terça-feira, 10 de agosto de 2010
Do fundo do baú 33 e 1/3
domingo, 8 de agosto de 2010
Crítica de 'A Origem'
Nesse novo longa do diretor de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, Leonardo DiCaprio interpreta Cobb, um homem que é contratado para roubar idéias do subconsciente das pessoas. Proibido de voltar aos Estados Unidos, Cobb tem a chance de retornar a seu país e a seus filhos que por lá ficaram com os avós. Para isso, ele terá que fazer exatamente o contrário: inserir uma idéia no subconsciente de um milionário (vivido por Cillian Murphy).
Nolan já provou que gosta de roteiros complexos e “A Origem” não foge a regra. Porém, o diretor e roteirista é um exemplo de quem sabe fazer cinema. Todos os elementos da história têm seu por que de estarem ali. Ellen Page interpreta uma recém integrada à equipe de Cobb, e ela é a fuga do roteirista para explicar para o espectador todo o processo de “entrar” no subconsciente alheio. Durante toda a projeção, Nolan joga pequenas “dicas” para que o espectador compreenda e possa até formular suas próprias hipóteses sobre o final do filme. Além disso, todos os elementos que compõem o clímax já foram apresentados anteriormente, deixando o público familiarizado com a situação e fazendo com que essa surja sem estranhamento. Muito bem amarrada e com a medida certa de ação, drama e pequenas pitadas de humor, a história é uma maravilha à parte nesse filme.
A forte e notável trilha de Hans Zimmer dá o tom certo à projeção, e se assemelha bastante às composições que esse mesmo maestro fez em parceria com James Newton Howard para “O Cavaleiro das Trevas”. Em fato, pude notar algumas cenas bem parecidas com filmes anteriores de Nolan, como uma na qual DiCaprio está conversando com Arthur (Joseph Gordon-Levitt) em um avião. A cena referida me lembrou muito o diálogo de Christian Bale e Michael Caine em “Batman Begins”, em uma mesma situação, mas isso é só mais uma curiosidade.
DiCaprio mostra que está no auge de sua carreira, muito mais maduro, com um personagem que apresenta um visível desenvolvimento durante a projeção. Ellen Page é outro destaque do filme, roubando várias cenas (mas não o foco) como o mais novo braço-direito do protagonista. Já Joseph Gordon-Levitt, que é o parceiro de DiCaprio, não teve um papel com grande desenvolvimento, mas soube mostrar o ótimo ator que é mesmo assim. Além desses atores, o resto do elenco também não desaponta nem um pouco. Ressalvo ainda Marion Cotillard, que faz um papel dúbio de maneira sutil e completa.
Apesar de Christopher Nolan saber muito bem como manter o clima de tensão com sua câmera inquieta, o que merece destaque (e com certeza um Oscar) é a edição. Nolan e o editor Lee Smith fazem um recorte do material gravado de maneira fantástica, dando outro show à parte. Claro que o espetáculo se beneficia muito pelo tema do filme, mas poderia ter dado bem errado se a dupla responsável não soubesse o que estava fazendo.
E assim, o diretor termina mais um dos melhores materiais da sétima arte dos últimos tempos, se preparando para voltar à Gotham City em breve.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Do fundo do Baú 2 - a missão!
O filme é uma divertida brincadeira de “caça ao tesouro” onde o espectador acompanha junto com os personagens a reconstituição da noite anterior através de pistas. A boa sacada do diretor Todd Phillips (de “Dias Incríveis) é dar algumas pistas falsas e sem grande importância para a história, que ajudam a manter a incerteza sobre onde está o noivo.
Não é um filme com grandes inovações técnicas. Por outro lado, o diretor faz referências a outros estilos de filme o tempo todo como, por exemplo, uma “troca” no meio do deserto, um jogo de cartas em uma cena onde tudo ao redor de um personagem apenas começa a correr menos ele, e até uma cena com alguns números flutuando sobre a cabeça de Alan que me lembrou, se não me engano, “Uma mente brilhante”.
