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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Do fundo do baú 33 e 1/3


Última parte dessa seção, galera. Estão aí as duas últimas críticas antigas que possuo. E essas são pra fechar com chave de ouro. Quando saí da sala de exibição de "UP - Altas Aventuras", estava extremamente comovido com o filme e, modéstia a parte, consegui fazer uma das minhas melhores e mais inspiradas críticas. Já "Salve Geral" tem todo um significado especial para mim, pois consegui participar da coletiva de imprensa do filme em São Paulo e assistir à pré-estréia exclusiva para convidados na capital paulista. Obrigado, Regina Colon! hehehe... Pois bem, aí estão as críticas dos dois filmes:

Crítica "Up - Altas Aventuras"

“É isso que gosto nos filmes da Disney-Pixar: eles não são só pra crianças” comentava uma amiga minha na saída do cinema. E realmente, “UP – Altas Aventuras” contém alguns temas bem fortes em sua trama, mas que aparecem naturais à história e não são para os menores. Aliás, talvez essas tais tramas passem imperceptíveis à criançada, como morte e esterilidade. Mas isso é só uma pequenina parte de um filme ótimo e divertido que nos emociona e faz rir o tempo todo.

A história começa apresentando o pequeno Carl Fredriksen (Edward Asner no original e Chico Anysio na versão brazuca), um menino sonhador que adora as alturas e conhece a falante Ellie, que tem o mesmo sonho de levar a sua casa para um vale de cachoeiras na América do Sul. Depois de uma vida inteira juntos, Ellie se vai e Carl, já com 78 anos, resolve realizar o sonho de sua amada de levar a casa em uma aventura pelo sul. Assim ele põe o imóvel nos ares com milhões de balões cheios de gás hélio, mas acaba levando junto o jovem escoteiro Russel (Jordan Nagai). Juntos eles vivem várias e boas aventuras na floresta equatorial.

Animações não são, claro, como filmes em live-action, e os animadores da Pixar sabem muito bem disso. Tanto sabem que aproveitam para inserir características de personalidade na própria estrutura física da personagem. É o que acontece com Carl, que aparece, literalmente, quadrado quando velho. Característica essa que é sempre reforçada em várias cenas dele em casa.

O diretor da produção é Pete Docter, o mesmo por trás de “Monstros S.A.” e é fácil perceber por que os dois filmes dele são os mais emocionantes da parceria Disney-Pixar. Docter consegue mexer com assuntos fortes de maneira sensível (como comentei no começo), e envolve os espectadores de maneira espetacular. Talvez esse último fator não seja exclusivo de Docter, mas algo exigido de todos os diretores pela Pixar, o que os leva a um sucesso após o outro.

Ponto a favor também da arte e da trilha sonora do filme (creditadas respectivamente à Ralph Eggleston e Michael Giacchino), que casam perfeitamente mesclando momentos mais tristes, onde as cores são mais frias e a música-tema ganha um tom mais emocionante, e momentos alegres, com cores vibrantes e a mesma música em acordes agitados.

Chico Anysio (assisti dublado!) não escorrega na dublagem, mas também não surpreende. E como a maioria dos filmes com o selo da Pixar tem seu coadjuvante “bobão-carinhoso”, o cachorro Dug assume o posto roubando a cena. Mas igualmente cativantes são o garoto Russel e a ave Kevin (que apesar de não falar nada compreende muito bem o que os outros dizem).

Antes de tudo, “UP – Altas Aventuras” está aí para nos mostrar as belezas que existem nas coisas mais simples da vida e que, uma vida ao lado de quem gostamos e amamos, pode ser a aventura mais maravilhosa de nossa existência.

Crítica "Salve Geral"

É difícil retratar um o caos com sutileza. O diretor Sérgio Rezende (de “Zuzu Angel”) faz isso muito bem em “Salve Geral”, longa escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar. Digo retratar com sutileza pois, apesar de o diretor correr com a narrativa no começo, o filme é sobre uma mulher e seu filho, com o ataque do Primeiro Comando da Capital (o famigerado PCC) como pano de fundo, e não vice-versa.

Na história, Lúcia (Andréa Beltrão) se encontra com problemas financeiros, tendo que baixar o padrão de vida. Seu filho, Rafa (Lee Thalor) não aceita, e em uma noite que sai com um amigo, acaba cometendo um crime e é preso. Encarcerado, o rapaz se envolve com o tal Comando da Capital enquanto sua mãe, desesperada, faz de tudo para tirar o filho da prisão.

