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quarta-feira, 26 de julho de 2023

Crítica: "Oppenheimer"

O diretor Christopher Nolan retorna às telonas com “Oppenheimer”, uma cinebiografia impactante e bombástica (com o perdão do trocadilho), filmada em IMAX, que chega para competir nos cinemas com a produção mais oposta possível: "Barbie – o filme".

A história de "Oppenheimer" é inspirada no livro biográfico de sucesso "Prometeu Americano: A História de J. Robert Oppenheimer", escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin,. Situado durante a Segunda Guerra Mundial, o filme segue a jornada de J. Robert Oppenheimer (interpretado por Cillian Murphy), um físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de Los Alamos durante o Projeto Manhattan - uma missão para conceber e construir as primeiras bombas atômicas. A trama se desenrola acompanhando o físico e um grupo de outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear, que acabou por causar as trágicas consequências em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945. Além do ator que interpreta o protagonista, o elenco é composto também por Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Gary Oldman, Jack Quaid, Gustaf Skarsgård, Rami Malek e Kenneth Branagh.

Cillian Murphy entrega um protagonista profundo e denso.

Não é surpresa que o próprio Nolan tenha escrito o roteiro, adaptando a obra literária, uma vez que o filme já começa definindo para o espectador que este acompanhará a história em duas linhas temporais, paralelamente, e o que as diferenciará será a fotografia, uma em preto e branco, outra colorida. Este recurso é praticamente o mesmo utilizado em um de seus primeiros filmes, “Amnésia”, que foi responsável inclusive por catapultar sua carreira para Hollywood. Mas é fato que Nolan sabe muito bem utilizar este artifício e conduzir a história, inclusive entrelaçando as linhas narrativas para que se completem. Há ainda a história dentro da história, no melhor estilo “A Origem”, mas, novamente, nada que deixe a narrativa confusa, o diretor já sabe usar seus recursos com maestria. No entanto, no ímpeto de sua empolgação com a história e na ânsia por não cortar sequências, Nolan acaba se alongando um pouco mais do que poderia no terceiro ato, mas nada que tire o brilho do filme.

Robert Downey Jr. rouba a cena em "Oppenheimer".

A construção da narrativa da carreira de J. Robert Oppenheimer, de mero estudante do doutorado, passando para professor e depois líder do projeto que construiria a primeira bomba atômica, é muito bem elaborada. Enquanto o primeiro ato do filme mostra mais da vida pregressa do protagonista e sua intimidade, Nolan consegue construir junto ao espectador sua própria bomba-relógio no segundo ato, estruturando uma tensão constante que vai aumentando junto com a dos personagens, conforme a bomba atômica fica mais perto de “ser criada”. Mesmo sabendo do final que os livros de História contam, é impossível não sentir o estresse e a angústia crescente que a narrativa vai formulando nos personagens e, consequentemente, no espectador.

O diretor Christopher Nolan dirige seu protagonista.

A fotografia do filme, feita pelo holandês Hoyte Van Hoytema, parceiro de Nolan em suas três últimas produções (“Tenet”, “Dunkirk” e “Interestelar”), segue o mesmo estilo de tons frios e cores escuras das parcerias pregressas com o diretor, e tem seu auge nas imagens em preto e branco, que trazem uma sensação de recorte histórico, além de serem muito bem utilizadas com a iluminação cênica.

As atuações completam a ótima qualidade do filme, com Cillian Murphy entregando todas as emoções do físico J. Robert Oppenheimer por meio de um olhar penetrante e perturbador, que tranpassa ao público seus temores, orgulhos e os pensamentos rápidos que inundam a mente do protagonista. Outras atuações marcantes que sempre roubam a cena quando aparecem ficam por conta de Robert Downey Jr., Emily Blunt e Florence Pugh.

No mais, "Oppenheimer" é uma excelente biografia que se aventura pela vida e pelo psicológico do homem que ajudou a criar a bomba atômica, provocando reflexões sobre ética e moral, em um filme muito bem executado e que deve levar uma boa leva de prêmios na próxima temporada.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Crítica: “Guardiões da Galáxia Vol. 3”

É desafiador fazer um filme de equipe, mas se tem alguém em Hollywood que já provou que é capaz de cumprir o desafio e torná-lo um sucesso foi o produtor e diretor James Gun, que assina o roteiro e a direção da trilogia “Guardiões da Galáxia” da Marvel e de “O Esquadrão Suicida” da rival, DC.

Em “Guardiões da Galáxia Vol. 3”, o grupo de desajustados está de volta com Peter Quill (Chris Pratt) tentando superar a perda de Gamora (Zoe Saldana), após os eventos de “Vingadores: Guerra Infinita”, e uma profunda viagem ao passado de Rocket (Bradley Cooper). Desta vez, os Guardiões partem em uma missão para salvar não só a galáxia, mas também a própria equipe.

Como a sinopse já entrega, o filme gira praticamente em torno do personagem de Bradley Cooper. Conhecemos todo o passado do guaxinim membro da equipe e sua história de vida não só é desvendada, como todo o desenvolvimento de Rocket iniciado no primeiro filme tem seu ciclo concluído e encerrado de uma maneira envolvente e eficiente. Cooper brilha na dublagem ao lado de Linda Cardellini, que aqui dubla a lontra Lylla (integrante do passado de Rocket), mas também já atuou no Universo Marvel como a esposa do Gavião Arqueiro.


Apesar do ótimo desempenho de Cris Pratt, que já está mais que à vontade no papel do Senhor das Estrelas, seu personagem tem menos espaço para evolução, apesar de mais tempo de tela. Ainda assim, Peter Quill consegue registrar um progresso em sua história pessoal durante a projeção. Já os demais personagens cumprem seus papéis no filme enquanto alívios cômicos, suportes e membros da equipe que realmente têm um carinho entre si, mas seus desenvolvimentos são resumidos a poucas frases soltas por entre os 180 minutos de filme, tendo pouquíssimo avanço nesse aspecto. Aliás, o roteiro parece se arrastar por alguns momentos e até se contradizer em relação à premissa do filme, ao seu final, mas não deixa de trazer emoção e passar a união que há entre a equipe.


A tão aguardada participação do Adam Warlock de Will Poulter (de “Midsommar - O Mal Não Espera a Noite”), anunciada na cena pós-créditos de “Guardiões da Galáxia Vol. 2”, fica a desejar. O personagem é um incômodo constante à trama principal, sem um propósito claro para contribuir com a história. A sensação é que não havia lugar para ele na narrativa que James Gun queria contar, mas o roteirista teve que incluir porque foi uma promessa do filme anterior, apagando totalmente o talento do jovem ator que poderia ter contribuído muito mais para a produção. O Alto Evolucionário de Chukwudi Iwuji (da série “Pacificador”) é mais um que entra para a galeria da Marvel de vilões caricatos, excêntricos e esquecíveis deste universo, dando espaço para os Guardiões brilharem.

O tempo de comédia de James Gun funciona muito bem em seus roteiros, sabendo encaixar as piadas em momentos de descontração, apesar de este ser o filme mais dramático da trilogia dos Guardiões da Galáxia. A fotografia de Henry Braham (de “O Esquadrão Suicida”) está bem inspirada e junto com a equipe de efeitos especiais (que trabalhou arduamente aqui, entregando cenários e personagens realistas e incríveis), traz cenas de encher os olhos, que vão do belíssimo ao grotesco. No entanto, são nas sequências de ação que a dupla Braham e Gun acertam a mão em cheio, com coreografias bem ensaiadas, algumas com tomadas mais longas e noções de espaço e localização bem definidos, sempre em sincronia com a música, trazendo um espetáculo visual para quem está assistindo. Aliás, as músicas para o setlist do filme são mais lentas, remetendo ao tom em geral, e já não são tão marcantes quanto seus antecessores, mas cumprem seus papeis da mesma forma como já acostumamos nesta trilogia, e com uma pitada de nostalgia no final que acalenta o coração.