É divertido ver o começo do filme que traz toda uma ambientação de uma comédia romântica envolvendo casamento, até que entrega a trama já aos dois minutos de rolo, quando se descobre que os amigos perderam o noivo e toda a ambientação muda. Aliás, é nessa parte enquanto aparecem os créditos iniciais que mostram vários takes de uma Vegas de dia, não muito atrativa, que contrapõe diretamente com a noite em que os amigos chegam à cidade, que aparenta ser o lugar mais divertido do mundo (bem diferente daquela mostrada anteriormente).
O filme traz muitas menções a cultura pop (de Godzilla à Jonas Brothers) e fatos do nosso mundo (do cometa Haley ao 11 de setembro), o que talvez seja uma tentativa do roteirista de trazer aquela situação que é absurda para a nossa realidade. O diretor também faz isso ao colocar várias músicas bem conhecidas do público, desde “Who let the dogs out”, passando por “Fever” (de Elvis Presley), e indo até a atual “Live Your Life” da cantora Rihanna.
Os personagens são bem definidos, apesar de não serem muito desenvolvidos durante a película. Doug é o amigão. Stu é o certinho. Phil é o fanfarrão. Alan é simplesmente o louco. E enquanto a produção não dá muito espaço ao noivo, consegue desenvolver Stu da maneira mais previsível possível e se confunde um pouco em Phil, que é professor, pai de família, mas consegue se mostrar irresponsável várias vezes. Já com Alan, o filme acerta desde as falas ao ator escolhido. O irmão doido da noiva é dono das melhores frases do filme, que muitas vezes são engraçadas por não fazerem sentido algum, e rouba a cena a todo instante, mesmo que o roteiro ainda tente usá-lo de alívio cômico por ser gordo.
Tirando graça de situações bizarras, sexo e pancadaria, “Se beber, não case!” pode não ser um filme com muito conteúdo e chegando a ser estúpido às vezes (principalmente quando tem que recorrer a tombos para tentar arrancar alguma risada do público), mas é um bom entretenimento pra quem quer ir ao cinema apenas pra rir.
O enredo segue o casal em busca de alguém que os ajude a esquentar a relação, fazendo um ménage à trois. A cena de abertura com Rui e Vani cantando a versão espanhol de “Vive La Vida Loca” já nos fornece boas risadas com a desafinação de ambos e as dancinhas atrapalhadas e caricatas.
Logo depois do título estamos frente a um episódio como outro de “Os Normais”, fator que ainda é reforçado pela presença das mesmas músicas que tocam no seriado. Mas talvez o diretor José Alvaranga Jr. (do primeiro filme e do recente e ótimo “Divã”) tenha o feito de propósito para relembrar, afinal, já faz anos que não vemos o casal na TV. Ele também arrisca alguns planos-sequências em que a câmera entra no carro por um vidro (traseiro ou dianteiro), percorre o carro e sai por outro vidro. Aliás, ele vem seguindo uma tendência muito usada pela maioria dos cineastas ultimamente para “mostrar serviço”, quando faz esses planos, que já estão se tornando clichê. Alvarenga parece inquieto com sua câmera durante todo o filme, fazendo vários travellings (mover a câmera de cima pra baixo ou de um lado por outro com ajuda de aparelhos), alguns até desnecessários.
Assim como no seriado, as piadas vêm das maluquices do casal, sempre envolvendo sexo, e aqui há espaço para referências ao filme original, além de usarem a ambiguidade de palavras (interpretando-as sempre com malícia), principalmente em uma sequência hilária onde tentam conversar com uma francesa. Vale muito a pena destacar a eficácia da divertida cena da banheira, onde a câmera foca diferentes partes de espuma enquanto as personagens que estão ali escondidas falam.
A grande surpresa do filme é mesmo o final, onde temos uma experiência totalmente diferente do que se espera de um filme desses, com um certo drama em tom documental um tanto quanto díspar do resto do filme, apenas servindo a seu propósito de gancho para o desfecho.