Explicando a minha deixa inicial, a narrativa chega a se atropelar um pouco no começo do filme, tudo para mostrar a situação em que se encontram os protagonistas (mãe e filho) e inseri-los naquele mundo carcerário, onde comanda o PCC. Mas nada que atrapalhe muito o filme, que se foca em Lúcia e todas as atitudes que toma em função do filho. E aí sim eu falo do “mostrar o caos com sutileza”. O diretor consegue passar a sensação do caos apenas pela visão de Lúcia e Rafa. Ela enquanto classe média (alta, representada pela irmã, vivida por Cris Couto; e baixa, representada pela própria personagem), e ele enquanto preso participante do movimento. Rezende não precisa mostrar o tumulto forçadamente, a movimentação surge natural de cenas em que Lúcia passa pela rua e as lojas vão se fechando atrás dela, pelo trânsito que ela enfrenta, pela (impressionante) imagem dela andando sozinha pela Avenida Paulista e, principalmente, pelos locutores do rádio que ela tanto ouve a procura de informações sobre o filho.

Outro ponto que é muito característico de Rezende no filme é o excesso de closes que ele dá em rostos, olhos, mãos e armas. Muitas vezes se encaixa perfeitamente, tornando o filme poético e delicado, mas a repetição da técnica se mostra desgastante e imprópria em outras cenas. Porém, o tato do diretor em evitar mostrar mortes diretas é ponto a favor dele (ou jogada de marketing pra diminuir a censura!).

A sempre presente trilha sonora de Miguel Briamonte traz fantásticas músicas instrumentais que norteiam o filme e tentam se mostrar, algumas vezes, natural à vida daquelas pessoas, seja quando Lúcia toca piano ou quando ouve algo em um rádio por perto.

Ponto a favor também da fotografia de Uli Burtin, que nos momentos de mortes se mostra bem escura e, em uma única cena de vida (quando nasce um bebê) traz um branco ofuscante a là “Ensaio sobre a cegueira” colocando os contrapontos formidavelmente.

Beltrão traz Lúcia a vida de maneira excepcional, mostrando uma mulher forte e determinada, contrapondo a personagem Ruiva, vivida também de maneira brilhante por Denise Weinberg, uma advogada corrupta que ajuda o PCC. Aliás, o filme expõe muito bem a oposição entre as duas, claramente antagonistas.

Sérgio Rezende tem uma obra prima nas mãos, que irá se expandir para todo o Brasil devido ao anúncio de escolhido como representante brasileiro para o Oscar. Agora é prestigiar e torcer!

domingo, 8 de agosto de 2010

Crítica de 'A Origem'

Christopher Nolan é genial. O diretor conseguiu criar mais uma obra-prima para inserir no seu currículo. “A Origem” é um filme longo, e nem por isso cansativo. Cheio de ação e mistérios, mas tudo na dose certa.

Nesse novo longa do diretor de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, Leonardo DiCaprio interpreta Cobb, um homem que é contratado para roubar idéias do subconsciente das pessoas. Proibido de voltar aos Estados Unidos, Cobb tem a chance de retornar a seu país e a seus filhos que por lá ficaram com os avós. Para isso, ele terá que fazer exatamente o contrário: inserir uma idéia no subconsciente de um milionário (vivido por Cillian Murphy).

Nolan já provou que gosta de roteiros complexos e “A Origem” não foge a regra. Porém, o diretor e roteirista é um exemplo de quem sabe fazer cinema. Todos os elementos da história têm seu por que de estarem ali. Ellen Page interpreta uma recém integrada à equipe de Cobb, e ela é a fuga do roteirista para explicar para o espectador todo o processo de “entrar” no subconsciente alheio. Durante toda a projeção, Nolan joga pequenas “dicas” para que o espectador compreenda e possa até formular suas próprias hipóteses sobre o final do filme. Além disso, todos os elementos que compõem o clímax já foram apresentados anteriormente, deixando o público familiarizado com a situação e fazendo com que essa surja sem estranhamento. Muito bem amarrada e com a medida certa de ação, drama e pequenas pitadas de humor, a história é uma maravilha à parte nesse filme.