No mais, “Guardiões da Galáxia Vol 3” é um filme que traz emoção, é uma boa diversão, promete deixar um “quentinho no coração” dos fãs após sair da sala de cinema, mostrando a conclusão da saga da trupe de defensores do universo de maneira satisfatória e o final da participação de James Gun na colaboração com a Marvel, uma vez que o diretor está partindo para o gerenciamento do universo cinematográfico da rival, a DC.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Crítica ‘Coringa’



        A nova empreitada do diretor Todd Phillips (de “Se beber, não case”) traz às telas do cinema o arqui-inimigo do Batman em uma total reinvenção e uma história inédita no cinema e nas HQs. “Coringa” chegou ao público após vencer o Leão de Ouro no Festival de Veneza, ganhar as graças dos críticos e também se envolver em polêmicas devido à temática violenta.

        A produção conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix, de “Ela”), que trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens no metrô e uma série de acontecimentos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen, de, veja só, “Batman: o cavaleiro das trevas ressurge”) é seu maior representante.

        O filme traz uma imersão profunda na mente do personagem. O público observa toda a história pela visão de Arthur, consequentemente encarando a sociedade de Gotham City por meio de seus olhos, criando uma empatia imediata com o personagem. É essa empatia que faz com que o espectador acompanhe e compreenda toda a trajetória que fez com que Fleck se torne o Coringa.  A produção é um grande estudo de personagem de 2h que culmina na criação do vilão em sua faceta mais sombria. O mergulho na consciência do de Fleck é tão intenso, que o roteiro brinca com a dualidade da realidade vivida por ele, um homem doente, em vários momentos. Nada é certo de fato, o que também representa um eco da versão das HQs do vilão, que não tem uma origem definida.

       A fotografia de Lawrence Sher (de “Godzilla II: rei dos monstros”) trabalha uma paleta de cores mais escuras, como o tema do filme pede, mesmo em momentos mais coloridos, e a trilha sonora instrumental de Hildur Guðnadóttir (de “Sicario: dia de soldado”) enche os ouvidos com a angústia do personagem, trazendo um casamento perfeito entre imagem e som. Inclusive, a Gotham City criada por Phillips e pelo cenografista Mark Friedberg (de "O espetacular Homem-Aranha 2 - A ameaça de Electro") se apresenta como um metrópole obscura e cada vez mais à beira do caos.

         Joaquin Phoenix está brilhante, trazendo várias facetas diferentes de um mesmo Coringa, todas colaborando para a evolução do personagem até encontrar seu verdadeiro “eu”. O ator transmite a ingenuidade de um homem otimista e todas as etapas de seu desenvolvimento, até chegar à ameaça de um vilão sanguinário. É possível notar sua entrega tanto emocional quanto fisicamente, uma vez que sua magreza contribui para o aspecto doentio do personagem. Uma das cenas iniciais mostra Arthur na janela de um ônibus olhando triste para uma cidade iluminada pelo sol. Já ao final da projeção, uma sequência muito parecida mostra um contraponto absoluto da cena citada antes, na qual podemos constatar toda a evolução que o personagem sofreu.

       A direção de Phillips é certeira ao dar liberdade a Phoenix para criar seu Coringa em frente à câmera, enquanto capta suas expressões e gestos em detalhes cruciais para o público sentir o personagem.

      “Coringa”, enfim, é um grande estudo de personagem que mostra uma versão violenta e sombria do vilão do Batman de forma completa, eficaz e muito bem desenvolvida.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Crítica: 'Mulher-Maravilha'

Mulher-Maravilha” é o quarto filme do universo cinematográfico da DC no cinema, seguido de “Homem de Aço”, “Batman vs. Superman: a origem da justiça” e “Esquadrão Suicida”, e é o primeiro que realmente faz a nova linha temporal construída pelo selo por trás da Liga da Justiça decolar de vez.

Na história, Diana (Gal Gadot, de “Batman vs. Superman”) cresceu aprendendo a batalhar na ilha secreta de Themyscira, onde as amazonas vivem longe da humanidade. Quando o piloto militar Steve Trevor (Chris Pine, de “Star Trek”) acidentalmente cai na ilha, a futura Mulher-Maravilha tem conhecimento sobre uma tal guerra mundial, e resolve partir junto com o soldado para lutar no campo de batalha.

O roteiro assinado por Allan Heinberg (que escreveu para as séries “The Catch” e “Grey's Anatomy”) a partir do argumento criado por Jason Fuchs e Zack Snyder (diretor de “Batman vs. Superman”) tem uma história bem definida, trazendo todos os famosos itens da Mulher-Maravilha, entre o laço da verdade, os braceletes, a espada e o escudo, de maneira condizente com aquele universo e com finalidades bem definidas.

O espectador acompanha a história junto a Diana, sendo impossível não se envolver com a pureza da heroína diante daquele “mundo dos homens”. A diretora Patty Jenkins (do excelente “Monster – Desejo Assassino”) trabalha junto com o roteiro um tema forte como a igualdade de gênero, sem a necessidade de argumentos feministas, uma vez que Diana é uma mulher que nasceu e cresceu em uma sociedade só de mulheres e, para ela, simplesmente não há motivos para ser submissa ou não ter os mesmos direitos que os homens (e há?). O debate pelos direitos iguais surge naturalmente por meio da ingenuidade da personagem. É claro que a personalidade da protagonista colabora para o seu posicionamento diante das situações. Já na ilha de Themyscira, Diana enfrentava decisões de sua mãe, maior autoridade do local, e na Inglaterra torna a contestar ordens de generais superiores a Steve Trevor.

É essa ingenuidade da personagem, aliás, que contribui também para que este seja o filme com o tom mais leve e descontraído do universo DC até então, sem que o humor surja de maneira forçada. Gadot está bem à vontade no papel da personagem, sendo essa a segunda vez que a interpreta, trazendo carisma, paixão e conquistando o espectador com o forte caráter da Mulher-Maravilha. Pine faz um ótimo trabalho como Steve Trevor e sua química com Gadot funciona na tela. Os demais integrantes do grupo que segue na aventura junto com Diana e Steve (formado pelos atores Saïd Taghmaoui como Sameer, Ewen Bremner como Charlie e Eugene Brave Rock como The Chief) são engraçados e servem ao seu propósito, mas nunca chegam a ser realmente desenvolvidos. As amazonas, em especial Connie Nielsen como a rainha Hippolyta e Robin Wright como Antíope, acabam tendo pouco tempo de tela, mas dominam as cenas em que aparecem.

Robin Wright lidera as amazonas em batalha como Antíope.
Aliás, o estilo de luta das amazonas é único, bem desenvolvido e muito bonito de se assistir. No entanto, apesar das câmeras lentas durante várias das cenas de batalha ajudarem a demonstrar detalhadamente os belos movimentos de luta que talvez passassem despercebidos a olho nu, o recurso é usado de forma exaustiva e chega a incomodar um pouco a certa altura.

