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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um festival na Cidade Maravilhosa!

Esse papo de "Rio" do Carlos Saldanha me deixou nostálgico. Fiquei com saudades da minha ida ao Rio de Janeiro para o Festival Internacional de Cinema. Então resolvi postar a matéria que fiz do festival aqui novamente (já que ela estava apenas no site do Cinema Paradiso, que já não existe mais).

Uma maravilha de Festival

transNão sei se o Rio de Janeiro continua lindo, pois é a primeira vez que venho para a tal “cidade maravilhosa”. O motivo: Rio de Janeiro Int’l Film Festival, ou simplesmente Festival do Rio, considerado o maior festival de cinema da América Latina. A idéia era permanecer a primeira parte do evento, que começou dia 24 de setembro e promete ir até dia 8 de outubro. A agenda era a seguinte: sexta-feira, dia 25, os filmes “Tokyo!” e “Aconteceu em Woodstock”; sábado, a produção canadense “Eu matei a minha mãe”; o domingo foi reservado para os debates no pavilhão do Festival; segunda-feira era sessão tripla com “Julie & Julia”, “O Segredo de Seus Olhos” e o mais novo de Almodóvar, “Abraços Partidos”; a terça encerraria minha participação no Festival com “Bellini e o Demônio”, seguido de um debate sobre o filme. Pois bem, vamos conferir o que o Rio nos ofereceu.

Sexta-feira, 25/09 – Começa o Festival

Acordei cedo para conhecer um pouco da cidade. Como disse, é a minha primeira visita ao Rio de Janeiro. Andei de metrô e ônibus, mas o que mais se via mesmo eram táxis. Vários! Por todo lugar. Pego condução até a primeira sala de cinema: Estação Vivo Gávea. O filme é “Tokyo!” que, dividido em três episódios, tem direção do coreano Bong Joon Ho, do francês Michel Gondry e do também francês Leos Carax. Três visões de uma mesma cidade unidas.

Ótimo filme. Gondry constrói uma bela metáfora em cima da situação dos japoneses, que vivem em apartamentos muito apertados. “Quanto maior a empresa, menor o apartamento”, diz a personagem que mora em um apartamento minúsculo e depois brinca com o fato de trabalhar em uma empresa pequena. Já Carax não só ataca diretamente a imprensa japonesa sensacionalista, como critica também vários países, na medida em que cada um cria uma versão para a aparição de um misterioso “terrorista” em Tokyo. “Americanos afirmam que ele faz parte da Al Qaeda” é a melhor frase do episódio. Por sua vez, Joon Ho evidencia a individualidade do morador de Tokyo, contando a história de um Hikikomori, denominação daquele que se isola dentro de casa, uma vez que tudo pode ser entregue em domicílio. Além disso, o diretor coloca um robô entregando pizza! Quer crítica mais direta?

A minha primeira sessão contava com poucas pessoas espalhadas pela sala. Provavelmente uma das primeiras do dia e, por conseguinte, do Festival. Além disso o horário não favorecia e “Tokyo!” não foi um dos destaques, apesar de contar com direção do famoso Michel Gondry (de “Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças”). Entretanto, o filme de Ang Lee (de “O Segredo de Brokeback Mountain”), “Aconteceu em Woodstock”, foi um dos mais procurados. Os ingressos para a sessão das 23h30, que acompanhei, se esgotaram às 19h00. A multidão nas portas à espera de alguém que desistisse e vendesse a entrada só aumentava. Tal fato não se deve somente ao prestígio do diretor chinês, mas este foi o filme escolhido para abrir o Festival, sendo um dos dois maiores destaques do mesmo (o segundo é a produção que encerra o evento, “Bastardos Inglórios”). O grupo de garotos à minha frente na fila perdeu uma integrante por conta disso. “Não tem ninguém vendendo ingresso lá fora?”, perguntou a menina à funcionária do local (Estação Espaço de Cinema, em Botafogo). “Olha, hoje já aconteceu de uma pessoa vender o ingresso, quem sabe às vezes acontece novamente?”. Resultado: a menina foi embora tendo que enfrentar um amontoado de pessoas em uma “fila” que ocupava toda área possível dentro do cinema.

