Páginas

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Do fundo do Baú!

Bom, tenho algumas críticas que fiz há um tempo e gostaria de deixá-las disponíveis na internet, portanto resolvi postá-las aqui no blog. Aí vão duas: uma de "Avatar" e outra de "Lula, o filho do Brasil".  


Crítica de "Avatar"
12 anos de expectativa é muita coisa! Muitas pessoas, assim como eu, podem sair do cinema com aquela sensação de que está faltando alguma coisa depois que assistirem o mais novo filme do diretor James Cameron (de “Titanic”), “Avatar”.
O personagem principal é Jake Sully (Sam Worthington), um fuzileiro naval ferido em combate, paralisado, que vai para Pandora e pode andar novamente em seu Avatar. O rapaz então se encontra no meio de um conflito entre os militares humanos e os Na’vi, que se sentem ameaçados pela expansão da nossa raça em seu planeta. Como um Avatar vivendo em Pandora, ele se apaixona por uma garota Na’vi (Zoe Saldana). Envolvido na cultura e aceito no clã Na’vi, Jake terá que escolher o lado em que ficará nesse conflito.
Confesso que já havia me decepcionado com a história vendo os trailers. Realmente, “Avatar” não tem uma história nada original. Por outro lado, é bem previsível. Posso estar sendo um tanto quanto radical, mas às vezes tinha a impressão de estar vendo uma “Pocahontas” alienígena futurística.
Mas definitivamente este é o único ponto fraco de “Avatar”, que é um show para os olhos. A última vez que me lembro de ter visto cenas tão coloridas foi em “Aconteceu em Woodstock”, de Ang Lee, quando o personagem principal usa LSD. Pois é, Cameron dispara luzes coloridas e fluorescentes para todo lado. Mas isso é bem justificável na mensagem que ele quer passar com o filme.
“Avatar” é uma crítica profunda à destruição da natureza feita pelo homem. Tanto, que não vemos nosso planeta um segundo sequer da projeção e, a única referência que temos, é quando Jake diz que os homens já destruíram uma mãe na Terra (fazendo a alusão à “mãe natureza”) e querem destruir outra. Em tempos de conferência ambiental em Copenhague, o diretor usa de todos os recursos cinematográficos para criticar a sociedade, dizendo que o homem destrói a natureza por ganância e colocando nossa raça como vilã da história.
O jogo de cores e luzes do filme ajuda nessa intenção. Os laboratórios humanos são escuros e com cores frias, enquanto Pandora inteira... bem, a alusão ao LSD que fiz acima define bem. Ponto para Mauro Fiore (diretor de fotografia) e toda a equipe de direção de arte.
As personagens são todas úteis à narrativa. Entramos no filme assim como Jake, sem saber nem conhecer muito sobre aquele universo. Há a bióloga que dá todas as informações necessárias pra se conhecer Pandora, assim como o irritante assistente sabe-tudo que entra no projeto assim como Jake; e o coronel com uma cicatriz no rosto que se define como vilão desde o começo.
O 3D é o grande acerto do filme (e não é pra menos, depois de tanto tempo desenvolvendo a tecnologia para que ficasse o mais perfeito possível). A maravilha vem aos olhos desde as pequenas gotas e insetos que parecem realmente sair da tela, até uma emocionante sequencia de vôo em cima de animais alados.
No geral, “Avatar” é um filme muito bom, só faltou um pouquinho mais de esforço e preocupação com o roteiro.


Crítica de "Lula, o filho do Brasil"

