Páginas

Mostrando postagens com marcador drama. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador drama. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Crítica: "Oppenheimer"

O diretor Christopher Nolan retorna às telonas com “Oppenheimer”, uma cinebiografia impactante e bombástica (com o perdão do trocadilho), filmada em IMAX, que chega para competir nos cinemas com a produção mais oposta possível: "Barbie – o filme".

A história de "Oppenheimer" é inspirada no livro biográfico de sucesso "Prometeu Americano: A História de J. Robert Oppenheimer", escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin,. Situado durante a Segunda Guerra Mundial, o filme segue a jornada de J. Robert Oppenheimer (interpretado por Cillian Murphy), um físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de Los Alamos durante o Projeto Manhattan - uma missão para conceber e construir as primeiras bombas atômicas. A trama se desenrola acompanhando o físico e um grupo de outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear, que acabou por causar as trágicas consequências em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945. Além do ator que interpreta o protagonista, o elenco é composto também por Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Gary Oldman, Jack Quaid, Gustaf Skarsgård, Rami Malek e Kenneth Branagh.

Cillian Murphy entrega um protagonista profundo e denso.

Não é surpresa que o próprio Nolan tenha escrito o roteiro, adaptando a obra literária, uma vez que o filme já começa definindo para o espectador que este acompanhará a história em duas linhas temporais, paralelamente, e o que as diferenciará será a fotografia, uma em preto e branco, outra colorida. Este recurso é praticamente o mesmo utilizado em um de seus primeiros filmes, “Amnésia”, que foi responsável inclusive por catapultar sua carreira para Hollywood. Mas é fato que Nolan sabe muito bem utilizar este artifício e conduzir a história, inclusive entrelaçando as linhas narrativas para que se completem. Há ainda a história dentro da história, no melhor estilo “A Origem”, mas, novamente, nada que deixe a narrativa confusa, o diretor já sabe usar seus recursos com maestria. No entanto, no ímpeto de sua empolgação com a história e na ânsia por não cortar sequências, Nolan acaba se alongando um pouco mais do que poderia no terceiro ato, mas nada que tire o brilho do filme.

Robert Downey Jr. rouba a cena em "Oppenheimer".

A construção da narrativa da carreira de J. Robert Oppenheimer, de mero estudante do doutorado, passando para professor e depois líder do projeto que construiria a primeira bomba atômica, é muito bem elaborada. Enquanto o primeiro ato do filme mostra mais da vida pregressa do protagonista e sua intimidade, Nolan consegue construir junto ao espectador sua própria bomba-relógio no segundo ato, estruturando uma tensão constante que vai aumentando junto com a dos personagens, conforme a bomba atômica fica mais perto de “ser criada”. Mesmo sabendo do final que os livros de História contam, é impossível não sentir o estresse e a angústia crescente que a narrativa vai formulando nos personagens e, consequentemente, no espectador.

O diretor Christopher Nolan dirige seu protagonista.

A fotografia do filme, feita pelo holandês Hoyte Van Hoytema, parceiro de Nolan em suas três últimas produções (“Tenet”, “Dunkirk” e “Interestelar”), segue o mesmo estilo de tons frios e cores escuras das parcerias pregressas com o diretor, e tem seu auge nas imagens em preto e branco, que trazem uma sensação de recorte histórico, além de serem muito bem utilizadas com a iluminação cênica.

As atuações completam a ótima qualidade do filme, com Cillian Murphy entregando todas as emoções do físico J. Robert Oppenheimer por meio de um olhar penetrante e perturbador, que tranpassa ao público seus temores, orgulhos e os pensamentos rápidos que inundam a mente do protagonista. Outras atuações marcantes que sempre roubam a cena quando aparecem ficam por conta de Robert Downey Jr., Emily Blunt e Florence Pugh.

No mais, "Oppenheimer" é uma excelente biografia que se aventura pela vida e pelo psicológico do homem que ajudou a criar a bomba atômica, provocando reflexões sobre ética e moral, em um filme muito bem executado e que deve levar uma boa leva de prêmios na próxima temporada.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crítica: 'Os Miseráveis'

Se você não gosta de musicais, talvez “Os Miseráveis” não lhe agrade logo de cara, mas basta a acompanhar a trama e as atuações para saber que valeu a pena o dinheiro gasto no ingresso.

Na história adaptada de um musical da Broadway, que por sua vez foi inspirado na clássica obra do escritor Victor Hugo, o pano de fundo é a Revolução Francesa do século XIX. Jean Valjean (Hugh Jackman) rouba um pão para alimentar a irmã mais nova e acaba sendo preso por isso. Solto tempos depois, ele quebra a condicional e é perseguido pelo inspetor Javert (Russell Crowe), mas tentará recomeçar sua vida e se redimir. É quando ele encontra Fantine (Anne Hathaway), que está muito doente e preocupada com sua filha, Cosette (mais tarde, interpretada por Amanda Seyfried). E o desenvolver vocês ficam sabendo quando assistirem, não quero estragar nenhuma surpresa!

Além das belas canções, as atuações são, definitivamente, o forte do filme. O oscarizado diretor Tom Hooper (de “O Discurso do Rei") consegue arrancar lágrimas, suor e os tons mais altos de seus atores através de longos planos durante várias canções.

Jackman está fantástico, em uma atuação simplesmente completa. Crowe é o malvado em sua caçada implacável, e se sai muito bem no papel também. Eddie Redmayne (que interpreta Marius), Samantha Barks (que faz Eponine) e Seyfried não têm muito tempo de tela (elas, menos ainda) e dão uma atuação satisfatória, com Banks se sobressaindo em relação aos outros dois. O alívio cômico fica por parte do impagável casal de trambiqueiros que Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen (ele mesmo, o Borat) dão vida. Muito bons também. Mas os aplausos em pé vão para a belíssima e super talentosa Anne Hathaway, que também não passa tanto tempo em cena, mas consegue arrancar lágrimas com sua personagem. Ela está simplesmente fantástica, digna de premiações.

O roteiro acaba deixando algumas dúvidas, principalmente durante as duas passagens de tempo presentes, mas nada que atrapalhe muito a trama principal, que gira em torno do personagem de Jackman. Um dos fatores que me fazem gostar muito de musicais são as apresentações de personagens. De certa forma, este estilo consegue introduzir e, muitas vezes, explicar a complexidade de cada personagem durante o que chamo de "música de apresentação". É aquela canção solo, na qual cada ator explica as frustrações, angústias e anseios de seu personagem. "Os Miseráveis" contém várias ótimas "músicas de apresentação".

Hooper entrega um belo filme visualmente falando, também. Os figurinos de época de Paco Delgado estão impecáveis e a fotografia de Danny Cohen conversa com a trama naturalmente.

Um ótimo filme, que provavelmente será injustiçado no Oscar, devido aos grandiosos concorrentes, mas que deve ter lá seu pequeno reconhecimento na atuação de Hathaway. E vale à pena.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...