Conversando com os garotos restantes do grupo, pergunto se eles acham que o Festival está sendo bem divulgado. “Acho que não” responde um deles. “O pessoal do Rio adora filmes, a maioria só descobre que há o Festival depois que entra no cinema”, ele continua, mas é interrompido pelo colega: “Ah, mas eu vi muita divulgação na internet”, ao que o terceiro complementa, dizendo que “saiu bastante coisa no jornal de hoje”. Discussões à parte, depois de um atraso de 30 minutos, as portas da sala se abrem. É hora de conferir o tão falado filme de Ang Lee.

Ótima escolha para abertura do Festival. O filme foca a diversidade em uma época conturbada ehippie, que ainda traz lembranças da Segunda Grande Guerra. Com vários nomes conhecidos no elenco, todos conseguem ter seu destaque, mas o maior fica com o desconhecido protagonista, Elliot, vivido por Demetri Martin.

Sábado, 26/09 – Folga e estrelas!

Como ninguém é de ferro, não dava pra permanecer um final de semana inteiro só em salas de cinema quando se está no Rio de Janeiro. Sábado fui conhecer o Cristo e as praias. Além disso, havia sessão mais a noite, portanto não seria um dia só de folga. Mas o filme “Eu Matei a Minha Mãe” foi substituído por uma corrida atrás de presenças ilustres no cinema ao lado, afinal não é todo dia que se consegue falar com Ney Latorraca. “[O Festival] é a chance que os cariocas têm de ver o melhor do cinema mundial e do cinema brasileiro também”, diz o ator em entrevista ao Cinema Paradiso, “é importante ver o exercício dos diretores fazendo seus curtas-metragens, [pois eles] têm uma mentalidade nova. É democrático isso e importante para a cidade do Rio de Janeiro”.

Latorraca estava no local para prestigiar o filme que produz, “Vida Vertiginosa”, e mais tarde conferir a produção na qual a atriz Marília Pêra trabalha, “Embarque Imediato”. Outros artistas se encontravam no local, entre eles Paula Bulamarqui, Max Fercondini, Guilherme Berenguer, Bruno de Luca e a mais prestigiada (e de difícil acesso, diga-se de passagem) Marília Pêra. Maldita hora em que deixei a máquina fotográfica em casa com medo da violência da cidade.

Domingo, 27/09 – O pavilhão

Sábado e domingo ofereciam debates de graça no pavilhão do Festival, organizados pelo Rio Market, uma divisão do evento voltada ao público mais específico, que trabalha diretamente com cinema. Produtores, realizadores, roteiristas, estudantes da área, distribuidores, entre outros mais marcaram presença no local. Foi lá que consegui conversar com Marcos Didonet, um dos diretores organizadores do Festival do Rio.

Com 11 anos de história, o evento vem se aprimorando a cada ano. “Com essa perspectiva on-line, temos um feed back grande do público, até na escolha da programação” comenta Didonet. Este ano, cerca de 400 filmes são exibidos em 20 salas, durante 15 dias, para uma algo em torno de 250 a 280 mil pessoas, além de mostras de graça em praças de 20 favelas e parcerias (entre elas uma com o SESC). “O Rio de Janeiro acaba respirando cinema por todos os lados”, conclui Didonet. Ele explica que há 23 mostras, “cada uma busca ou uma estética específica ou um público específico.

Entre elas Didonet destaca a Pocket (“festival de filmes para celular”), Panorama Mundial (“fazemos um coligação com festivais do mundo inteiro”), Expectativa (“a gente garimpa filmes do mundo inteiro de novos diretores”), Midnight Movies (“docult ao trash sempre à meia-noite”), Gay, Docs, Geração (“pra juventude e a criançada”) e, finalmente, a Premier Brasil, que ele define como “a menina dos olhos do Festival”. Essa última é a mostra competitiva do evento, concorrendo ao prêmio Redentor, cada produção em sua categoria. Os filmes (todos brasileiros do mesmo ano), podem ser vistos a preço popular e oferecem debates sobre os mesmos. São os Cine-Encontros, onde o púbico tem oportunidade de discutir o filme que acabou de ver com seus realizadores. “Muitos até voltam para a ilha de edição, dependendo do que se discute”, afirma Didonet.