Outro método utilizado por Jenkins para demonstrar a incrível rapidez de Diana são os cortes com a personagem em diferentes lugares, repentinamente, de uma cena para a sua conseguinte. O conceito é interessante, mas fica estranho aos olhos do espectador durante a projeção, assemelhando-se mais a um erro de montagem do que a um recurso do filme propriamente.

As sequências no campo de batalha são muito bem realizadas e conseguem demonstrar ao público várias das habilidades da Mulher-Maravilha, que por sua vez revela todo o seu potencial na batalha final da produção, quando a personagem finalmente descobre quem é e mostra sua evolução durante a história.

Tudo isso ainda ganha uma belíssima moldura por meio da maravilhosa (desculpe o trocadilho) fotografia de Matthew Jensen (do ótimo “Poder sem limites"), principalmente na ilha de Themyscira, que se torna um verdadeiro paraíso, e da trilha sonora, aqui assinada por Rupert Gregson-Williams (do oscarizado “Até o último homem”), mas que tem seu auge ao som do tema da personagem, criado por Junkie XL e Hans Zimmer para “Batman vs. Superman”. Ponto positivo também para Lindy Hemming, responsável pela ótima reconstrução do figurino de época da Europa da década de 1910, e a criação do figurino das amazonas, que remete à Grécia antiga e as caracterizam como guerreiras que são.

“Mulher-Maravilha” é um ótimo filme que traz mais esperança ao universo DC que o símbolo no uniforme do Superman. Assim como ela aparece para salvar o dia no filme de confronto dos heróis, sua aventura solo chega para resgatar o estúdio de uma avalanche de críticas negativas.

Saïd Taghmaoui como Sameer, Chris Pine como Steve Trevor, Gal Gadot como Diana Prince, Eugene Brave Rock como The Chief e Ewen Bremner como Charlie. Pose para a foto que já havíamos visto em "Batman vs. Superman".

P.S.: Ah sim, e a vilã Dra. Veneno, infelizmente, acaba sendo desperdiçada na produção, sem desenvolvimento algum de uma personagem que parecia ser bem interessante.




quarta-feira, 24 de maio de 2017

Crítica: 'Corra!'


Se você tem medo de assombrações, pode ficar tranquilo, pois “Corra!” (“Get out”, no original), é um suspense psicológico sem nenhum elemento vindo do além. Por outro lado, o filme dirigido e escrito por Jordan Peele (estreante na cadeira de diretor), traz ao público não só momentos de tensão do jeito que os amantes do estilo adoram, como também uma forte crítica social e racial.

A premissa é simples: namorado viaja para o interior para conhecer a família da namorada. No entanto, Cris (Daniel Kaluuya, de “Sicario: terra de ninguém”) é um jovem negro que teme pela reação dos pais de sua namorada caucasiana, Rose (Allison Williams, da série “Girls”), ao se depararem com a diferença racial entre o casal. E é durante esse encontro que algumas atitudes e reações começam a parecer estranhas para Cris.

O roteiro da produção é ótimo. Peele consegue entregar uma história completa, sem deixar pontas soltas, e na qual tudo tem seu propósito para contribuir com a narrativa. Como um bom suspense psicológico, o roteiro consegue prender a atenção do público dentro de seus 104 minutos de projeção, entregando momentos que pegam o espectador de surpresa em sustos nada óbvios. Há toda uma sequência mais gore durante a produção, mas que parece natural à trama, na altura em que se inicia.

Cris encontra os pais de sua namorada, mas algo estranho está acontecendo naquela casa.

 “Corra!” é, antes de tudo, um exemplo de “como se fazer um bom filme”. A direção de Peele também está completa, sem muitos pontos altos, mas também sem pontos baixos. O elenco está afiado e entrega boas atuações, com personagens convincentes, completos e com propósitos bem definidos durante a trama. A fotografia do filme (assinada por Toby Oliver) conversa com o gênero naturalmente e a produção de arte acerta na escolha da paleta de cores, principalmente para o figurino (assinado por Nadine Haders), que também conversa naturalmente com a trama.

No entanto, a produção é tão bem montada e bem escrita, que é inevitável não chegar a prever o que está acontecendo antes mesmo da grande revelação, inclusive com dicas dadas em falas de alguns personagens, o que poderia ser descartado em benefício da descoberta de toda a trama que ocorre no ato final.

Para todos que quiserem aproveitar um bom filme, com uma boa história, que realiza críticas sociais sem torná-las forçadas, “Corra!” é uma ótima pedida. Você levará alguns sustos no caminho, mas a produção vale a pena mesmo para os que não são fãs de suspense.


Ei, já que você está aqui, aproveite para conferir minha crítica sobre "La La Land - Cantando estações" também!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Crítica: 'La La Land - Cantando estações'

Uma poética homenagem ao cinema e aos antigos musicais, envolta em meio a muito jazz e um romance ao melhor estilo de Hollywood. Essa é a proposta do musical cotado como um dos favoritos ao Oscar 2017, “La La Land – Cantando estações”.

A história acompanha a atriz Mia (Emma Stone, de “Birdman” e “Magia ao Luar”), que aspira conseguir seu grande papel de destaque na indústria cinematográfica, e o músico Sebastian (Ryan Gosling, de “Dois Caras Legais” e “A Grande Aposta”), que tem o sonho de abrir seu próprio clube de jazz. Os dois se encontram por acaso e acabam se envolvendo em um romance puro, por entre as ruas de Los Angeles.

O diretor e roteirista Damien Chazelle (dos ótimos “Whiplash - Em Busca da Perfeição” e “Rua Cloverfield, 10”, apenas roteirista nesse último) consegue não só trazer um belo romance entre os protagonistas, como realiza uma incrível homenagem de duas horas aos antigos musicais de Hollywood, em um roteiro bastante metalinguístico, dando forma a emoções por meio de músicas e seguimentos de dança inesquecíveis e cheios de referências.

É impossível não lembrar títulos como “Cantando na Chuva” ou “Sinfonia em Paris” durante as longas sequências e planos-sequências que o diretor usa nos números musicais, além das coreografias realizadas com sapateado, estilo clássico desse tipo de filme. As emoções ganham vida não só com danças e canções, mas com algumas cenas lúdicas, como a do observatório, durante a apreciação das estrelas pelo casal protagonista, em um seguimento belíssimo e poético.


Apesar do título em português, as estações do ano pouco importam em seu sentido literal aqui (mesmo porque não há grande diferença de uma para outra em Los Angeles), mas fazem um paralelo aos estágios do relacionamento do casal. Quanto mais “quente” a estação, mais envolvidos Sebastian e Mia estão, e quanto mais “fria”, mais longe um do outro se encontram.

Ryan Gosling e Emma Stone estão ótimos em seus papéis. Além de uma química perfeita entre o casal, a homenagem à sétima arte vem também na atuação, seja com algumas reações propositalmente exageradas, seja com toda a forte expressão física das sequências musicais.

A fotografia de “La La Land” é tão romântica quanto o filme, brincando com uma paleta de cores intensas o tempo todo e trazendo ótimos planos do entardecer de Los Angeles. O diretor de fotografia Linus Sandgren (de “Joy: O Nome do Sucesso” e “Trapaça”) faz um excelente trabalho em parceria com o cenografista David Wasco (de “Bastardos Inglórios” e “Colateral”), que por sua vez abusa das cores vivas para trazer o lúdico ao dia a dia dos personagens.