No mais, “Os Normais 2” é um filme engraçado que funciona muito bem para os fãs mais nostálgicos das série e que, repito, fecha o arco de histórias de Rui e Vani.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Crítica de 'Salt'
Evelyn Salt (Angelina Jolie) é uma agente da CIA que jurou fidelidade ao dever, à honra e ao país. Sua lealdade será testada quando um desertor a acusa de ser uma espiã russa. Salt vai ao trabalho, usando todas suas habilidades e anos de experiência como agente disfarçada para evitar a captura. E aí começa uma caçada à agente para descobrir a verdade quanto às suas intenções.
Bom, já dava pra suspeitar qual seria a ambientação do filme. Assim como todos os filmes de espionagem, há muita correria, tiros, reviravoltas e intrigas. Pois as reviravoltas são o ponto forte desse filme. O bom roteiro de Kurt Wimmer (autor também de “Código de Conduta” e “Equilibrium”) não traz inovação alguma para o gênero, mas realiza muito bem o que se propõe desde o início: martelar a pergunta “quem diabos é essa Salt afinal?” na cabeça do espectador. O texto traz várias revelações durante a projeção, apresentadas cada uma a sua maneira, para não tornar o recurso entediante. Enquanto a primeira reviravolta é mostrada em meio a ação vista por uma câmera trêmula e com cortes rápidos, a segunda já apresenta a ação em câmera lenta, e assim por diante...
Jolie faz uma agente bem dúbia entre seus olhares sexys e expressões indecifráveis. Sua personagem é uma espécie de John McClane com leves toques de Neo. Liev Schreiber também não deixa por menos, se destacando bastante na tela também.
Noyce, porém, peca um pouco nos movimentos frenéticos de sua câmera, que não deixa o espectador mais atento entender exatamente o que está acontecendo. Outro ponto que pode causar certa confusão é o primeiro flashback de Salt, que acontece sem aviso prévio algum.
Com uma boa fotografia feita por Robert Elswit (nada que se destaque ou diferencie dos filmes do gênero), assim como a boa trilha composta por James Newton Howard, “Salt” consegue ser um bom filme, que agrada não só os fãs de filme de espionagem, mas o público em geral.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Do fundo do Baú!
Crítica de "Lula, o filho do Brasil"
Vou tentar ao máximo desvincular essa crítica da polêmica que envolve esse filme, lançado em ano de eleições presidenciais. Embora alguns fatores do filme sejam evidentemente voltados para intuitos políticos, não é o que pretendo analisar neste texto.
“Lula, o filho do Brasil” é uma cinebiografia do atual presidente da República, Luís Inácio “Lula” da Silva, baseada na obra homônima da jornalista Denise Paraná. A história começa no nascimento do presidente em 1945 e vai até a liderança do sindicato dos metalúrgicos, durante a ditadura militar.
Não me espantaria se o filme chamasse “Um filho de Lindu”, aliás, talvez fosse até mais adequado do que o título original, uma vez que a narrativa se concentra a maior parte do filme em Dona Lindu (interpretada por Glória Pires, de “Se eu fosse você”). Há um grande foco em Lula, claro! Mas o que comprova a importância da mulher na história é o próprio final da produção.
SE NÃO SE IMPORTA EM SABER O FINAL DO FILME, SELECIONE O ESPAÇO A SEGUIR O filme termina com a morte de Dona Lindu, enquanto Lula está preso. Ou seja, o roteiro não se preocupa em terminar o arco narrativo da prisão do sindicalista, simplesmente joga frases na tela no pior estilo “o que ocorre depois disso”, próprio desses tipos de produção.
Não li o livro, portanto não posso dizer se foi falha da adaptação ou do texto original.
Entretanto, o filme é muito bonito esteticamente. Fábio Barreto (de “O Quatrilho”) se torna um poeta quando junto de Gustavo Hadba (diretor de fotografia), montando uma série de quadros belíssimos durante toda a história. Barreto traz essa intensificação do cinema-arte, que tem todo um toque ainda mais especial com a trilha instrumental de Antônio Pinto e Jacques Morelembaum, simplesmente maravilhosa, dando o tom certo ao filme. Isso tudo visando que o longa foi feito propositalmente para emocionar e solidarizar o espectador com aquele personagem. O diretor consegue inclusive colocar poucas falas em grande parte da produção, deixando a imagem falar, o que ela o faz e muito bem.
