O filme
“Aquarius” me chamou bastante a atenção pela sua fotografia, feita a quatro
mãos por Pedro Sotero e Fabrício Tadeu. A maneira como ela é cuidadosamente
trabalhada e conversa com o espectador é incrível, sendo mais um elemento que
ajuda a conduzir as emoções passadas pelo diretor Kleber Mendonça Filho. A
produção, por si só, já considero como uma linda poesia cinematográfica e
acredito que sua bela fotografia contribui muito para isso, a começar por
vários planos abertos, que mostram a arquitetura do Recife, onde prédios
antigos se tornam pequenos e ficam comprimidos entre arranha-céus modernos.
Na primeira
parte do filme, que se passa nos anos 1970, há uma predominância de um filtro
amarelado na fotografia, o que me remeteu a um estilo mais voltado à sépia,
usada para indicar imagens mais antigas. Esse recurso é muito eficiente porque,
não só estabelece que as primeiras sequências acontecem todas no passado, como
traz um excesso de uma cor mais quente aos olhos do espectador, demonstrando
momentos felizes, que transbordam amor e carinho entre as personagens,
interagindo em família.
Nas cenas das
lembranças de tia Lúcia, um excesso de branco e luzes fortes constroem o tom
certo para o pensamento, destacando apenas as cores dos dois corpos em cena,
que é o ponto central de sua lembrança.
Os takes das
praias trazem ainda mais beleza ao filme (já no tempo presente da história),
com um belo contraste entre cores vibrantes, do verde da vegetação ao amarelo
da areia junto com o verde azulado do mar.
As cenas
dentro do apartamento de Clara são sempre bem iluminadas, respeitando a direção
da luz “natural” que entraria pelo imóvel. Os vários ângulos que mostram planos
dentro e fora do apartamento no mesmo quadro, mostrando situações distintas
acontecendo em ambos os ambientes, junto aos movimentos de câmera bem
construídos, criando planos-sequências de dentro para fora do apartamento e
vice-versa, também me conquistaram.
Uma cena em
especial me chamou a atenção. Clara está beijando um homem dentro de um carro.
Apesar de ele estar sentado no lado do motorista, a cena começa com ele
totalmente inclinado a beijando, ambos no lado do assento do passageiro, onde
uma luz vermelha no fundo predomina, evocando paixão e calor. Ao descobrir que
a personagem de Sônia Braga fez uma cirurgia de mama e perder o interesse nela,
o homem volta à posição do banco do motorista, ficando na penumbra. Essa falta
de iluminação nele reforça que ele perdeu o interesse na personagem e não
compartilha mais o calor e paixão dela, que ficou somente por detrás do banco
do passageiro.
As sequências
dentro do apartamento de Clara sempre trazem cores quentes, bem iluminadas,
demonstrando conforto e acalento em momentos mais intimistas e agradáveis, em
total contraste às cores frias presentes nos corredores escuros e vazios.
Uma outra
sequência também me chamou a atenção. A personagem vê, de dentro do seu
apartamento e com a câmera acompanhando seu olhar, pessoas entrando no prédio.
Conforme o espectador ouve o barulhos de um grupo subindo as escadas e
iniciando uma festa no apartamento acima do pertencente a Clara, a câmera
acompanha o “barulho” enquanto filma as paredes internas do apartamento onde
está.
Em resumo,
esses são alguns pontos que me chamaram muito a atenção e me fizeram apreciar a
cinematografia cuidadosamente construída para o filme “Aquarius”.
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