O evento oferece ainda seminários e discussões sobre 3D, pirataria, o futuro do cinema, e muito mais. “O Festival do Rio viabiliza essa troca de quem está antenado com a indústria do cinema e quem está afim de se aproximar do que de melhor há”, encerra Didonet. O mais interessante e triste, porém, é que o realizador do evento afirmou que 80% dos filmes exibidos não serão distribuídos, oferecendo oportunidades únicas de ver o que se passa no mundo inteiro em termos de cinema.

Depois de me despedir de Didonet, participei do debate “Escrevendo o que o Espectador quer Ver”, que contou com o casseta Cláudio Manoel, o roteirista de novelas Alessandro Marson e o roteirista Cláudio Paiva. Claro que não pude me despedir do pavilhão sem antes conversar com o humorista. “Hoje vou ver ‘O Desinformante’, que eu li o livro e achei legal [...] Já comprei [o ingresso] pela internet e hoje descobri que tenho uma credencial pro cinema”, informa o casseta provocando risos, “tudo que junta gente pra conversar, assistir e se divertir é legal [...], pra mim poderia ter todo mês”.

Segunda-feira, 28/09 – Filme, filme e... Mudança de planos

Como não consigo ficar longe de Hollywood, minha primeira sessão na segunda foi o longa “Julie & Julia”, com Maryl Streep (de “Dúvida”) e Amy Adams (de “Uma noite no Museu 2”). Tentei me preparar, pois o primeiro filme era 12h15 e depois de duas horas de película rodando, teria que sair correndo para conferir a segunda produção do dia às 14h30, para então ter um intervalo um pouco maior e conferir o último (o aguardado Almodóvar) às 19h30.

“Julie & Julia” é baseado no livro homônimo da própria Julie Powell (interpretada por Adams), que venerava a cozinheira Julia Child. A diretora Nora Ephron (de “A Feiticeira”) consegue dar um toque todo especial traçando um paralelo entre a história das duas personagens, principalmente junto com a edição de Richard Marks (de “Espanglês”). Sem contar que Streep está engraçadíssima e super à vontade no papel da cozinheira do século passado.

Quando fui para o segundo filme do dia, “O Segredo de Seus Olhos”, me deparei com uma fila enorme, tão grande quanto a de “Aconteceu em Woodstock”. Entrei na sala e me sentei ao lado de uma senhora que imediatamente levantou-se balbuciando “todo ano é assim! Só porque sou baixinha sempre senta um cabeçudo em minha frente!”. Comecei a rir e conversei com ela. Seu nome é Lia Galdo, ela é paranaense mas mudou-se para o Rio há uns bons anos e disse que sempre confere o Festival, “no mínimo 8 anos!”. A senhora citou o nome de vários filmes que já acompanhara até então. “Acho que o Festival está muito bom esse ano. E gosto muito de filmes latinos!” complementou ela.

O filme começou e tivemos que interromper nossa conversa (mas ela comentava várias cenas comigo durante a exibição). Ah! Vale citar aqui que filme não era legendado, logo a produção do Festival colocou uma pequena segunda tela logo abaixo da maior para projetar uma legenda feita separadamente (o que dificultava ainda mais para que Dona Lia enxergasse).

A produção argentina “O Segredo de Seus Olhos” é uma tragicomédia bem ao estilo novela mexicana: com várias reviravoltas! Chegou um momento em que fiquei confuso com as tantas mudanças de rumo do roteiro, mas no final ele se explica e acaba se mostrando um filme muito bom, apesar de demorar um pouco a engrenar no começo e conter algumas situações pouco críveis (como achar uma pessoa em um estádio de futebol lotado).

Ao sair do cinema, procurei algum lugar para esperar que a última e mais aguardada sessão do dia começasse. Porém, a correria, a falta de alimentação adequada e o sol de matar da Cidade Maravilhosa não me fizeram muito bem. Tive mal estar e, infelizmente (mesmo), abortei a exibição do aclamado filme do diretor espanhol.