A forte e notável trilha de Hans Zimmer dá o tom certo à projeção, e se assemelha bastante às composições que esse mesmo maestro fez em parceria com James Newton Howard para “O Cavaleiro das Trevas”. Em fato, pude notar algumas cenas bem parecidas com filmes anteriores de Nolan, como uma na qual DiCaprio está conversando com Arthur (Joseph Gordon-Levitt) em um avião. A cena referida me lembrou muito o diálogo de Christian Bale e Michael Caine em “Batman Begins”, em uma mesma situação, mas isso é só mais uma curiosidade.

DiCaprio mostra que está no auge de sua carreira, muito mais maduro, com um personagem que apresenta um visível desenvolvimento durante a projeção. Ellen Page é outro destaque do filme, roubando várias cenas (mas não o foco) como o mais novo braço-direito do protagonista. Já Joseph Gordon-Levitt, que é o parceiro de DiCaprio, não teve um papel com grande desenvolvimento, mas soube mostrar o ótimo ator que é mesmo assim. Além desses atores, o resto do elenco também não desaponta nem um pouco. Ressalvo ainda Marion Cotillard, que faz um papel dúbio de maneira sutil e completa.

Apesar de Christopher Nolan saber muito bem como manter o clima de tensão com sua câmera inquieta, o que merece destaque (e com certeza um Oscar) é a edição. Nolan e o editor Lee Smith fazem um recorte do material gravado de maneira fantástica, dando outro show à parte. Claro que o espetáculo se beneficia muito pelo tema do filme, mas poderia ter dado bem errado se a dupla responsável não soubesse o que estava fazendo.

E assim, o diretor termina mais um dos melhores materiais da sétima arte dos últimos tempos, se preparando para voltar à Gotham City em breve.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Do fundo do Baú 2 - a missão!

Aí estão mais duas críticas antigas que fiz, galera. Dessa vez atacamos de comédias: "Os Normais 2 - A noite mais louca de todas" é o representante tupiniquim da vez, acompanhado do hollywoodiano "Se beber, não case".


Crítica "Se beber, não case"
É um filme engraçado. Definitivamente. Mas as risadas vêm das situações mais bizarras e incríveis (im) possíveis. Bem, vamos começar pela história. Doug (Justin Bartha) vai se casar e decide ir com seus amigos Stu (Ed Helms) e Phil (Bradley Cooper) e o irmão de sua noiva, o louco Alan (Zach Galifianakis) para Las Vegas fazer uma despedida de solteiro. Acontece que os três amigos do noivo acordam no dia seguinte sem a menor idéia do que ocorreu na noite passada e, pior, não sabem nem onde Doug está.

O filme é uma divertida brincadeira de “caça ao tesouro” onde o espectador acompanha junto com os personagens a reconstituição da noite anterior através de pistas. A boa sacada do diretor Todd Phillips (de “Dias Incríveis) é dar algumas pistas falsas e sem grande importância para a história, que ajudam a manter a incerteza sobre onde está o noivo.

Não é um filme com grandes inovações técnicas. Por outro lado, o diretor faz referências a outros estilos de filme o tempo todo como, por exemplo, uma “troca” no meio do deserto, um jogo de cartas em uma cena onde tudo ao redor de um personagem apenas começa a correr menos ele, e até uma cena com alguns números flutuando sobre a cabeça de Alan que me lembrou, se não me engano, “Uma mente brilhante”.

É divertido ver o começo do filme que traz toda uma ambientação de uma comédia romântica envolvendo casamento, até que entrega a trama já aos dois minutos de rolo, quando se descobre que os amigos perderam o noivo e toda a ambientação muda. Aliás, é nessa parte enquanto aparecem os créditos iniciais que mostram vários takes de uma Vegas de dia, não muito atrativa, que contrapõe diretamente com a noite em que os amigos chegam à cidade, que aparenta ser o lugar mais divertido do mundo (bem diferente daquela mostrada anteriormente).

O filme traz muitas menções a cultura pop (de Godzilla à Jonas Brothers) e fatos do nosso mundo (do cometa Haley ao 11 de setembro), o que talvez seja uma tentativa do roteirista de trazer aquela situação que é absurda para a nossa realidade. O diretor também faz isso ao colocar várias músicas bem conhecidas do público, desde “Who let the dogs out”, passando por “Fever” (de Elvis Presley), e indo até a atual “Live Your Life” da cantora Rihanna.

