Páginas

domingo, 20 de março de 2011

Uma pequena homenagem!

Na tarde de 19 de março de 2011, invadiram uma casa em Orlândia, interior do estado de São Paulo, e assassinaram uma senhora de 81 anos. Célia de Oliveira Mello Cordeiro teve seus pés amarrados com o fio de um telefone, os pulsos presos pelo fio do ferro de passar roupa e foi amordaçada com um lençol. A senhora foi sufocada até a morte.

Para muitos, mais um caso trágico divulgado pela mídia. Mas o que os leitores de uma matéria como essa sabiam sobre Célia de Oliveira Mello Cordeiro? Nada. Apenas que agora ela faz parte de uma triste estatística não só do país, mas no mundo inteiro.

Célia mudou-se para Orlândia com o marido há algumas décadas, após a morte da cunhada. Junto com uma meia irmã, Aracy, ajudou a criar os seis filhos que ficaram com o irmão viúvo, Paulo Gomes. No entanto, Paulo faleceu posteriormente, e Célia e Aracy abdicaram de possíveis planos futuros, dedicando suas vidas à criação dos filhos do irmão, que se tornaram, então, seus filhos também. Israel, José Augusto, Carmelinda, Ivete, Paulo Cesar e Sérgio cresceram saudáveis e unidos, formaram suas famílias, casaram, tiveram seus filhos e seguiram com suas vidas. Com o tempo, veio a idade. Chegara a hora dos filhos cuidarem das mães. Festas, churrascos e reuniões familiares, ou mesmo visitas ocasionais, tudo que envolvia conversar com algum de seus filhos ou netos, genros ou noras, agradava as duas senhoras que moravam juntas na casa onde os seis jovens cresceram. Ambas eram muito dóceis e fáceis de agradar. Bastava um bocadinho de prosa.

Aos 94 anos, já com problemas de saúde, Aracy faleceu em junho de 2009, dormindo.

Célia, também em idade avançada, tinha uma vontade enorme de viver. Adorava a vida! Seu melhor passatempo era ficar ao lado da família, sempre tomando o seu “mézinho”, como se referia à cerveja, e conversando. Sempre rindo, distância não era obstáculo para Célia: se queria visitar alguém, ia a pé! Mas, claro, ligava para algum parente levá-la de carro de volta para casa, afinal, ninguém é de ferro!
Uma mulher que estava aproveitando a vida da maneira mais simples e completa possível: procurando estar sempre ao lado das pessoas que ama. Essa era Célia de Oliveira Mello Cordeiro, a mais nova vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) desse país.

Em 2010, foram registrados 253 casos de latrocínio no Estado de São Paulo, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública. Uma baixa de 16,5% referente a 2009. No entanto, de quê adianta nos contentarmos com a diminuição dos casos se 253 pessoas foram mortas por causa de dinheiro assim mesmo?
Aos olhos do mundo, Célia é só mais uma estatística. Aos olhos de seus parentes e amigos, uma perda irreparável, inimaginável e extremamente inesperada. E tudo isso, por nada. Só deram falta dos documentos da senhora. Mais nada.

A vida é o bem mais valioso que temos, e também o mais frágil.

Em memória de Célia de Oliveira Mello Cordeiro, a tia Célia. Alguém que amava a vida e a família, e amou até seu último instante.

Por Paulo Gomes Netto.
Filho de Paulo Cesar
Sobrinho de Israel, José Augusto, Carmelinda, Ivete e Sérgio.
Neto de Paulo Gomes, Helena, Aracy e Célia.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...