Terça-feira, 29/09 – Bellini É um demônio

Frustrado pela perda da última sessão de ontem e animado para conferir um filme da Premier Brasil, fui para o Cine Odeon Petrobrás (na Cinelândia) para conferir “Bellini e o Demônio”, filme baseado no livro homônimo de Tony Bellotto. Conversando com uma jovem, a carioca Luciana Najan, perguntei o que ela estava achando do evento. “Estou achando o Festival mais cheio que o comum”, respondeu ela. Luciana me disse que tinha acompanhado apenas um filme antes do que iríamos assistir a pouco. “Ontem eu vi ‘Doze Jurados e uma Sentença’. Três horas de filme, mas é muito bom!”. Na fila, os funcionários do local distribuíram duas pequenas cédulas com as opções “ótimo”, “bom”, “regular” e “ruim”. Um era referente ao longa que eu já havia previsto assistir, outro citava um curta-metragem que, ao que tudo indicava, iria passar antes de “Bellini”. Abaixo das cédulas vinha escrito: “Participe da escolha do Melhor Longa/Curta-Metragem Ficção do Festival do Rio – Prêmio Redentor – Júri Popular”. Pois é! Ao entrar na sala, uma mulher se dirigiu ao palco para explicar que aquelas cédulas correspondiam à votação que dará o prêmio em dinheiro à produção ganhadora, e que logo após a exibição haveria o debate com os realizadores, o autor do livro, Tony Bellotto, e o protagonista Fábio Assunção.

O curta de nome “Doce Amargo” é muito bom. Simples, trabalha com falas e atores apenas, uma vez que as cenas se concentram apenas nos rostos dos dois personagens e altera somente o ângulo em alguns cortes.

A verdade é que “Bellini e o Demônio” já é o segundo filme da série baseada nos livros do detetive brasileiro Remo Bellini (interpretado por Assunção), e apesar de não ver o primeiro (“Bellini e a Esfinge”), não me pareceu necessário, quando só há uma pequena citação há outra personagem que não aparece nesta película. Enfim, o diretor Marcelo Galvão se perde em sua câmera frenética, que carrega em mãos 99% do filme, a fotografia de Rodrigo Tavares peca pelo excesso, apesar de conseguir algumas belas cenas e o roteiro se perde totalmente no final do filme.

Finalizada a sessão, até gostaria de me dirigir ao debate sobre a produção, mas tinha que pegar ônibus de volta para Bauru (e definitivamente iria me irritar ao tentar debater aquele filme!).

E este foi o final da minha experiência no Rio de Janeiro. O Festival do Rio é uma ótima oportunidade para assistir aos mais variados tipos de filmes (que talvez nunca voltem ao Brasil) e principalmente para quem trabalha com cinema, é uma chance única de conseguir contatos e mais experiência na área. Valeu muito a pena!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Let's go to Rio!

Carlos Saldanha, brasileiro que co-dirigiu "A Era do Gelo" e comandou as duas sequências, está filmando um novo projeto com a Blue Sky (produtora da série de filmes do esquilinho Scrat). Saldanha conseguiu uma bela influência na produtora e, adivinhem onde se passa a nova aventura do diretor?! Bem, o nome já diz tudo!
Anne Hathaway (a Rainha Branca de "Alice no País das Maravilhas") e Neil Patrick Harris (o Barney da série "How I Met Your Mother") fazem parte do elenco de dubladores. Parece que Rodrigo Santoro também está dublando um personagem do filme. Confira o trailer:




É incrível o nível em que as animações chegaram hoje. Talvez a maioria não perceba devido a naturalidade com a qual essa evolução aconteceu, mas basta assistir ao primeiro "A Era do Gelo" e compará-lo ao terceiro filme da série para notar essas diferenças. Textura, naturalidade de movimentos, entre vários outros aspectos mais. Esse "Rio" do Saldanha parece ser o auge da Blue Sky, em sua melhor e mais produtiva fase. Pelo menos o trailer já demonstra todo o cuidado da produção na reprodução dos movimentos dos animais e como isso acaba soando muito natural no filme. A versão computadorizada do Rio de Janeiro também não desanima em nada.
Agora é só esperar para o lançamento no ano que vem.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Apenas o fim