Alguns personagens estão bem construídos (como o pai de Lula, que se despede do cachorro, mas não da família, quando vai para São Paulo), outros nem tanto (Juliana Baroni como Dona Marisa é quase uma figurante em meio à narrativa sindicalista do filme). Mas os astros são Glória Pires como Dona Lindu e o iniciante Rui Ricardo Diaz como Lula em sua fase adulta. O ator constrói um Luís Inácio bem realista e, apesar de o Brasil inteiro saber imitar nosso presidente, faz uma voz igual à de Lula, sem cair no escracho. Os gestos, a entonação e mesmo os erros de concordância durante os discursos ajudam a construir o personagem de forma tão detalhada que realmente impressiona, ainda mais quando Barreto intercala cenas reais de momentos históricos de nosso país com filmagens da produção. Glória Pires faz uma Dona Lindu sempre calma, confiante, batalhadora, firme e determinada. Só faltou santificá-la!
As músicas cantadas, entre os sucessos “Você”, de Tim Maia, “Estúpido Cupido”, de Cely Campelo e “Saudosa Maloca”, dos Demônios da Garoa, ajudam a ambientar a época junto ao ótimo figurino (de Cristina Camargo) e elementos de cena detalhados (do diretor de arte Clóvis Bueno), que inclui um cartaz do Nelson Gonçalves das antigas.
No resumo, apesar de uma narrativa um pouco corrida às vezes (problema da maioria das adaptações de livros), Fábio Barreto constrói uma bela poesia visual em cima da história de Lula. Ou seria da Dona Lindu?
sábado, 31 de julho de 2010
Notícias da semana - 31/07
"Segundo pôster animado de Jogos Mortais 3-D"
"Teaser trailer e foto de Penélope Cruz em Piratas do Caribe 4"
"Capitão América na Comic-Con"
"Trailer da ficção científica indie Monsters"
"Vídeo de Thor exibido na Comic-Con vaza na Internet"
"Site dos Vingadores no ar com logo do filme"
"Mark Ruffalo como Hulk em Vingadores"
"Divulgado trailer do Zé Colméia"
"Primeira foto de Pânico 4"
O MELHOR: "Lanterna Verde"
BIZARRO: "Rihanna vai estrear no cinema em Batalha Naval"
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Crítica do filme 'Predadores'
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Um festival na Cidade Maravilhosa!
Não sei se o Rio de Janeiro continua lindo, pois é a primeira vez que venho para a tal “cidade maravilhosa”. O motivo: Rio de Janeiro Int’l Film Festival, ou simplesmente Festival do Rio, considerado o maior festival de cinema da América Latina. A idéia era permanecer a primeira parte do evento, que começou dia 24 de setembro e promete ir até dia 8 de outubro. A agenda era a seguinte: sexta-feira, dia 25, os filmes “Tokyo!” e “Aconteceu em Woodstock”; sábado, a produção canadense “Eu matei a minha mãe”; o domingo foi reservado para os debates no pavilhão do Festival; segunda-feira era sessão tripla com “Julie & Julia”, “O Segredo de Seus Olhos” e o mais novo de Almodóvar, “Abraços Partidos”; a terça encerraria minha participação no Festival com “Bellini e o Demônio”, seguido de um debate sobre o filme. Pois bem, vamos conferir o que o Rio nos ofereceu.
Sexta-feira, 25/09 – Começa o Festival
Acordei cedo para conhecer um pouco da cidade. Como disse, é a minha primeira visita ao Rio de Janeiro. Andei de metrô e ônibus, mas o que mais se via mesmo eram táxis. Vários! Por todo lugar. Pego condução até a primeira sala de cinema: Estação Vivo Gávea. O filme é “Tokyo!” que, dividido em três episódios, tem direção do coreano Bong Joon Ho, do francês Michel Gondry e do também francês Leos Carax. Três visões de uma mesma cidade unidas.