Os personagens são bem definidos, apesar de não serem muito desenvolvidos durante a película. Doug é o amigão. Stu é o certinho. Phil é o fanfarrão. Alan é simplesmente o louco. E enquanto a produção não dá muito espaço ao noivo, consegue desenvolver Stu da maneira mais previsível possível e se confunde um pouco em Phil, que é professor, pai de família, mas consegue se mostrar irresponsável várias vezes. Já com Alan, o filme acerta desde as falas ao ator escolhido. O irmão doido da noiva é dono das melhores frases do filme, que muitas vezes são engraçadas por não fazerem sentido algum, e rouba a cena a todo instante, mesmo que o roteiro ainda tente usá-lo de alívio cômico por ser gordo.

Tirando graça de situações bizarras, sexo e pancadaria, “Se beber, não case!” pode não ser um filme com muito conteúdo e chegando a ser estúpido às vezes (principalmente quando tem que recorrer a tombos para tentar arrancar alguma risada do público), mas é um bom entretenimento pra quem quer ir ao cinema apenas pra rir.


Crítica "Os Normais 2 - A noite mais maluca de todas"
Filmes derivados de seriado têm uma mania irritante e muitas vezes inevitável de parecerem um episódio bem maior da série que os deram origem. Para isso, os roteiristas desse tipo de produção sempre tentam criar uma história diferente daquela mesma linha que se segue no seriado. O primeiro filme dos normais cumpriu essa tarefa muito bem. Enquanto a série mostra a vida dos noivos Rui (Luís Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres), o filme mostra como ambos se conheceram em uma trama louca de casamentos. Já o segundo filme, “Os Normais – A Noite Mais Maluca de Todas”, quase fracassa nesse quesito. Sim, “quase”! Isso porque o final do filme salva o roteiro, “justificando” o porquê da existência dessa produção. Claro que não vou contar o final, mas digamos que deram um desfecho à história de Rui e Vani.

O enredo segue o casal em busca de alguém que os ajude a esquentar a relação, fazendo um ménage à trois. A cena de abertura com Rui e Vani cantando a versão espanhol de “Vive La Vida Loca” já nos fornece boas risadas com a desafinação de ambos e as dancinhas atrapalhadas e caricatas.

Logo depois do título estamos frente a um episódio como outro de “Os Normais”, fator que ainda é reforçado pela presença das mesmas músicas que tocam no seriado. Mas talvez o diretor José Alvaranga Jr. (do primeiro filme e do recente e ótimo “Divã”) tenha o feito de propósito para relembrar, afinal, já faz anos que não vemos o casal na TV. Ele também arrisca alguns planos-sequências em que a câmera entra no carro por um vidro (traseiro ou dianteiro), percorre o carro e sai por outro vidro. Aliás, ele vem seguindo uma tendência muito usada pela maioria dos cineastas ultimamente para “mostrar serviço”, quando faz esses planos, que já estão se tornando clichê. Alvarenga parece inquieto com sua câmera durante todo o filme, fazendo vários travellings (mover a câmera de cima pra baixo ou de um lado por outro com ajuda de aparelhos), alguns até desnecessários.

Assim como no seriado, as piadas vêm das maluquices do casal, sempre envolvendo sexo, e aqui há espaço para referências ao filme original, além de usarem a ambiguidade de palavras (interpretando-as sempre com malícia), principalmente em uma sequência hilária onde tentam conversar com uma francesa. Vale muito a pena destacar a eficácia da divertida cena da banheira, onde a câmera foca diferentes partes de espuma enquanto as personagens que estão ali escondidas falam.

A grande surpresa do filme é mesmo o final, onde temos uma experiência totalmente diferente do que se espera de um filme desses, com um certo drama em tom documental um tanto quanto díspar do resto do filme, apenas servindo a seu propósito de gancho para o desfecho.

No mais, “Os Normais 2” é um filme engraçado que funciona muito bem para os fãs mais nostálgicos das série e que, repito, fecha o arco de histórias de Rui e Vani.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Crítica de 'Salt'

