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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Análise do filme 'Quero ser John Malkovich' por suas objetivas


Em uma das primeiras colaborações entre o diretor Spike Jonze e o cinematógrafo Lance Acord, o filme “Quero ser John Malkovich” contém uma imersão profunda no consciente e subconsciente da mente humana por meio do texto de Charlie Kaufman. Para materializar os diferentes pontos de vista mostrados no roteiro, Acord utilizou lentes diferentes que dessem percepções visualmente distintas ao espectador.

Durante grande parte do filme, o cinematógrafo utiliza objetivas normais, mostrando uma estrutura narrativa usual para o público e empregada na sua grande maioria dos filmes. Além disso, não é necessária grande profundidade de campo, uma vez que a ação está mais concentrada nos diálogos

Outro ponto que também chamou minha atenção é a constante “câmera na mão”, na qual os realizadores optam por não utilizar uma steady cam em momentos nos quais o filme passa uma certa tensão ou seu protagonista está nervoso e inseguro, fazendo também com que o espectador sinta os efeitos desses sentimentos.

Entretanto, quando os personagens “entram” no corpo de John Malkovich, Acord utiliza lentes grande-angulares, para diferenciar o olhar, que neste ponto utiliza a câmera subjetiva. Junto com a utilização desta lente, os realizadores também colocam uma máscara arredondada na tela, tampando por completo os cantos. Esse efeito ajuda a esconder as partes mais contrastantes da distorção promovida pela grande-angular nos cantos da tela, além de passar a ideia de uma visão por meio dos olhos de uma pessoa (pelo formato arredondado, assim como a íris e a pupila, e também auxilia na ideia de que a visão do ser humano consegue manter um foco em objetos pontuais.

Em um segundo momento, ao simular a lembrança de um chimpanzé, também com a câmera subjetiva, o diretor de fotografia utiliza novamente uma grande-angular, mas abre mão do recurso da máscara nos cantos, deixando bem mais evidente as distorções que acontecem. Acredito que a decisão também proporciona uma interpretação precisa ao espectador: enquanto o chimpanzé está recordando algo do seu próprio ponto de vista, no outro caso, em que a câmera subjetiva é usada para a visão de Malkovich, há outra pessoa dentro de sua consciência. Ou seja, a máscara arredondada nos cantos reforça a ideia de que é alguém observando de dentro de uma “caixa”, com apenas um “furo” para observar o exterior, como se essa “caixa” fosse a cabeça do ator e o “furo” fosse seus olhos. Essa sensação é corroborada pelo áudio abafado durante essas sequências, como se fosse a ressonância da voz dentro do crânio, fortalecendo a sensação do espectador estar dentro de uma caixa.

Desta forma, acredito que a utilização da lente grande-angular foi um ótimo recurso para a narrativa do filme “Quero ser John Malkovich”, não só concedendo à produção um estilo único, como também auxiliando na construção da narrativa e na percepção da história como um todo pelo público.

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