“La La Land – Cantando estações” é uma excelente obra da sétima arte que homenageia o próprio cinema da maneira mais bela e poética possível. Se vai ganhar algum Oscar? É muito provável. Mas a única certeza que levamos é a de que merece, enquanto obra de arte e enquanto homenagem metaliguística.

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Confira também as críticas de "Rua Cloverfield, 10", escrito por Damien Chazelle, e do brasileiro "Aquarius".

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Crítica: 'Aquarius'

"Aquarius" não é um filme sobre o edifício Aquarius, por mais que tudo indique que o prédio será a atração principal do longa de Kleber Mendonça Filho (de "O som ao redor"). É um filme sobre Clara (Sônia Braga, a eterna Gabriela da versão original da novela homônima).

A história acompanha a vida da jornalista aposentada vivida por Braga. Viúva e mãe de três, Clara mora em um apartamento à beira mar, no edifício Aquarius, no Recife, onde criou seus filhos e mantém lembranças de uma vida inteira. A trama principal começa a se desenrolar quando uma construtora chega ao prédio de Clara querendo derrubá-lo e construir um novo edifício no lugar. A empresa consegue adquirir quase todos os apartamentos, menos o dela. Começa então a batalha da personagem de Braga contra a construtora.

Parece ser sobre o Aquarius mesmo, não é? Mas o prédio em si é um reflexo da personagem principal, sendo os episódios que se passam com a construção, interessantes paralelos com os acontecimentos da vida de Clara e com sua personalidade. Esse é um dos motivos porque digo que o filme é sobre ela. Toda a narrativa ajuda a construir a personalidade de Clara ao espectador, mesmo que algumas passagens sejam irrelevantes para a trama principal, mas ainda assim têm seu propósito ao exaltar características da personagem, mesmo que sutilmente. Para os mais impacientes, isso pode ser um problema, pois o filme chega a quase duas horas e meia de projeção, com partes que podem parecer se arrastar, mas nada que a incrível interpretação de Sônia Braga e o carisma de Clara não compensem. Ver a atriz tão à vontade na pele da personagem nos faz querer assistir a mais e acompanhar sua história.

São todos esses detalhes que fazem do roteiro e da direção de Kleber Mendonça Filho uma produção tão poética, trazendo retratos da bruta e dura realidade em que vivemos, como a luta entre classes e a expansão imobiliária agressiva, junto à delicadeza com a qual trata assuntos difíceis, como o câncer e a sexualidade na velhice.


A fotografia a quatro mãos de Pedro Sotero e Fabrício Tadeu (ambos também de "O som ao redor"), é muito bonita e contribui para a poesia do longa, trazendo vários planos abertos, que mostram a arquitetura da cidade, onde prédios antigos se tornam pequenos e ficam comprimidos entre arranha-céus modernos. A própria abertura do filme, com fotos antigas, ajudam a traçar este paralelo com as imagens atuais de Recife, mostradas ao longo do filme. Nos planos mais intimistas, a câmera também passeia e fica à vontade no pequeno apartamento de Clara, sempre em tons claros e quentes, mostrando a paz e o aconchego do refúgio da personagem.

A direção de arte e a cenografia, ambas assinadas por Thales Junqueira (de "Que horas ela volta?") e Juliano Dornelles (repetindo a parceria com o diretor de "O som ao redor"), ganha pontos na reconstrução do apartamento dos anos 1980 com perfeição, e trazem uma nova roupagem ao mesmo lugar dos dias atuais, preservando móveis e objetos centrais que conservam as lembranças e a nostalgia proporcionadas pelo local.

No mais, "Aquarius" é um filme para se apreciar aos poucos, não só acompanhando o universo de sua personagem central, Clara, mas também mergulhando em sua intimidade, e conhecendo cada detalhe, cada pensamento e cada característica de seu exterior e interior.

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Confira as críticas de outros filmes brasileiros que também me conquistaram: a comédia "De pernas para o ar"  e o drama "Salve Geral".

quinta-feira, 24 de março de 2016

Crítica: 'Batman Vs Superman - A Origem da Justiça'

Depois de anos de espera e do grande desafio que o diretor Zack Snyder tinha (conforme falei há um ano), finalmente chegou o momento de assistir aos dois maiores ícones da DC Comics se enfrentando “mano a mano” na telona. O filme “Batman Vs Superman - A Origem da Justiça” é a grande aposta da empresa para começar a expandir seu universo cinematográfico e correr atrás do prejuízo, uma vez que a concorrente, a Marvel, já está a caminho do terceiro e quarto filmes da sua superequipe.

Se a ideia era mesmo correr atrás do prejuízo, a Warner e a DC conseguiram, mas correram tanto que ficou bem explícita essa correria toda no filme de confronto dos heróis. Durante as suas duas horas e meia de projeção, "Batman Vs Superman" se atropela em seus cortes frequentes na edição e cenas curtas, ao tentar desenvolver a história rapidamente para escancarar as portas do universo DC no cinema e abrir caminho ao vindouro filme da Liga da Justiça. E a melhor forma que os idealizadores acham para escancarar esta porta é com um chute violento do Homem-Morcego, que aparece em sua encarnação mais brutal no cinema. Ben Affleck (dos incríveis “Garota Exemplar” e “Argo”) está muito à vontade no papel, trazendo um Batman sombrio, violento e eternamente atordoado pela morte dos pais, muito próximo às versões mais aclamadas pelos fãs nos quadrinhos. Henry Cavill (de “O Agente da U.N.C.L.E.”) retorna como o Superman saído de “Homem de Aço”, em uma interpretação de mesmo tom, apesar de trazer alguns momentos ameaçadores, como nunca vi uma encarnação do herói nos cinemas o ter. E a Mulher Maravilha de Gal Gadot (de “Velozes e Furiosos 7”) é uma ótima surpresa e complemento à trama, sem fazer a moça em perigo e finalmente trazendo a primeira encarnação da heroína nos cinemas.

Apesar da correria da trama, o diretor Zack Snyder soube apresentar bem os novos personagens, não gastando tempo demais com a reconstrução do Batman, por exemplo. Há sim a morte da família Wayne, mas em cortes rápidos e muito sucintamente, apenas para relembrar o espectador de um detalhe essencial para o desenvolvimento final da história. Outro ponto positivo foi uma reconstituição da sequencia da batalha de Metrópolis entre Superman e Zod, em “Homem de Aço”, mas observada do ponto de vista de Bruce Wayne, que se encontrava na cidade naquele instante. A diferente perspectiva apresentada pelo diretor aproxima o espectador do cidadão comum daquele universo, e contribui para a apresentação do Superman como uma figura longe do alcance dos meros mortais.



Além do trio de heróis da DC, outro personagem que ganha grande destaque é o Lex Luthor de Jesse Eisenberg (de “A Rede Social”), que moderniza o arqui-inimigo do Homem de Aço trazendo um contraste visual interessante com o herói, e uma ótima encarnação da mente megalomaníaca do vilão nos quadrinhos. A Lois Lane de Amy Adams (de “Trapaça”) também está mais investigativa do que nunca, mas ainda está longe de conseguir se defender sozinha. Alguns outros personagens interessantes e cruciais para a trama são pouco aproveitados, mas essa eu deixo passar por servirem a um propósito que realmente pega o espectador de surpresa na trama.