O que esperar de um filme que usa a pergunta “quem é Salt?” para se promover? Pois é exatamente essa pergunta que fica na cabeça do espectador durante toda a projeção de “Salt”, do diretor Phillip Noyce (de “O Colecionador de Ossos”).
Evelyn Salt (Angelina Jolie) é uma agente da CIA que jurou fidelidade ao dever, à honra e ao país. Sua lealdade será testada quando um desertor a acusa de ser uma espiã russa. Salt vai ao trabalho, usando todas suas habilidades e anos de experiência como agente disfarçada para evitar a captura. E aí começa uma caçada à agente para descobrir a verdade quanto às suas intenções.
Bom, já dava pra suspeitar qual seria a ambientação do filme. Assim como todos os filmes de espionagem, há muita correria, tiros, reviravoltas e intrigas. Pois as reviravoltas são o ponto forte desse filme. O bom roteiro de Kurt Wimmer (autor também de “Código de Conduta” e “Equilibrium”) não traz inovação alguma para o gênero, mas realiza muito bem o que se propõe desde o início: martelar a pergunta “quem diabos é essa Salt afinal?” na cabeça do espectador. O texto traz várias revelações durante a projeção, apresentadas cada uma a sua maneira, para não tornar o recurso entediante. Enquanto a primeira reviravolta é mostrada em meio a ação vista por uma câmera trêmula e com cortes rápidos, a segunda já apresenta a ação em câmera lenta, e assim por diante...
Jolie faz uma agente bem dúbia entre seus olhares sexys e expressões indecifráveis. Sua personagem é uma espécie de John McClane com leves toques de Neo. Liev Schreiber também não deixa por menos, se destacando bastante na tela também.
Noyce, porém, peca um pouco nos movimentos frenéticos de sua câmera, que não deixa o espectador mais atento entender exatamente o que está acontecendo. Outro ponto que pode causar certa confusão é o primeiro flashback de Salt, que acontece sem aviso prévio algum.
Com uma boa fotografia feita por Robert Elswit (nada que se destaque ou diferencie dos filmes do gênero), assim como a boa trilha composta por James Newton Howard, “Salt” consegue ser um bom filme, que agrada não só os fãs de filme de espionagem, mas o público em geral.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Do fundo do Baú!

Bom, tenho algumas críticas que fiz há um tempo e gostaria de deixá-las disponíveis na internet, portanto resolvi postá-las aqui no blog. Aí vão duas: uma de "Avatar" e outra de "Lula, o filho do Brasil".  


Crítica de "Avatar"
12 anos de expectativa é muita coisa! Muitas pessoas, assim como eu, podem sair do cinema com aquela sensação de que está faltando alguma coisa depois que assistirem o mais novo filme do diretor James Cameron (de “Titanic”), “Avatar”.
O personagem principal é Jake Sully (Sam Worthington), um fuzileiro naval ferido em combate, paralisado, que vai para Pandora e pode andar novamente em seu Avatar. O rapaz então se encontra no meio de um conflito entre os militares humanos e os Na’vi, que se sentem ameaçados pela expansão da nossa raça em seu planeta. Como um Avatar vivendo em Pandora, ele se apaixona por uma garota Na’vi (Zoe Saldana). Envolvido na cultura e aceito no clã Na’vi, Jake terá que escolher o lado em que ficará nesse conflito.
Confesso que já havia me decepcionado com a história vendo os trailers. Realmente, “Avatar” não tem uma história nada original. Por outro lado, é bem previsível. Posso estar sendo um tanto quanto radical, mas às vezes tinha a impressão de estar vendo uma “Pocahontas” alienígena futurística.
Mas definitivamente este é o único ponto fraco de “Avatar”, que é um show para os olhos. A última vez que me lembro de ter visto cenas tão coloridas foi em “Aconteceu em Woodstock”, de Ang Lee, quando o personagem principal usa LSD. Pois é, Cameron dispara luzes coloridas e fluorescentes para todo lado. Mas isso é bem justificável na mensagem que ele quer passar com o filme.
“Avatar” é uma crítica profunda à destruição da natureza feita pelo homem. Tanto, que não vemos nosso planeta um segundo sequer da projeção e, a única referência que temos, é quando Jake diz que os homens já destruíram uma mãe na Terra (fazendo a alusão à “mãe natureza”) e querem destruir outra. Em tempos de conferência ambiental em Copenhague, o diretor usa de todos os recursos cinematográficos para criticar a sociedade, dizendo que o homem destrói a natureza por ganância e colocando nossa raça como vilã da história.
O jogo de cores e luzes do filme ajuda nessa intenção. Os laboratórios humanos são escuros e com cores frias, enquanto Pandora inteira... bem, a alusão ao LSD que fiz acima define bem. Ponto para Mauro Fiore (diretor de fotografia) e toda a equipe de direção de arte.
As personagens são todas úteis à narrativa. Entramos no filme assim como Jake, sem saber nem conhecer muito sobre aquele universo. Há a bióloga que dá todas as informações necessárias pra se conhecer Pandora, assim como o irritante assistente sabe-tudo que entra no projeto assim como Jake; e o coronel com uma cicatriz no rosto que se define como vilão desde o começo.
O 3D é o grande acerto do filme (e não é pra menos, depois de tanto tempo desenvolvendo a tecnologia para que ficasse o mais perfeito possível). A maravilha vem aos olhos desde as pequenas gotas e insetos que parecem realmente sair da tela, até uma emocionante sequencia de vôo em cima de animais alados.
No geral, “Avatar” é um filme muito bom, só faltou um pouquinho mais de esforço e preocupação com o roteiro.