Ótimo filme. Gondry constrói uma bela metáfora em cima da situação dos japoneses, que vivem em apartamentos muito apertados. “Quanto maior a empresa, menor o apartamento”, diz a personagem que mora em um apartamento minúsculo e depois brinca com o fato de trabalhar em uma empresa pequena. Já Carax não só ataca diretamente a imprensa japonesa sensacionalista, como critica também vários países, na medida em que cada um cria uma versão para a aparição de um misterioso “terrorista” em Tokyo. “Americanos afirmam que ele faz parte da Al Qaeda” é a melhor frase do episódio. Por sua vez, Joon Ho evidencia a individualidade do morador de Tokyo, contando a história de um Hikikomori, denominação daquele que se isola dentro de casa, uma vez que tudo pode ser entregue em domicílio. Além disso, o diretor coloca um robô entregando pizza! Quer crítica mais direta?
A minha primeira sessão contava com poucas pessoas espalhadas pela sala. Provavelmente uma das primeiras do dia e, por conseguinte, do Festival. Além disso o horário não favorecia e “Tokyo!” não foi um dos destaques, apesar de contar com direção do famoso Michel Gondry (de “Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças”). Entretanto, o filme de Ang Lee (de “O Segredo de Brokeback Mountain”), “Aconteceu em Woodstock”, foi um dos mais procurados. Os ingressos para a sessão das 23h30, que acompanhei, se esgotaram às 19h00. A multidão nas portas à espera de alguém que desistisse e vendesse a entrada só aumentava. Tal fato não se deve somente ao prestígio do diretor chinês, mas este foi o filme escolhido para abrir o Festival, sendo um dos dois maiores destaques do mesmo (o segundo é a produção que encerra o evento, “Bastardos Inglórios”). O grupo de garotos à minha frente na fila perdeu uma integrante por conta disso. “Não tem ninguém vendendo ingresso lá fora?”, perguntou a menina à funcionária do local (Estação Espaço de Cinema, em Botafogo). “Olha, hoje já aconteceu de uma pessoa vender o ingresso, quem sabe às vezes acontece novamente?”. Resultado: a menina foi embora tendo que enfrentar um amontoado de pessoas em uma “fila” que ocupava toda área possível dentro do cinema.
Conversando com os garotos restantes do grupo, pergunto se eles acham que o Festival está sendo bem divulgado. “Acho que não” responde um deles. “O pessoal do Rio adora filmes, a maioria só descobre que há o Festival depois que entra no cinema”, ele continua, mas é interrompido pelo colega: “Ah, mas eu vi muita divulgação na internet”, ao que o terceiro complementa, dizendo que “saiu bastante coisa no jornal de hoje”. Discussões à parte, depois de um atraso de 30 minutos, as portas da sala se abrem. É hora de conferir o tão falado filme de Ang Lee.
Ótima escolha para abertura do Festival. O filme foca a diversidade em uma época conturbada ehippie, que ainda traz lembranças da Segunda Grande Guerra. Com vários nomes conhecidos no elenco, todos conseguem ter seu destaque, mas o maior fica com o desconhecido protagonista, Elliot, vivido por Demetri Martin.
Sábado, 26/09 – Folga e estrelas!
Latorraca estava no local para prestigiar o filme que produz, “Vida Vertiginosa”, e mais tarde conferir a produção na qual a atriz Marília Pêra trabalha, “Embarque Imediato”. Outros artistas se encontravam no local, entre eles Paula Bulamarqui, Max Fercondini, Guilherme Berenguer, Bruno de Luca e a mais prestigiada (e de difícil acesso, diga-se de passagem) Marília Pêra. Maldita hora em que deixei a máquina fotográfica em casa com medo da violência da cidade.