Quem me conhece sabe que sou suspeito para falar do Homem-Morcego (e sei que já falei dele ali no segundo parágrafo), mas exalto aqui algumas das melhores sequências do filme que têm o personagem como figura central: a apresentação inicial do Batman é digna de um filme de suspense, muito bem feita, e a cena de luta contra vários capangas a certa altura do filme também é incrível. Os sons de gritos ouvidos por policiais e outros capangas que se encontram longes da ação do Homem-Morcego, ajudam a moldar o personagem com sua brutalidade e disseminação de medo entre as pessoas.

A insistência de Snyder nas paletas mais escuras nunca me incomodou anteriormente, mas uma vez que você assiste a “Batman Vs Superman” em 3D (como está disponível na grande maioria das salas de cinema em todo o Brasil), não há como não se irritar com o filtro ainda mais escuro que o óculos providencia ao espectador, para ver efeitos 3D fracos e dispensáveis.

Por fim, é muito bom, como fã, ver a Liga da Justiça se formando finalmente no cinema e, sim, foi curioso ver a aparição rápida de alguns outros heróis por este filme, no entanto, também dispensáveis à trama (com exceção da Mulher Maravilha). Lembrando que Snyder é nerd, e vários arcos dos quadrinhos são respeitados e vários personagens são fieis às suas encarnações de papel.

“Batman Vs Superman - A Origem da Justiça” é um bom filme, que vai agradar muito aos fãs e deixar o gostinho de “quero mais”, mas não é perfeito e nem o exemplo definitivo de filme de heróis. Basta ver se a “edição do diretor”, a ser lançada em setembro com 30 minutos a mais, conseguirá entregar uma história mais fluida.






terça-feira, 21 de abril de 2015

Ok, vamos falar de Batman vs. Superman!

O mundo nerd foi à loucura na última semana com tantas boas surpresas, e a cereja no topo acabou saindo antecipadamente por motivo de força maior. Força essa, vinda do Brasil, diga-se de passagem.

Cartazes oficiais de "Batman vs. Superman: a origem da justiça"
A verdade é que Zack Snyder (diretor de "Homem de Aço"), liberou míseros 20 segundos bem vagos do trailer de sua nova produção na última quinta-feira (16 de abril), o esperado "Batman vs. Superman: a origem da justiça". Míseros sim, mas igualmente extasiantes, deixando qualquer fã de super-heróis animado para a liberação do teaser completo, anunciado para segunda-feira (20). Pouco tempo depois que Snyder publica os 20 segundos, algum brasileiro com acesso a versão legendada do trailer (que provavelmente seria lançada junto à original, no dia 20), filmou com seu celular e liberou na internet a versão completa, quatro dias antes do programado e em baixa resolução. O estúdio não teve outra escolha senão liberar o trailer oficialmente no mesmo dia.

Por que explicar toda a situação? Porque acredito que esse foi um dos fatores que já desanimou alguns fãs com o lançamento do tão esperado teaser do filme de embate dos heróis. Não o fator decisivo, mas um dos. 

Além de Superman e Batman, a Mulher-Maravilha também
já foi confirmada no filme.
O que muitos ainda não entenderam é o tamanho do desafio do diretor Zack Snyder e da Warner/DC com esta produção. Para começar, seus heróis protagonistas já foram revisitados em diversas versões no cinema e na TV. Tanto Batman quando Superman já tiveram muitos reboots em várias mídias. Alguns falharam, outros seguraram as pontas, outros ainda fizeram grande sucesso, como a versão do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan,  que difere totalmente do Batman de Tim Burton, por exemplo (de 1989), o qual, por sua vez, é uma personagem totalmente distinta do Homem-Morcego de Adam West na série sessentista. Isso sem contar as versões animadas. Já o Superman, em sua única tentativa de fazer uma sequência temporã da quadrilogia estrelada por Christopher Reeve nos anos 70/80, fracassou miseravelmente no filme de Bryan Singer, "Superman - O Retorno" (de 2006). 

Acrescenta-se aí um elemento importante: neste meio tempo, veio uma tal de Marvel e começou a fazer muito dinheiro ao desenvolver algo que se tornaria a grande "modinha" hollywoodiana dos anos 2010: o universo compartilhado entre filmes. Colocado este ponto, é preciso entender também que, não adianta, a Warner/DC não dá uma segunda chance a fórmulas que fracassaram. Talvez este seja o grande problema do estúdio, que não culpa o roteiro ou o diretor, e sim a fórmula!

Na tentativa de seguir o sucesso do então desconhecido "Homem de Ferro" da concorrente, que fez milhões facilmente com seu primeiro filme, a Warner lançou "Lanterna Verde" na mesma onda. Aliás, o filme protagonizado por Ryan Reynolds como o herói esmeralda da DC talvez seja a produção com o tom mais parecido com a maioria das películas do Universo Marvel. Pois bem, quem estava se sobressaindo dentro do estúdio naquela época então? Christopher Nolan, que trouxe de volta o teor sombrio ao Homem-Morcego (que fez sucesso anteriormente nos filmes de Burton, notem isso), em uma história mais "realista", por assim dizer. Fórmula que deu certo! Logo os produtores da Warner pensaram que aquele tom trazia bons resultados para seus demais heróis. Talvez não usem em todos os seus futuros filmes, mas pode ser um fio condutor no seu recém-criado Universo Cinematográfico.


Nolan provavelmente foi sondado pra dirigir e reinventar o Superman, mas foi fiel a sua visão fechada de Gotham City e não quis se envolver majoritariamente na construção de um universo inteiro com sua assinatura (embora pareça que a Warner queira propagá-la pelas mãos de outros diretores), então recorreram a alguém que eles já haviam trabalhado junto, alguém que soubesse transpor HQs de grande sucesso para as telonas, e que tivesse uma assinatura própria e marcante para dar uma cara diferente em seu novo Universo Cinematográfico. Os produtores recorreram a Zack Snyder (olha ele aqui!), que havia feito "300" e "Watchmen", ambas produções que se encaixavam em todos os requisitos anteriormente citados.

Snyder debutou sua "assinatura própria 'nolanizada'" em "Homem de Aço", e foi um sucesso. Talvez não teve o êxito que a Warner desejava, mas teve o êxito que ela merecia. No entanto, a concorrente já estava quase concluindo a segunda fase de seu universo no cinema, e planejando a terceira! Era hora de jogar duro: como tentar superar o falatório sobre as produções da Marvel quando seus heróis já foram revisitados tantas vezes na telona? Batman acabara de sair de uma trilogia que fez muito sucesso e a personagem estava em alta. Mas a Sony provou, com o Homem-Aranha, que recomeçar um personagem sem reinventá-lo, provavelmente, não agrada o público. Então que tal reinventar o Bruce Wayne mais uma vez e colocá-lo para lutar com o Superman que acabou de se estabelecer? O confronto entre os dois heróis é inédito no cinema, mas não dava para aproveitar Christian Bale (de "Batman - o cavaleiro das trevas"), então aproveitaram o que Snyder sabe fazer de melhor e aplicaram ao Homem-Morcego, usando uma versão sua já consagrada nas HQs e transpassando-a para a telona, assim como foi concebida. E acredito que assim nasceu este filme.

Ilustração retirada da HQ "O cavaleiro das trevas", na qual
os heróis se enfrentam.
Sinceramente, não gosto tanto assim de Zack Snyder. Baseado em "300" e "Watchmen", acredito que ele use HQs como storyboards, e não acredito que esta é a melhor solução para o cinema. Afinal, chamamos estas produções de "adaptações" por um motivo plausível e, convenhamos, auto-explicativo. Voltando ao trailer liberado esta última semana, as pessoas já sabem quem é Batman, já sabem quem o é Superman, os nerds que tanto criticam já conhecem a história da qual Snyder vai nadar na fonte (a publicação "O cavaleiro das trevas", escrita por Frank Miller, na qual os heróis se enfrentam), e o teaser não trouxe muita informação nova, o que é óbvio, pois é um teaser trailer, e o filme ainda tem um ano de pós-produção pela frente.