Crítica de "Lula, o filho do Brasil"

Vou tentar ao máximo desvincular essa crítica da polêmica que envolve esse filme, lançado em ano de eleições presidenciais. Embora alguns fatores do filme sejam evidentemente voltados para intuitos políticos, não é o que pretendo analisar neste texto.
“Lula, o filho do Brasil” é uma cinebiografia do atual presidente da República, Luís Inácio “Lula” da Silva, baseada na obra homônima da jornalista Denise Paraná. A história começa no nascimento do presidente em 1945 e vai até a liderança do sindicato dos metalúrgicos, durante a ditadura militar.
Não me espantaria se o filme chamasse “Um filho de Lindu”, aliás, talvez fosse até mais adequado do que o título original, uma vez que a narrativa se concentra a maior parte do filme em Dona Lindu (interpretada por Glória Pires, de “Se eu fosse você”). Há um grande foco em Lula, claro! Mas o que comprova a importância da mulher na história é o próprio final da produção.
SE NÃO SE IMPORTA EM SABER O FINAL DO FILME, SELECIONE O ESPAÇO  A SEGUIR
O filme termina com a morte de Dona Lindu, enquanto Lula está preso. Ou seja, o roteiro não se preocupa em terminar o arco narrativo da prisão do sindicalista, simplesmente joga frases na tela no pior estilo “o que ocorre depois disso”, próprio desses tipos de produção.
Não li o livro, portanto não posso dizer se foi falha da adaptação ou do texto original.
Entretanto, o filme é muito bonito esteticamente. Fábio Barreto (de “O Quatrilho”) se torna um poeta quando junto de Gustavo Hadba (diretor de fotografia), montando uma série de quadros belíssimos durante toda a história. Barreto traz essa intensificação do cinema-arte, que tem todo um toque ainda mais especial com a trilha instrumental de Antônio Pinto e Jacques Morelembaum, simplesmente maravilhosa, dando o tom certo ao filme. Isso tudo visando que o longa foi feito propositalmente para emocionar e solidarizar o espectador com aquele personagem. O diretor consegue inclusive colocar poucas falas em grande parte da produção, deixando a imagem falar, o que ela o faz e muito bem.
Alguns personagens estão bem construídos (como o pai de Lula, que se despede do cachorro, mas não da família, quando vai para São Paulo), outros nem tanto (Juliana Baroni como Dona Marisa é quase uma figurante em meio à narrativa sindicalista do filme). Mas os astros são Glória Pires como Dona Lindu e o iniciante Rui Ricardo Diaz como Lula em sua fase adulta. O ator constrói um Luís Inácio bem realista e, apesar de o Brasil inteiro saber imitar nosso presidente, faz uma voz igual à de Lula, sem cair no escracho. Os gestos, a entonação e mesmo os erros de concordância durante os discursos ajudam a construir o personagem de forma tão detalhada que realmente impressiona, ainda mais quando Barreto intercala cenas reais de momentos históricos de nosso país com filmagens da produção. Glória Pires faz uma Dona Lindu sempre calma, confiante, batalhadora, firme e determinada. Só faltou santificá-la!
As músicas cantadas, entre os sucessos “Você”, de Tim Maia, “Estúpido Cupido”, de Cely Campelo e “Saudosa Maloca”, dos Demônios da Garoa, ajudam a ambientar a época junto ao ótimo figurino (de Cristina Camargo) e elementos de cena detalhados (do diretor de arte Clóvis Bueno), que inclui um cartaz do Nelson Gonçalves das antigas.
No resumo, apesar de uma narrativa um pouco corrida às vezes (problema da maioria das adaptações de livros), Fábio Barreto constrói uma bela poesia visual em cima da história de Lula. Ou seria da Dona Lindu?



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