando se está no Rio de Janeiro. Sábado fui conhecer o Cristo e as praias. Além disso, havia sessão mais a noite, portanto não seria um dia só de folga. Mas o filme “Eu Matei a Minha Mãe” foi substituído por uma corrida atrás de presenças ilustres no cinema ao lado, afinal não é todo dia que se consegue falar com Ney Latorraca. “[O Festival] é a chance que os cariocas têm de ver o melhor do cinema mundial e do cinema brasileiro também”, diz o ator em entrevista ao Cinema Paradiso, “é importante ver o exercício dos diretores fazendo seus curtas-metragens, [pois eles] têm uma mentalidade nova. É democrático isso e importante para a cidade do Rio de Janeiro”.

Latorraca estava no local para prestigiar o filme que produz, “Vida Vertiginosa”, e mais tarde conferir a produção na qual a atriz Marília Pêra trabalha, “Embarque Imediato”. Outros artistas se encontravam no local, entre eles Paula Bulamarqui, Max Fercondini, Guilherme Berenguer, Bruno de Luca e a mais prestigiada (e de difícil acesso, diga-se de passagem) Marília Pêra. Maldita hora em que deixei a máquina fotográfica em casa com medo da violência da cidade.

Domingo, 27/09 – O pavilhão

Sábado e domingo ofereciam debates de graça no pavilhão do Festival, organizados pelo Rio Market, uma divisão do evento voltada ao público mais específico, que trabalha diretamente com cinema. Produtores, realizadores, roteiristas, estudantes da área, distribuidores, entre outros mais marcaram presença no local. Foi lá que consegui conversar com Marcos Didonet, um dos diretores organizadores do Festival do Rio.

Com 11 anos de história, o evento vem se aprimorando a cada ano. “Com essa perspectiva on-line, temos um feed back grande do público, até na escolha da programação” comenta Didonet. Este ano, cerca de 400 filmes são exibidos em 20 salas, durante 15 dias, para uma algo em torno de 250 a 280 mil pessoas, além de mostras de graça em praças de 20 favelas e parcerias (entre elas uma com o SESC). “O Rio de Janeiro acaba respirando cinema por todos os lados”, conclui Didonet. Ele explica que há 23 mostras, “cada uma busca ou uma estética específica ou um público específico.

Entre elas Didonet destaca a Pocket (“festival de filmes para celular”), Panorama Mundial (“fazemos um coligação com festivais do mundo inteiro”), Expectativa (“a gente garimpa filmes do mundo inteiro de novos diretores”), Midnight Movies (“docult ao trash sempre à meia-noite”), Gay, Docs, Geração (“pra juventude e a criançada”) e, finalmente, a Premier Brasil, que ele define como “a menina dos olhos do Festival”. Essa última é a mostra competitiva do evento, concorrendo ao prêmio Redentor, cada produção em sua categoria. Os filmes (todos brasileiros do mesmo ano), podem ser vistos a preço popular e oferecem debates sobre os mesmos. São os Cine-Encontros, onde o púbico tem oportunidade de discutir o filme que acabou de ver com seus realizadores. “Muitos até voltam para a ilha de edição, dependendo do que se discute”, afirma Didonet.

O evento oferece ainda seminários e discussões sobre 3D, pirataria, o futuro do cinema, e muito mais. “O Festival do Rio viabiliza essa troca de quem está antenado com a indústria do cinema e quem está afim de se aproximar do que de melhor há”, encerra Didonet. O mais interessante e triste, porém, é que o realizador do evento afirmou que 80% dos filmes exibidos não serão distribuídos, oferecendo oportunidades únicas de ver o que se passa no mundo inteiro em termos de cinema.

Depois de me despedir de Didonet, participei do debate “Escrevendo o que o Espectador quer Ver”, que contou com o casseta Cláudio Manoel, o roteirista de novelas Alessandro Marson e o roteirista Cláudio Paiva. Claro que não pude me despedir do pavilhão sem antes conversar com o humorista. “Hoje vou ver ‘O Desinformante’, que eu li o livro e achei legal [...] Já comprei [o ingresso] pela internet e hoje descobri que tenho uma credencial pro cinema”, informa o casseta provocando risos, “tudo que junta gente pra conversar, assistir e se divertir é legal [...], pra mim poderia ter todo mês”.

Segunda-feira, 28/09 – Filme, filme e... Mudança de planos

Como não consigo ficar longe de Hollywood, minha primeira sessão na segunda foi o longa “Julie & Julia”, com Maryl Streep (de “Dúvida”) e Amy Adams (de “Uma noite no Museu 2”). Tentei me preparar, pois o primeiro filme era 12h15 e depois de duas horas de película rodando, teria que sair correndo para conferir a segunda produção do dia às 14h30, para então ter um intervalo um pouco maior e conferir o último (o aguardado Almodóvar) às 19h30.