Domingo, 27/09 – O pavilhão
Sábado e domingo ofereciam debates de graça no pavilhão do Festival, organizados pelo Rio Market, uma divisão do evento voltada ao público mais específico, que trabalha diretamente com cinema. Produtores, realizadores, roteiristas, estudantes da área, distribuidores, entre outros mais marcaram presença no local. Foi lá que consegui conversar com Marcos Didonet, um dos diretores organizadores do Festival do Rio.
Com 11 anos de história, o evento vem se aprimorando a cada ano. “Com essa perspectiva on-line, temos um feed back grande do público, até na escolha da programação” comenta Didonet. Este ano, cerca de 400 filmes são exibidos em 20 salas, durante 15 dias, para uma algo em torno de 250 a 280 mil pessoas, além de mostras de graça em praças de 20 favelas e parcerias (entre elas uma com o SESC). “O Rio de Janeiro acaba respirando cinema por todos os lados”, conclui Didonet. Ele explica que há 23 mostras, “cada uma busca ou uma estética específica ou um público específico.
Entre elas Didonet destaca a Pocket (“festival de filmes para celular”), Panorama Mundial (“fazemos um coligação com festivais do mundo inteiro”), Expectativa (“a gente garimpa filmes do mundo inteiro de novos diretores”), Midnight Movies (“docult ao trash sempre à meia-noite”), Gay, Docs, Geração (“pra juventude e a criançada”) e, finalmente, a Premier Brasil, que ele define como “a menina dos olhos do Festival”. Essa última é a mostra competitiva do evento, concorrendo ao prêmio Redentor, cada produção em sua categoria. Os filmes (todos brasileiros do mesmo ano), podem ser vistos a preço popular e oferecem debates sobre os mesmos. São os Cine-Encontros, onde o púbico tem oportunidade de discutir o filme que acabou de ver com seus realizadores. “Muitos até voltam para a ilha de edição, dependendo do que se discute”, afirma Didonet.
O evento oferece ainda seminários e discussões sobre 3D, pirataria, o futuro do cinema, e muito mais. “O Festival do Rio viabiliza essa troca de quem está antenado com a indústria do cinema e quem está afim de se aproximar do que de melhor há”, encerra Didonet. O mais interessante e triste, porém, é que o realizador do evento afirmou que 80% dos filmes exibidos não serão distribuídos, oferecendo oportunidades únicas de ver o que se passa no mundo inteiro em termos de cinema.
Depois de me despedir de Didonet, participei do debate “Escrevendo o que o Espectador quer Ver”, que contou com o casseta Cláudio Manoel, o roteirista de novelas Alessandro Marson e o roteirista Cláudio Paiva. Claro que não pude me despedir do pavilhão sem antes conversar com o humorista. “Hoje vou ver ‘O Desinformante’, que eu li o livro e achei legal [...] Já comprei [o ingresso] pela internet e hoje descobri que tenho uma credencial pro cinema”, informa o casseta provocando risos, “tudo que junta gente pra conversar, assistir e se divertir é legal [...], pra mim poderia ter todo mês”.
Segunda-feira, 28/09 – Filme, filme e... Mudança de planos
Como não consigo ficar longe de Hollywood, minha primeira sessão na segunda foi o longa “Julie & Julia”, com Maryl Streep (de “Dúvida”) e Amy Adams (de “Uma noite no Museu 2”). Tentei me preparar, pois o primeiro filme era 12h15 e depois de duas horas de película rodando, teria que sair correndo para conferir a segunda produção do dia às 14h30, para então ter um intervalo um pouco maior e conferir o último (o aguardado Almodóvar) às 19h30.
“Julie & Julia” é baseado no livro homônimo da própria Julie Powell (interpretada por Adams), que venerava a cozinheira Julia Child. A diretora Nora Ephron (de “A Feiticeira”) consegue dar um toque todo especial traçando um paralelo entre a história das duas personagens, principalmente junto com a edição de Richard Marks (de “Espanglês”). Sem contar que Streep está engraçadíssima e super à vontade no papel da cozinheira do século passado.