Vou tentar ao máximo desvincular essa crítica da polêmica que envolve esse filme, lançado em ano de eleições presidenciais. Embora alguns fatores do filme sejam evidentemente voltados para intuitos políticos, não é o que pretendo analisar neste texto.
“Lula, o filho do Brasil” é uma cinebiografia do atual presidente da República, Luís Inácio “Lula” da Silva, baseada na obra homônima da jornalista Denise Paraná. A história começa no nascimento do presidente em 1945 e vai até a liderança do sindicato dos metalúrgicos, durante a ditadura militar.
Não me espantaria se o filme chamasse “Um filho de Lindu”, aliás, talvez fosse até mais adequado do que o título original, uma vez que a narrativa se concentra a maior parte do filme em Dona Lindu (interpretada por Glória Pires, de “Se eu fosse você”). Há um grande foco em Lula, claro! Mas o que comprova a importância da mulher na história é o próprio final da produção.
SE NÃO SE IMPORTA EM SABER O FINAL DO FILME, SELECIONE O ESPAÇO  A SEGUIR
O filme termina com a morte de Dona Lindu, enquanto Lula está preso. Ou seja, o roteiro não se preocupa em terminar o arco narrativo da prisão do sindicalista, simplesmente joga frases na tela no pior estilo “o que ocorre depois disso”, próprio desses tipos de produção.
Não li o livro, portanto não posso dizer se foi falha da adaptação ou do texto original.
Entretanto, o filme é muito bonito esteticamente. Fábio Barreto (de “O Quatrilho”) se torna um poeta quando junto de Gustavo Hadba (diretor de fotografia), montando uma série de quadros belíssimos durante toda a história. Barreto traz essa intensificação do cinema-arte, que tem todo um toque ainda mais especial com a trilha instrumental de Antônio Pinto e Jacques Morelembaum, simplesmente maravilhosa, dando o tom certo ao filme. Isso tudo visando que o longa foi feito propositalmente para emocionar e solidarizar o espectador com aquele personagem. O diretor consegue inclusive colocar poucas falas em grande parte da produção, deixando a imagem falar, o que ela o faz e muito bem.
Alguns personagens estão bem construídos (como o pai de Lula, que se despede do cachorro, mas não da família, quando vai para São Paulo), outros nem tanto (Juliana Baroni como Dona Marisa é quase uma figurante em meio à narrativa sindicalista do filme). Mas os astros são Glória Pires como Dona Lindu e o iniciante Rui Ricardo Diaz como Lula em sua fase adulta. O ator constrói um Luís Inácio bem realista e, apesar de o Brasil inteiro saber imitar nosso presidente, faz uma voz igual à de Lula, sem cair no escracho. Os gestos, a entonação e mesmo os erros de concordância durante os discursos ajudam a construir o personagem de forma tão detalhada que realmente impressiona, ainda mais quando Barreto intercala cenas reais de momentos históricos de nosso país com filmagens da produção. Glória Pires faz uma Dona Lindu sempre calma, confiante, batalhadora, firme e determinada. Só faltou santificá-la!
As músicas cantadas, entre os sucessos “Você”, de Tim Maia, “Estúpido Cupido”, de Cely Campelo e “Saudosa Maloca”, dos Demônios da Garoa, ajudam a ambientar a época junto ao ótimo figurino (de Cristina Camargo) e elementos de cena detalhados (do diretor de arte Clóvis Bueno), que inclui um cartaz do Nelson Gonçalves das antigas.
No resumo, apesar de uma narrativa um pouco corrida às vezes (problema da maioria das adaptações de livros), Fábio Barreto constrói uma bela poesia visual em cima da história de Lula. Ou seria da Dona Lindu?



Um comentário:

  1. Então, concordo que o filme sobre o Lula foi feito com intenções políticas mesmo. O objetivo foi trazer o Lula para perto do povo e tudo mais. Quanto ao livro, não é a história do livro da Denise Paraná, é baseado nas informações deste livro. Pq lá, a jornalista coloca várias entrevistas com pessoas ligadas ao presidente e com o próprio. Quanto à D. Lindu, todas as pessoas que a conheceram e que deram entrevistas para a jornalista, sempre afirmaram a característica de "santa" dela. Sério! Então, colocar a Lindu como santa é muito mais verdade do que a imagem que eles passam do Lula. O Lula não é santo e eles romantizaram toda a história dele, por ser cinema mesmo. No livro não fica assim e ele é mostrado como um trabalhador normal que viveu o que viveu. Acho que o fato de colocarem a D. Lindu como centro e final da história foi para mostrar de onde o Lula veio, de onde ele tirou a dignidade e coisas assim. Pq a história do que aconteceu depois que ele virou sindicalista e político todo mundo sabe, mas o que aconteceu antes, não. Acho que essa foi a intenção do filme.

    obs: uhulll, passei no blog!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...