“Julie & Julia” é baseado no livro homônimo da própria Julie Powell (interpretada por Adams), que venerava a cozinheira Julia Child. A diretora Nora Ephron (de “A Feiticeira”) consegue dar um toque todo especial traçando um paralelo entre a história das duas personagens, principalmente junto com a edição de Richard Marks (de “Espanglês”). Sem contar que Streep está engraçadíssima e super à vontade no papel da cozinheira do século passado.

Quando fui para o segundo filme do dia, “O Segredo de Seus Olhos”, me deparei com uma fila enorme, tão grande quanto a de “Aconteceu em Woodstock”. Entrei na sala e me sentei ao lado de uma senhora que imediatamente levantou-se balbuciando “todo ano é assim! Só porque sou baixinha sempre senta um cabeçudo em minha frente!”. Comecei a rir e conversei com ela. Seu nome é Lia Galdo, ela é paranaense mas mudou-se para o Rio há uns bons anos e disse que sempre confere o Festival, “no mínimo 8 anos!”. A senhora citou o nome de vários filmes que já acompanhara até então. “Acho que o Festival está muito bom esse ano. E gosto muito de filmes latinos!” complementou ela.

O filme começou e tivemos que interromper nossa conversa (mas ela comentava várias cenas comigo durante a exibição). Ah! Vale citar aqui que filme não era legendado, logo a produção do Festival colocou uma pequena segunda tela logo abaixo da maior para projetar uma legenda feita separadamente (o que dificultava ainda mais para que Dona Lia enxergasse).

A produção argentina “O Segredo de Seus Olhos” é uma tragicomédia bem ao estilo novela mexicana: com várias reviravoltas! Chegou um momento em que fiquei confuso com as tantas mudanças de rumo do roteiro, mas no final ele se explica e acaba se mostrando um filme muito bom, apesar de demorar um pouco a engrenar no começo e conter algumas situações pouco críveis (como achar uma pessoa em um estádio de futebol lotado).

Ao sair do cinema, procurei algum lugar para esperar que a última e mais aguardada sessão do dia começasse. Porém, a correria, a falta de alimentação adequada e o sol de matar da Cidade Maravilhosa não me fizeram muito bem. Tive mal estar e, infelizmente (mesmo), abortei a exibição do aclamado filme do diretor espanhol.

Terça-feira, 29/09 – Bellini É um demônio

Frustrado pela perda da última sessão de ontem e animado para conferir um filme da Premier Brasil, fui para o Cine Odeon Petrobrás (na Cinelândia) para conferir “Bellini e o Demônio”, filme baseado no livro homônimo de Tony Bellotto. Conversando com uma jovem, a carioca Luciana Najan, perguntei o que ela estava achando do evento. “Estou achando o Festival mais cheio que o comum”, respondeu ela. Luciana me disse que tinha acompanhado apenas um filme antes do que iríamos assistir a pouco. “Ontem eu vi ‘Doze Jurados e uma Sentença’. Três horas de filme, mas é muito bom!”. Na fila, os funcionários do local distribuíram duas pequenas cédulas com as opções “ótimo”, “bom”, “regular” e “ruim”. Um era referente ao longa que eu já havia previsto assistir, outro citava um curta-metragem que, ao que tudo indicava, iria passar antes de “Bellini”. Abaixo das cédulas vinha escrito: “Participe da escolha do Melhor Longa/Curta-Metragem Ficção do Festival do Rio – Prêmio Redentor – Júri Popular”. Pois é! Ao entrar na sala, uma mulher se dirigiu ao palco para explicar que aquelas cédulas correspondiam à votação que dará o prêmio em dinheiro à produção ganhadora, e que logo após a exibição haveria o debate com os realizadores, o autor do livro, Tony Bellotto, e o protagonista Fábio Assunção.

O curta de nome “Doce Amargo” é muito bom. Simples, trabalha com falas e atores apenas, uma vez que as cenas se concentram apenas nos rostos dos dois personagens e altera somente o ângulo em alguns cortes.

A verdade é que “Bellini e o Demônio” já é o segundo filme da série baseada nos livros do detetive brasileiro Remo Bellini (interpretado por Assunção), e apesar de não ver o primeiro (“Bellini e a Esfinge”), não me pareceu necessário, quando só há uma pequena citação há outra personagem que não aparece nesta película. Enfim, o diretor Marcelo Galvão se perde em sua câmera frenética, que carrega em mãos 99% do filme, a fotografia de Rodrigo Tavares peca pelo excesso, apesar de conseguir algumas belas cenas e o roteiro se perde totalmente no final do filme.

Finalizada a sessão, até gostaria de me dirigir ao debate sobre a produção, mas tinha que pegar ônibus de volta para Bauru (e definitivamente iria me irritar ao tentar debater aquele filme!).

E este foi o final da minha experiência no Rio de Janeiro. O Festival do Rio é uma ótima oportunidade para assistir aos mais variados tipos de filmes (que talvez nunca voltem ao Brasil) e principalmente para quem trabalha com cinema, é uma chance única de conseguir contatos e mais experiência na área. Valeu muito a pena!

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