Terceira e última contribuição à revista FRAME:

Crítica
Apenas finalizando com chave de ouro
Não é a toa que Apenas o Fim foi tão homenageado em festivais e pela crítica. É mais uma prova de que um bom roteiro é a base essencial para um bom filme. A produção do iniciante Matheus Souza mostra, com uma delicadeza imensa e regada a diálogos com menções ao mundo pop, o último encontro de um casal de namorados que vão se separar. Aliás, a projeção inteira mostra a conversa final entre eles, que tem referências o tempo todo, desde o mais clássico de Star Wars, passando por menções a ícones pop dos anos 90, como Power Rangers, Cavaleiros do Zodíaco, Tartarugas Ninja e Backstreet Boys , chegando até a atualidade com Orkut, o filme A Bússola de Ouro e citando até o site Omelete. O diretor abusa dos planos longos, mas de maneira não cansativa, pois a maioria desses são feitos enquanto os namorados caminham e conversam, sempre em uma dinâmica diferente com a câmera. E o recurso de intercalar cenas do passado do casal em preto e branco foi muito bem colocado, fazendo a monocromia remeter a tempos antigos. Texto ótimo, trilha bem casada com imagem, o diretor usa até referências metalinguísticas quando os namorados passam pela gravação do filme de um tal de Matheus! Um ótimo filme que, apesar de usar a conversa como estrutura, possui uma essência emocional que é sutilmente colocada e perceptiva.

Matéria
Apenas o fim
Diretor iniciante é homenageado e ganha prêmio em seu primeiro filme. Com apenas 20 anos de idade, Matheus Souza, então estudante de cinema da PUC no Rio de Janeiro, recebeu uma Menção Honrosa no Festival do Rio (evento internacional de cinema que acontece anualmente na Cidade Maravilhosa), além do prêmio de melhor filme pelo júri popular por Apenas o Fim. Parece incrível, não? Mas essas honrarias foram muito bem entregues, de acordo com o público que acompanhou a história de um casal prestes a se separar. É simples: ela chega para ele e diz “Preciso ir. Quero algo novo da minha vida. Podemos fazer sexo até eu ir ou conversar”. Para que não subisse a restrição etária da produção, eles passam uma hora e vinte minutos conversando sobre vários temas relacionados a si mesmos e à cultura pop. E aí as referências abordam desde boy bands à Star Wars e Orkut, entre He-Man, Pokémon, Power Rangers e muito mais.
“Comecei a escrever acho que em Junho de 2007. Filmamos em Janeiro de 2008” comenta Matheus em entrevista ao blog Judão, da MTV. Além de diretor, o rapaz também escreveu o roteiro e todas as referências pop são de sua própria experiência de vida. Foram 11 dias de filmagem com o dinheiro de uma rifa de whisky como capital inicial. Em outra entrevista, dessa vez ao blog Super, da Abril, Matheus fala sobre a produção de Apenas o Fim. “Eu sempre fui super apaixonado por cinema. Desde o dia que eu vi ‘A Bela e a Fera’, eu sabia que queria fazer isso. Mas era difícil, porque eu estava no terceiro período da faculdade e longa é uma coisa que só o pessoal dos períodos mais avançados faz” comenta o diretor estreante. “Foi então que eu tive essa ideia meio maluca de convencer as pessoas a fazer um filme comigo, um longa possível. Eu peguei várias referências de filmes que eu gosto muito, com bastante diálogo, poucos personagens. Eu sempre gostei muito de diálogos. E foi assim” completa Matheus.
Apenas o Fim ganhou o Brasil, passou a ser cultuado por fãs do cinema nacional e respeitado até por aqueles que nem valorizam tanto as obras brasileiras. Com todo o sucesso, o diretor já pensa no futuro. “Eu tenho uns três roteiros de longas meio que prontos. Em diferentes níveis de produção. Tem um que é megalomaníaco, outro que é no nível Apenas o Fim de produção e outro que é meio termo” comenta Matheus. Mas parece que o jovem também está ligeiramente aflito quanto a seu próximo trabalho. “É muito difícil escolher o segundo filme. É aquele que vai acabar dando razão pra quem falou bem ou pra quem falou mal de mim” finaliza ele.