E o mais importante: a DC não é a Marvel! Não adianta esperar um filme da Liga da Justiça no mesmo tom dos Vingadores, pois não é este o intuito da Warner. É exatamente por este último motivo que os produtores escolheram um diretor que trouxesse um estilo próprio e marcante, com um teor mais sóbrio e talvez soturno. Se a Marvel não tivesse começado seu universo compartilhado ainda, talvez o tom da DC fosse outro mais parecido com o de "Vingadores".

De qualquer forma, sei que sou suspeito para falar, sendo um fã incondicional do Cavaleiro das Trevas. Sei que a Warner/DC tem seus defeitos, como apontei nesse texto, mas acredito que vão conseguir trazer algo muito especial para os fãs, cinéfilos e demais apreciadores da sétima arte com seu Universo Cinematográfico. Se eu me empolguei com o primeiro teaser?  Muito! E mal posso esperar para ver mais sobre o filme.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Crítica: 'Círculo de Fogo'

Um filme completo. Não há nada o que colocar ou tirar de "Círculo de Fogo". É um filme divertido, emocionante e bem amarrado. E o melhor: tudo isso com robôs e monstros gigantes lutando de maneira tão espetacular que nem Zordon teria imaginado lá no longínquo primeiro episódio de Power Rangers!

A trama acompanha o surgimento de criaturas gigantescas do fundo do oceano, que são chamadas Kaiju, e tocam o terror em cidades do mundo inteiro. Para que os humanos possam se defender, são criados os Jaegers, robôs também gigantes feitos para enfrentar estes monstros.

Guilhermo Del Toro sabe como escrever um roteiro muito bem. Já havia provado isso com os filmes da série "Hellboy" e com o ótimo "O Labirinto do Fauno". Sua consagração vem com este inesperado e surpreendente "Círculo de Fogo", que também assina como diretor. A premissa inicial não conquistava nenhum crítico pseudointelectual: monstros contra robôs gigantes. Mas por trás do que parecia mais uma desculpa para investir em efeitos especiais ao estilo Michael Bay e seus Transformers, a maioria se surpreendeu com uma história que consegue ser intrigante, prender a atenção, ter toda sua lógica para aquele universo, claro, e sequer usar a batalha gigantesca como plano de fundo, mas como parte importante e totalmente integrada à história. Os tais monstros aqui são de dar inveja a muito Godzilla, sendo ao mesmo tempo uma homenagem ao lagartão.

Uma das melhores invenções de Del Toro para a história é a conexão de mentes entre os comandantes do Jaeger, o que ajuda a desenvolver e compreender personagens de maneira muito mais rápida, fugindo dos clichês hollywoodianos e deixando a trama mais ágil, sem perder a profundidade. Todos os personagens tem seus motivos para estarem na trama e todos têm seu desenvolvimento (alguns mais, outros menos, claro).

A iluminação dá o tom certo e lembra bastante as cores e efeitos de "Hellboy", uma vez que o diretor de fotografia Guillermo Navarro continua aqui a parceria com Del Toro. O uso de muitos ângulos baixos, principalmente nas batalhas que ocorrem em cidades, levam o espectador direto para dentro do filme, observando tudo como se estivesse ali na cena, e mostra a grandiosidade e a escala abismal dos combatentes.

Um filme que prova que é possível criar algo divertido, bem feito e fascinante ao mesmo tempo, unindo sua paixão com uma boa história (o diretor é fascinado por monstros, como você bem pode observar por sua filmografia). Fica a lição e o exemplo pra muitos diretores carnavalescos por aí. ;-)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crítica: 'Imortais'

Já começo dizendo que tenho grande admiração pela mitologia grega, e ao ouvir alguns nomes de deuses antigos, um sorriso me vem ao canto da boca, mas infelizmente é uma das poucas emoções que tive ao assistir a este “Imortais” do diretor indiano Tarsem Singh.

Na trama, o ganancioso rei Hipérion (Mickey Rourke) declara guerra à humanidade, e para isso quer libertar os Titãs, únicos seres divinos capazes de derrotar Zeus (Luke Evans) e os demais deuses do Monte Olimpo. Teseu (Henry Cavill) é o único mortal que poderá deter o rei, junto à jovem sacerdotisa que tem visões de acontecimentos futuros (Freida Pinto).

A trama é batida, previsível, cheia de falhas e peca imensamente ao destruir algumas das melhores histórias da mitologia grega (Teseu é o famoso herói que derrota o Minotauro em um labirinto, mas nesta reinvenção, a criatura está longe de ser o monstro narrado por gerações). Os deuses poderiam terminar com a história toda a qualquer momento, mas não o fazem, e não há esclarecimento algum de tal motivação no roteiro. Os personagens não têm tanta profundidade e muitos entram e saem da trama sem propósito ou explicação. Podemos salvar Teseu e Zeus, que chegam a mostrar seus lados “humanos”. O herói, apesar de ser descrito como homem sem medo, demonstra sua fraqueza em alguns momentos (às vezes cruciais). O deus dos deuses também exibe seus temores e receios em algumas cenas, mostrando um pouco de profundidade. Ponto para o futuro Superman, Cavill, que conquista o espectador, e para Evans, que também consegue mostrar boa atuação. Há ainda um Mickey Rourke bem a vontade no papel de Hipérion.

Visualmente, não há como não achar belos quadros no filme. O diretor parece ter pintado algumas cenas, revelando vários (muitos mesmo) planos abertos de paisagens durante toda a projeção, na tentativa de dar proporções épicas e de grandiosidade à película. Tarsem também abusa dos planos-sequência. No entanto, a fotografia de Brendan Galvin cai na mesmice do filtro amarelado, que parece ter se tornado obrigatório neste tipo de filme, desde a realização de “300”. Algumas cores foram bem aproveitadas para distinguir personagens (dourado para deuses, preto para o exército do rei, prateado e azul para o exército grego).

Os clichês presentes são próprios de filmes de guerra: o discurso antes da batalha e os takes em câmera lenta durante a luta (embora deva destacar o uso deste último recurso durante o combate entre os deuses, que ficou diferente e deu uma justificativa do por que estes são chamados assim). No entanto, um ponto a favor de Tarsem Singh são os enquadramentos, muito bem utilizados para demonstrar superioridade e inferioridade dos personagens, mudando o ângulo conforme a cena e o ator presente.

O figurino dos mortais cai na mesmice dos filmes do gênero. Até aí tudo bem, mas os extravagantes e desnecessários adornos nas cabeças dos deuses não ficam bons na telona. Aliás, o espectador desinformado nem saberá que cada deus grego tem uma “especialidade”, pois o assunto sequer é tocado (Zeus é o deus do trovão, Posseidon dos mares, Atena da sabedoria...).

Para terminar, devo dizer que assisti ao filme em 3D, um investimento perdido. Obviamente que a produção acabou sendo convertida (e muito mal) para esta tecnologia depois de terminada, provavelmente por imposição do estúdio que queria soltar a película assim, pois nota-se que o diretor não fez (ou não soube fazer) o filme voltado ao 3D. A presença massiva de desfoco de segundo plano tira toda a sensação de profundidade que é, simplesmente, o essencial para a tal “terceira dimensão” funcionar.