Quando fui para o segundo filme do dia, “O Segredo de Seus Olhos”, me deparei com uma fila enorme, tão grande quanto a de “Aconteceu em Woodstock”. Entrei na sala e me sentei ao lado de uma senhora que imediatamente levantou-se balbuciando “todo ano é assim! Só porque sou baixinha sempre senta um cabeçudo em minha frente!”. Comecei a rir e conversei com ela. Seu nome é Lia Galdo, ela é paranaense mas mudou-se para o Rio há uns bons anos e disse que sempre confere o Festival, “no mínimo 8 anos!”. A senhora citou o nome de vários filmes que já acompanhara até então. “Acho que o Festival está muito bom esse ano. E gosto muito de filmes latinos!” complementou ela.
O filme começou e tivemos que interromper nossa conversa (mas ela comentava várias cenas comigo durante a exibição). Ah! Vale citar aqui que filme não era legendado, logo a produção do Festival colocou uma pequena segunda tela logo abaixo da maior para projetar uma legenda feita separadamente (o que dificultava ainda mais para que Dona Lia enxergasse).
A produção argentina “O Segredo de Seus Olhos” é uma tragicomédia bem ao estilo novela mexicana: com várias reviravoltas! Chegou um momento em que fiquei confuso com as tantas mudanças de rumo do roteiro, mas no final ele se explica e acaba se mostrando um filme muito bom, apesar de demorar um pouco a engrenar no começo e conter algumas situações pouco críveis (como achar uma pessoa em um estádio de futebol lotado).
Ao sair do cinema, procurei algum lugar para esperar que a última e mais aguardada sessão do dia começasse. Porém, a correria, a falta de alimentação adequada e o sol de matar da Cidade Maravilhosa não me fizeram muito bem. Tive mal estar e, infelizmente (mesmo), abortei a exibição do aclamado filme do diretor espanhol.
Terça-feira, 29/09 – Bellini É um demônio
Frustrado pela perda da última sessão de ontem e animado para conferir um filme da Premier Brasil, fui para o Cine Odeon Petrobrás (na Cinelândia) para conferir “Bellini e o Demônio”, filme baseado no livro homônimo de Tony Bellotto. Conversando com uma jovem, a carioca Luciana Najan, perguntei o que ela estava achando do evento. “Estou achando o Festival mais cheio que o comum”, respondeu ela. Luciana me disse que tinha acompanhado apenas um filme antes do que iríamos assistir a pouco. “Ontem eu vi ‘Doze Jurados e uma Sentença’. Três horas de filme, mas é muito bom!”. Na fila, os funcionários do local distribuíram duas pequenas cédulas com as opções “ótimo”, “bom”, “regular” e “ruim”. Um era referente ao longa que eu já havia previsto assistir, outro citava um curta-metragem que, ao que tudo indicava, iria passar antes de “Bellini”. Abaixo das cédulas vinha escrito: “Participe da escolha do Melhor Longa/Curta-Metragem Ficção do Festival do Rio – Prêmio Redentor – Júri Popular”. Pois é! Ao entrar na sala, uma mulher se dirigiu ao palco para explicar que aquelas cédulas correspondiam à votação que dará o prêmio em dinheiro à produção ganhadora, e que logo após a exibição haveria o debate com os realizadores, o autor do livro, Tony Bellotto, e o protagonista Fábio Assunção.
O curta de nome “Doce Amargo” é muito bom. Simples, trabalha com falas e atores apenas, uma vez que as cenas se concentram apenas nos rostos dos dois personagens e altera somente o ângulo em alguns cortes.
Finalizada a sessão, até gostaria de me dirigir ao debate sobre a produção, mas tinha que pegar ônibus de volta para Bauru (e definitivamente iria me irritar ao tentar debater aquele filme!).
E este foi o final da minha experiência no Rio de Janeiro. O Festival do Rio é uma ótima oportunidade para assistir aos mais variados tipos de filmes (que talvez nunca voltem ao Brasil) e principalmente para quem trabalha com cinema, é uma chance única de conseguir contatos e mais experiência na área. Valeu muito a pena!