terça-feira, 8 de junho de 2010

Em Paris



Segunda matéria para a FRAME:

Crítica
A sutil tristeza de Paris
Filmes franceses são ousados, diferentes e belos. Sempre belos. Afinal , o que mais se pode esperar de produções que tem a cidade mais romântica do mundo como pano de fundo? Apesar de uma temática pesada de conflitos familiares, Em Paris não se deixa entregar à melancolia, e retrata com sensibilidade o relacionamento dos irmãos em uma fase difícil de depressão de um deles. O diretor e roteirista Christophe Honoré ousa ao colocar nus frontais que, embora pudesse haver outra maneira de demonstrar isso, ajudam na definição da personalidade de Jonathan, interpretado por um Louis Garrel um tanto quanto caricato, que se apresenta como narrador da história e se dá o direito de interrompê-la, recontá-la e até interagir diretamente com o espectador. Reforçam essa metalinguística os cortes de quadros sem preocupação em continuidade do diretor e algumas narrações em off (fator esse que, apesar de divertido, atrapalha um pouco por lembrar ao espectador que ele está no cinema e tirá-lo da imersão por alguns minutos). A cidade está sempre de fundo e tem boa parte mostrada no filme e a trilha sonora composta majoritariamente por um piano acompanhado de sax e violão de vez em quando, dá o toque final de uma obra parisiense de primeira.



Matéria
O atual Nouvelle Vague
Um filme de relacionamentos. Esse é Dans Paris, ou como foi traduzido ao vir em festivais para o Brasil, Em Paris. A história lançada em 2006 na França e 2007 no Brasil traz Paul, interpretado por Romain Duris, que ao entrar em depressão depois de finalizar um relacionamento, volta a morar com o pai e o irmão, Jonathan, vivido por Louis Garrel, um jovem bon vivant. O filme se concentra na relação dos dois irmãos, mas mostra outros vários conflitos familiares, entre pais separados porque a mãe fugiu com outro e uma irmã que morreu aos 17 anos de idade. Tudo isso, apesar dos temas pesados, sem melancolia no produto final. O diretor Christophe Honoré, fã assumido do Nouvelle Vague, traz para sua obra mais uma pitada da vertente do cinema francês.
É o terceiro longa do diretor francês, no qual ele pega emprestado alguns cortes e monólogos de François Truffaut e Godard, mostrando ainda mais evidentemente sua paixão pelo Nouvelle Vague. Honoré gostou tanto do trabalho de Louis Garrel quando fizeram a produção Ma Mère (sem tradução oficial para o Brasil), que o convidou para participar desse e de mais três filmes até então: As Canções de Amor, A Bela Junie, e Não Minha Filha, Você Não Irá Dançar. Com Romain Duris, o diretor havia trabalhado também em 17 fois Cécile Cassard (também sem tradução oficial. “Meu primeiro desejo foi filmar novamente com esses dois atores que já tinham atuado em meus filmes anteriores. E oferecer a eles papéis que permitissem uma abordagem nova”, comentou Honoré em entrevista à Folha de S. Paulo. “Ao longo dos filmes, vou percebendo que, para mim, a família é o verdadeiro lugar de minhas histórias. E o que me interessa é observar como os sentimentos circulam dentro da família”, ele completa.
Filho do cineasta Philippe Garrel (diretor de “A Fronteira...” e “Amantes Constantes”), Louis trabalha bastante com o pai, além de Honoré. Também entrevistado pela Folha, o jovem ator comenta como é trabalhar com os diretores. “Acho meu pai um gênio. Ele acessa o cinema a um só tempo como pintor e poeta. É muito emocionante, belo e inspirador ver um poeta pintor que faz filmes. Já Christophe Honoré é impulsionado pela literatura”, comenta Garrel.
Nada como uma sessão de cinema francês atual com um toque de Nouvelle Vague. É a França ganhando o mundo com um cinema muito bem apresentável.

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