No mais, “Imortais” é um filme que diverte visualmente e aos fãs de pancadaria, devido a suas cenas brutais de violência explícita, mas que deve muito em profundidade e concisão de história.


P.S.: a participação especial de John Hurt dá um toque especial à produção. São do ator as melhores falas.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Crítica: 'Pânico 4'

Não espere uma revolução nos filmes de suspense/terror por parte de “Pânico 4”, pois não é isso que você vai encontrar. O diretor Was Craven apenas trouxe sua estrutura narrativa costumeira para os dias atuais, atualizando-a.

Em “Pânico 4”, Sidney Prescott (Neve Campbell) agora é autora de um livro de auto-ajuda, e retorna para Woodsboro na última parada de sua turnê para promover o lançamento. Lá, ela reconecta-se com o sherife Dewey (David Arquette) e Gale (Courteney Cox) - agora casados - assim como sua prima Jill (Emma Roberts) e sua tia Kate (Mary McDonnell). Infelizmente, o retorno de Sidney também traz Ghostface de volta, colocando Sidney, Gale e Dewey, junto com Jill, seus amigos e toda a cidade de Woodsboro, em perigo.

Craven já havia utilizado a metalinguagem nos filmes anteriores da série, quando criou o filme “Stab” baseado nos livros de Gale, que por sua vez foram baseados nos eventos acontecidos com Sidney. No entanto, nesse quarto capítulo, a produção abusa bastante do recurso metalinguístico, quando coloca um filme dentro do outro filme que, afinal, está dentro de “Pânico 4”. Chega até a irritar um pouco, mas o roteiro só faz isso no começo da produção e, durante essa parte, introduz as melhores falas de todo o filme.

O roteiro é a mesma estrutura dos antigos filmes da série. Começa com o assassinato das garotas sozinhas em casa, apresenta os outros personagens e dá início às mortes até revelar quem é o assassino (sempre o ponto alto e surpresa do filme). Para os amantes da série (e me incluo), é uma oportunidade de ver o bom e velho Ghostface agindo novamente, exatamente como antes. Já quem nunca viu o serial killer em ação, vai se deparar com uma estrutura batida de filmes de terror/suspense sem muita coisa nova.

A fotografia é a usual desse gênero: muitas sombras e casas extremamente mal iluminadas para dar o tom de mistério e o suspense, sempre enfatizando cores escuras e frias. A trilha sonora de “Pânico 4” contém músicas do atual cenário pop, mas as melodias orquestradas também não apresentam muita novidade. E, apesar de já estarmos treinados para o “momento-de-silêncio-em-que-o-assassino-aparece-do-lado-da-vítima”, Craven consegue dar alguns bons sustos e fazer com que pulemos da cadeira às vezes. O elenco original (Campbell, Arquette e Cox) estão muito a vontade retornando em seus antigos papéis, e conseguem um pouco de desenvolvimento para seus personagens. Mas são os únicos no filme inteiro. Os demais não têm espaço algum para progredir na história, formando os mesmos estereótipos clichês da trilogia original.

No entanto, o maior trunfo do filme é sua contemporaneidade. Wes Craven traz o ambiente de suspense da década de 90 da trilogia original para a atualidade de maneira crítica e natural. Isso porque ele não só coloca elementos tecnológicos na produção, mas junto ao roteirista Kevin Williamson, inclui conceitos extremamente atuais, entre refilmagens de filmes de terror e até sucessos instantâneos, seja pela internet, seja por eventos que dão os tais “15 minutos de fama”. A própria resolução do filme é coerente com tais conceitos, apesar de não dar mais aquele gostinho de ser surpreendido. Não porque o final não é surpreendente, mas porque já sabemos as “regras” dos filmes da série “Pânico”. Podemos não ter certeza de quem é o assassino, mas quanto mais o filme nos empurra para alguns suspeitos, mais temos certeza de que não são eles.

No fim, “Pânico 4” consegue ser um ótimo filme para os nostálgicos, um filme médio para a nova geração, e permite a Craven criticar refilmagens de terror, de certa forma homenagear os originais e dizer que “Jogos Mortais 4” é horrível, porque é “tortura pornográfica”! Afinal, como Sidney diz a certa altura do filme, “nunca mexa com o original!”

...

E vocês? O que acharam de “Pânico 4”? Para os que não assistiram, qual a expectativa? Comentem!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crítica: 'Rio'

Vamos divulgar o Rio de Janeiro! É impossível pensar que a frase anterior não passou pelas mentes dos realizadores da animação “Rio”. No entanto, ainda vale lembrar que são as mesmas mentes por trás da ótima trilogia “A Era do Gelo”.

“Rio” traz a história da arara azul brasileira Blu que, retirada de seu habitat natural ainda filhote, acaba indo parar nos Estados Unidos e descobre ser uma espécie em extinção. Agora, Blu e sua dona, a americana Linda, precisam ir até o Rio de Janeiro para que a ave se encontre com a última fêmea de sua espécie, a arara Jade.

O filme começa com a história um tanto apressada, mostrando como Blu foi parar no país norte-americano, passando por algumas situações incluindo a vinda para o Brasil, e chegando finalmente no desenrolar propriamente dito do filme, quando ele se vê “solto” no Rio, mas acorrentado à fêmea de sua espécie. Aliás, o excesso de subtramas prejudica o roteiro que desenvolve muito pouco cada uma delas.

Assim como em “A Era do Gelo”, a história concentra um grupo, com personagens engraçadas de características diferentes e bem definidas. O tucano Fernando é a personificação do típico malandro carioca. Blu é perfeito em seus tiques e movimentos rápidos de pescoço iguais a de uma arara real, refletindo inclusive em sua personalidade. Até a dublagem que assisti se mostrou eficaz ao lembrar muito com os sons emitidos por uma arara durante a fala de Blu. Porém, apesar de cativantes, os personagens não são bem aproveitados pelo enredo. Há ainda um grupo de saguis que roubam turistas numa tentativa descarada de se tornarem os pinguins de Madagascar.

A qualidade da animação é fantástica. A reprodução física fiel do Rio de Janeiro impressiona, fazendo com que o espectador, às vezes, duvide de que está assistindo a uma animação. E o diretor carioca Carlos Saldanha aproveita bem o 3D, utilizando bastantes objetos em perspectiva e principalmente planos de vôo (algo que funciona muito bem para a sensação de terceira dimensão). Mas ainda peca ao “jogar” objetos e personagens na tela, como se estes fosse sair em direção ao espectador.

Outro ponto forte do filme são as cores vivas e fortes sempre. Além disso, há uma repetição incessante do verde-amarelo, seja nas cores da bandeira brasileira mostrada ao fundo da cena, seja nas cores de objetos e até mesmo personagens. Fora os números musicais coloridos e muito bonitos, remetendo a Carmem Miranda algumas vezes, mas introduzidos de maneira forçada na história. As músicas do filme vêm sempre embaladas por alguma batida de samba ao fundo.

No entanto, “Rio” é claramente uma propaganda escancarada da Cidade Maravilhosa, e Saldanha acaba por cair em alguns estereótipos que não precisavam ser reforçados para os americanos. A história se passa exatamente na semana do carnaval, e em certo momento, todos param para assistir a um jogo de futebol (poxa, mas era Brasil contra Argentina!). Samba então, nem se fala! Até a arara Jade samba a certa altura do filme. Fernando, por exemplo, é um garoto negro abandonado, morador de favela, veste uma camisa 10 da seleção brasileira e rouba aves para ganhar um dinheiro do tráfico (de aves). Você realmente acha que não é um estereótipo? E para reforçar a propaganda, as panorâmicas do Rio de Janeiro se demoram em mostrar as belas paisagens e os principais pontos turísticos da cidade.

“Rio” mantém o foco mais no Rio de Janeiro do que em seus personagens, mas ainda consegue ser uma animação divertida e descontraída, ótima para se curtir em família.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Do fundo do baú 33 e 1/3


Última parte dessa seção, galera. Estão aí as duas últimas críticas antigas que possuo. E essas são pra fechar com chave de ouro. Quando saí da sala de exibição de "UP - Altas Aventuras", estava extremamente comovido com o filme e, modéstia a parte, consegui fazer uma das minhas melhores e mais inspiradas críticas. Já "Salve Geral" tem todo um significado especial para mim, pois consegui participar da coletiva de imprensa do filme em São Paulo e assistir à pré-estréia exclusiva para convidados na capital paulista. Obrigado, Regina Colon! hehehe... Pois bem, aí estão as críticas dos dois filmes:

Crítica "Up - Altas Aventuras"

“É isso que gosto nos filmes da Disney-Pixar: eles não são só pra crianças” comentava uma amiga minha na saída do cinema. E realmente, “UP – Altas Aventuras” contém alguns temas bem fortes em sua trama, mas que aparecem naturais à história e não são para os menores. Aliás, talvez essas tais tramas passem imperceptíveis à criançada, como morte e esterilidade. Mas isso é só uma pequenina parte de um filme ótimo e divertido que nos emociona e faz rir o tempo todo.

A história começa apresentando o pequeno Carl Fredriksen (Edward Asner no original e Chico Anysio na versão brazuca), um menino sonhador que adora as alturas e conhece a falante Ellie, que tem o mesmo sonho de levar a sua casa para um vale de cachoeiras na América do Sul. Depois de uma vida inteira juntos, Ellie se vai e Carl, já com 78 anos, resolve realizar o sonho de sua amada de levar a casa em uma aventura pelo sul. Assim ele põe o imóvel nos ares com milhões de balões cheios de gás hélio, mas acaba levando junto o jovem escoteiro Russel (Jordan Nagai). Juntos eles vivem várias e boas aventuras na floresta equatorial.

Animações não são, claro, como filmes em live-action, e os animadores da Pixar sabem muito bem disso. Tanto sabem que aproveitam para inserir características de personalidade na própria estrutura física da personagem. É o que acontece com Carl, que aparece, literalmente, quadrado quando velho. Característica essa que é sempre reforçada em várias cenas dele em casa.

O diretor da produção é Pete Docter, o mesmo por trás de “Monstros S.A.” e é fácil perceber por que os dois filmes dele são os mais emocionantes da parceria Disney-Pixar. Docter consegue mexer com assuntos fortes de maneira sensível (como comentei no começo), e envolve os espectadores de maneira espetacular. Talvez esse último fator não seja exclusivo de Docter, mas algo exigido de todos os diretores pela Pixar, o que os leva a um sucesso após o outro.

Ponto a favor também da arte e da trilha sonora do filme (creditadas respectivamente à Ralph Eggleston e Michael Giacchino), que casam perfeitamente mesclando momentos mais tristes, onde as cores são mais frias e a música-tema ganha um tom mais emocionante, e momentos alegres, com cores vibrantes e a mesma música em acordes agitados.

Chico Anysio (assisti dublado!) não escorrega na dublagem, mas também não surpreende. E como a maioria dos filmes com o selo da Pixar tem seu coadjuvante “bobão-carinhoso”, o cachorro Dug assume o posto roubando a cena. Mas igualmente cativantes são o garoto Russel e a ave Kevin (que apesar de não falar nada compreende muito bem o que os outros dizem).

Antes de tudo, “UP – Altas Aventuras” está aí para nos mostrar as belezas que existem nas coisas mais simples da vida e que, uma vida ao lado de quem gostamos e amamos, pode ser a aventura mais maravilhosa de nossa existência.

Crítica "Salve Geral"

É difícil retratar um o caos com sutileza. O diretor Sérgio Rezende (de “Zuzu Angel”) faz isso muito bem em “Salve Geral”, longa escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar. Digo retratar com sutileza pois, apesar de o diretor correr com a narrativa no começo, o filme é sobre uma mulher e seu filho, com o ataque do Primeiro Comando da Capital (o famigerado PCC) como pano de fundo, e não vice-versa.

Na história, Lúcia (Andréa Beltrão) se encontra com problemas financeiros, tendo que baixar o padrão de vida. Seu filho, Rafa (Lee Thalor) não aceita, e em uma noite que sai com um amigo, acaba cometendo um crime e é preso. Encarcerado, o rapaz se envolve com o tal Comando da Capital enquanto sua mãe, desesperada, faz de tudo para tirar o filho da prisão.

Explicando a minha deixa inicial, a narrativa chega a se atropelar um pouco no começo do filme, tudo para mostrar a situação em que se encontram os protagonistas (mãe e filho) e inseri-los naquele mundo carcerário, onde comanda o PCC. Mas nada que atrapalhe muito o filme, que se foca em Lúcia e todas as atitudes que toma em função do filho. E aí sim eu falo do “mostrar o caos com sutileza”. O diretor consegue passar a sensação do caos apenas pela visão de Lúcia e Rafa. Ela enquanto classe média (alta, representada pela irmã, vivida por Cris Couto; e baixa, representada pela própria personagem), e ele enquanto preso participante do movimento. Rezende não precisa mostrar o tumulto forçadamente, a movimentação surge natural de cenas em que Lúcia passa pela rua e as lojas vão se fechando atrás dela, pelo trânsito que ela enfrenta, pela (impressionante) imagem dela andando sozinha pela Avenida Paulista e, principalmente, pelos locutores do rádio que ela tanto ouve a procura de informações sobre o filho.

Outro ponto que é muito característico de Rezende no filme é o excesso de closes que ele dá em rostos, olhos, mãos e armas. Muitas vezes se encaixa perfeitamente, tornando o filme poético e delicado, mas a repetição da técnica se mostra desgastante e imprópria em outras cenas. Porém, o tato do diretor em evitar mostrar mortes diretas é ponto a favor dele (ou jogada de marketing pra diminuir a censura!).

A sempre presente trilha sonora de Miguel Briamonte traz fantásticas músicas instrumentais que norteiam o filme e tentam se mostrar, algumas vezes, natural à vida daquelas pessoas, seja quando Lúcia toca piano ou quando ouve algo em um rádio por perto.

Ponto a favor também da fotografia de Uli Burtin, que nos momentos de mortes se mostra bem escura e, em uma única cena de vida (quando nasce um bebê) traz um branco ofuscante a là “Ensaio sobre a cegueira” colocando os contrapontos formidavelmente.

Beltrão traz Lúcia a vida de maneira excepcional, mostrando uma mulher forte e determinada, contrapondo a personagem Ruiva, vivida também de maneira brilhante por Denise Weinberg, uma advogada corrupta que ajuda o PCC. Aliás, o filme expõe muito bem a oposição entre as duas, claramente antagonistas.

Sérgio Rezende tem uma obra prima nas mãos, que irá se expandir para todo o Brasil devido ao anúncio de escolhido como representante brasileiro para o Oscar. Agora é prestigiar e torcer!
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